terça-feira, 28 de abril de 2009

Faias do Castelo Despertam


Na Tapada do Castelo dos Mouros, as faias deixam-se dormir até tarde. Nos últimos dias decidiram que estavam a perder a melhor parte da primavera e, em pouco mais de uma semana, as folhas cobriram-nas. Aqui está a nossa preferida, a primeira quando se sobe pelo caminho de Santa Maria: com cara de inverno há uma dúzia de dias, rendilhada de verde há cinco, pronta para o verão hoje de manhã.



sábado, 25 de abril de 2009

O Bosque das Nuvens Mortas


A “nuvem”, para nós, é uma planta trepadeira cujo verdadeiro nome desconhecemos, por simples ignorância, por preguiça e pela satisfação com o nome privado que lhe inventámos. Chamamos-lhe assim porque, apesar de em Sintra a podermos encontrar forrando muros disciplinadamente, torna-se selvagem quando abandonada a si própria, cobrindo então tudo o que se coloca no seu caminho, subindo pelas árvores, abraçando-as e formando sobre elas massas aéreas volumosas, como nuvens.


Em vários locais abandonados de Sintra, as nuvens levantaram-se ao céu e tomaram conta de toda a vegetação existente. Um desses locais foi o Pinhal do Prior. Trata-se de uma área até há poucos meses densa e pouco acessível, do lado esquerdo do caminho que sobe da Calçada da Pena para Santa Eufémia, antes de atingida a antiga pousada de juventude. Hoje é, não por boas razões, um pequeno bosque fascinante.


Pela Monografia do Parque da Pena sabemos que, em meados do século XX, esta era uma área pouco interessante de pinheiros-bravos não muito antigos e alguns ciprestes-do-buçaco. Ao longo das últimas décadas de abandono essa vegetação envelheceu, despontaram novos plátanos-bastardos e pitósporos e a nuvem cobriu-os a todos, subindo ao topo das árvores. Hoje, poucos meses após a limpeza parcial da mata, agora sem silvas nem pitósporos, o resultado é um bosque esparso irreal, onde, sobre um chão de troncos derrubados, os restos das árvores antigas e os novos rebentos se enlaçam em novelos negros da trepadeira morta, ou são abafados pela massa das nuvens que ainda sobrevivem.


Não acreditamos que o espectáculo possa durar: não decorrerá muito tempo até uma acção mais profunda dos novos gestores do Parque. Por isso, quem quiser passar destas fotografias estranhas à realidade terá de se apressar.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Glicínias arrancadas em Seteais


Congratulamo-nos com o restauro (ainda não completamente terminado) do Palácio de Seteais – propriedade da cadeia Tivoli Hotels & Resorts. O que não compreendemos é porque é que dessa recuperação resultou o arranque das glicínias que cresciam ao longo das paredes laterais da rampa de acesso ao miradouro central.

De facto, não estando estas em nenhuma das fachadas nobres (ou, sequer, menos nobres) do palácio mas crescendo, simplesmente, em dois muros de suporte não vislumbramos qualquer razão objectiva para esta abrupta eliminação. Em vez delas, apenas calçada e paredes imaculadamente pintadas. No entanto, do lado de lá de um dos muros, surgiu uma complexa (e bem visível) maquinaria metálica – que acreditamos necessária ao funcionamento do hotel. Mas necessárias eram também as glicínias que ali existiam.


Talvez o corte das glicínias do miradouro de Seteais pareça a muitos – a começar pela direcção do hotel, os autores do projecto de restauro ou a Câmara Municipal que licenciou a obra – um pormenor sem grande significado ou importância. A verdade, porém, é que Sintra é feita destes pormenores. Mesmo quando, como aqui em Seteais, ela parece ter uma dimensão monumental, a sua grandeza é o resultado de uma sábia mistura entre arquitectura e paisagem, natureza e artifício, intenção e surpresa. Basta olhar para as fotografias que apresentamos para perceber o óbvio: o miradouro de Seteais ficou mais pobre. Como mais pobre ficou, por isso, Sintra. Tal como nós, impossibilitados doravante de ver florir as glicínias em Seteais.


domingo, 19 de abril de 2009

Uma sinfonia sintrense

Gustav Mahler (1860-1911)

É subjectivo e discutível, claro, mas achamos que há algo “sintrense” na música de Mahler. No dia 21 teremos a rara oportunidade de ouvir a Terceira Sinfonia ao vivo em Lisboa, às 21h, no Coliseu.

O início da Terceira Sinfonia chamou-se, inicialmente, O que me dizem os rochedos e as montanhas. Bruno Walter conta que quando Mahler o viu a contemplar os Alpes, num verão em Steinbach am Attersee, lhe disse que tudo aquilo tinha já ele composto na sua sinfonia. No quarto andamento, uma voz feminina grave canta um poema de Nietzsche (aqui traduzido por Paulo Osório de Castro):

Ó Homem, dá atenção!
Que diz a profunda meia-noite?
«Eu dormia, dormia...
Do sonho profundo acordei:
O mundo é profundo,
E mais profundo do que o dia julga.
Profunda é a sua dor,
O gozo, mais profundo ainda que a aflição.
A dor diz: “Passa!”
Mas todo o prazer quer eternidade,
Quer profundíssima eternidade!»

sábado, 18 de abril de 2009

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Resposta da Parques de Sintra

A Parques de Sintra - Monte da Lua, através do presidente do seu conselho de administração, António Lamas, foi célere, extensiva e muito clara na sua resposta às questões que colocámos sobre a ligação a Santa Eufémia. Aqui transcrevemos na íntegra o texto recebido, a que juntamos três das dez fotos que o acompanhavam (legenda nossa):

O caminho antigo para Santa Eufémia


A nova estrada para Santa Eufémia


O início da nova estrada para Santa Eufémia


Agradecendo a oportunidade de esclarecer a obra de recuperação do caminho de ligação entre Santa Eufémia e a Tapada do Shore, informo o seguinte:

  1. Este antigo caminho, situado entre a Tapada do Forjaz e o Parque da Pena, que foi calcetado, ligava pelo exterior do muro Sul do Parque da Pena dois dos seus portões: o de Santa Eufémia e o da Tapada do Shore junto à Pousada Azevedo Gomes, há muito entrada de serviço no Parque para quem vem de São Pedro. Esta ligação foi com o tempo perdendo interesse, pois o caminho, íngreme, degradou-se muito com enxurradas, que foram arrastando o saibro e as pedras da calçada, e tornou-se intransitável.
  2. Para conforto e segurança dos visitantes criou-se um estacionamento calcetado junto ao portão da Tapada do Shore, que passou a ser o acesso de serviço ao Parque e Palácio da Pena. Esta decisão e a recente ocupação da Pousada Azevedo Gomes pela GNR, para além do acesso ao arquivo da ex-Direcção Geral de Florestas, implicaram um aumento de tráfego de dois sentidos na estreita ligação entre a rampa de Santa Eufémia e o largo da Pousada, o qual não permite o cruzamento de veículos.
  3. Com a recuperação do caminho de ligação entre Santa Eufémia e a Tapada do Shore, o acesso ao largo da Pousada (portão de serviço da PSML, GNR e arquivo) passou a poder ser feito, em condições de segurança, pelo Alto de Santa Eufémia, com saída para a rampa de Santa Eufémia, criando-se um anel de sentido único. Não foi criado nenhum novo acesso à ermida. A sinalização de tráfego foi acordada com a GNR.
  4. A directriz adoptada foi ajustada o mais possível ao traçado existente, excepto na zona de chegada ao portão e Pousada, onde houve necessidade de aumentar o largo, recuando o muro da Pena para permitir a entrada no portão. Os muros foram recuperados utilizando a técnica tradicional (pedra de granito irregular e argamassas de cal), à semelhança do que também tem sido prática em todas as propriedades geridas pela PSML, exceptuando-se a parte de muro recuado que tem função estrutural de suporte do caminho, executada em betão armado, a bujardar.
  5. Na recuperação dos principais caminhos nos Parques da Pena e de Monserrate que a PSML vem efectuando desde 2007 (até final de 2008 foram recuperados cerca de 5km), tem sido utilizada a calçada de cubos de granito, como na Calçada da Pena. Esta era também a solução pretendida para a recuperação do caminho em causa, descrita no painel explicativo da obra, mas tal não foi possível por questões de aderência dada a sua grande inclinação. A solução encontrada seguiu a preconizada na rampa de Santa Eufémia, com a utilização de betão estriado em detrimento de alternativas em asfalto, mais agressivas do ponto de vista ambiental e estético.
  6. O largo de Santa Eufémia foi também beneficiado com reparação do pavimento em saibro. A segurança deste espaço, que era reconhecidamente “mal frequentado”, ficou também melhorada com a passagem das viaturas de serviço da PSML e, em especial, da GNR.

Para melhor ilustração da recuperação em causa junto envio imagens do antes e depois.

Com os melhores cumprimentos,


António Lamas

Presidente do Conselho de Administração

Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A.

Parque de Monserrate, 2710-405 Sintra

Tel: + 351 21 923 73 00

Fax: + 351 21 923 73 50

antonio.lamas@parquesdesintra.pt

http://www.parquesdesintra.pt

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Glicínias



Entre o final do Inverno e o princípio da Primavera, as glicínias irrompem em Sintra cobrindo muros e paredes, colunas e árvores, em jardins privados e nos caminhos e espaços públicos. A sua beleza intensa e efémera tem qualquer coisa de perturbante, tal como o seu aroma doce e intenso de inebriante. E ao fim da tarde, com o aproximar do crepúsculo, nos dias quentes de Primavera, elas participam desse fenómeno que, anualmente, transtorna a atmosfera de Sintra: um envolvente cheiro a flores.

Sintra, Quinta dos Lagos

Sintra, Quinta Verde

Sintra, Vila Roma

Sair de casa para ir ver florir as glicínias (a Seteais, antes das obras, por exemplo), eis um dos espectáculos mais recompensadores.

Sintra, Palácio de Seteais (2007)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Nova estrada para Santa Eufémia e uma estranha placa


Existe desde há poucas semanas uma nova estrada para Santa Eufémia. São cerca de 100 metros ligando ao terreiro da ermida o núcleo de edifícios semi-abandonados, pouco mais que centenários, que em tempos recentes foram pousada de juventude e actualmente albergam a GNR. A estrada substitui um caminho pedonal – bastante selvagem, desde que nos recordamos dele – ainda assinalado por placas indicando a direcção de Santa Eufémia.

A nova estrada para Santa Eufémia, em Janeiro e em Abril


A nova via implicou o corte de alguns metros quadrados do perímetro da tapada da Pena, cujo muro foi derrubado e reconstruído um pouco recuado. Parte dele é agora muro de suporte em betão. Trata-se, como se pode ver nas fotografias, de um perfil estreito, com valetas em cubos de granito e pavimento em betão. Os automóveis circulam em sentido único, descendo esta nova estrada e continuando pela antiga até à estrada de Santa Eufémia.


O estranho aqui é a placa informativa que identifica a obra e o seu financiador, o Programa Ambiente da UE. A placa salienta, a vermelho, o traçado do antigo caminho (e não o da nova estrada), descrevendo a obra como sendo a “recuperação do caminho de ligação”, a pavimentar “em calçada de cubos de granito”, o que não corresponde obviamente à obra executada.

Não temos a certeza de ser preferível, ou mais justificável, ter a recuperação do antigo caminho em cubos ou a nova estrada em betão, mas vamos questionar a
Parques de Sintra sobre este assunto e voltaremos à questão.

sábado, 11 de abril de 2009

Mais "podas"

Dois pares de imagens para reforço da última mensagem, a primeira de cada par extraída do livemaps, a segunda tirada há poucos dias. O primeiro par em espaço público, no adro da Igreja de Santa Maria, o segundo em espaço privado, perto do Largo do Morais, no início da rua D. João de Castro:

Plátanos frondosos no adro da igreja de Santa Maria...

...cotos desgraçados de plátanos no adro da Igreja de Santa Maria.



Choupo vistoso numa casa particular perto do Largo do Morais...

...restos miseráveis de choupo na casa particular perto do Largo do Morais.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A amputação anual de árvores

Sintra, Igreja de Santa Maria

Todos os anos, entre o final do Inverno e o início da Primavera, nas ruas das nossas aldeias, vilas e cidades, funcionários municipais ou empresas privadas pagas com dinheiros públicos – como aconteceu este ano em Sintra – procedem à amputação das árvores. Muitos cidadãos fazem o mesmo nas suas propriedades. A isto chamam "poda", embora o processo não envolva árvores de fruto, nem seja necessário ao seu natural desenvolvimento. Muito pelo contrário.

Sintra, Igreja de Santa Maria

Qual a justificação científica, a ponderosa necessidade pública ou a superior razão estética? Não sabemos. Ano após ano, ficamos à espera que as entidades públicas responsáveis por estas campanhas se dignem a justificar a sua acção. Um dos argumentos mais populares – qual verdade cientificamente comprovada – é o das alergias que as nefandas árvores (não a poluição) provocam nos humanos. O problema é que, em rigor, a esmagadora maioria dos referidos humanos não faz a mais pequena ideia do porquê das suas alergias. Simplesmente, acha que… e, pelos vistos, câmaras municipais e juntas de freguesia também acham que… Curioso é que este é um problema de saúde pública intrinsecamente português. Noutras cidades europeias, por exemplo, tais rituais anuais são desconhecidos. O que nos conduz à hipótese dos portugueses, num alarmante défice de adaptação ao meio ambiente, nunca se terem habituado a conviver com árvores.

Sintra, bairro da Portela de Sintra

No caso de Sintra, mas não só, a proximidade da grande mancha florestal da serra e a existência de um fenómeno atmosférico chamado vento, torna ainda mais patética esta crença na resolução do pressuposto problema pelo corte das árvores que se encontram à porta de casa das vítimas. Totalmente compreensiva com a situação, partilhando mesmo da comum ignorância, os serviços da Câmara Municipal chegam ao ponto de o fazer sob pedido: basta observar como, numa mesma rua, certas árvores frente a certos edifícios são objecto destes cortes enquanto outras, mais à frente ou atrás, permanecem incólumes – por agora. Acima de tudo, estes massivos e dispendiosos processos de amputação – dos quais as principais vítimas são, por norma, os plátanos – enraízam na nossa frágil cultura cívica, científica e ambiental e, por isso mesmo, são um outro espelho de nós próprios. Saídos recentemente da ruralidade e ainda mal instalados na nossa recente urbanidade, não gostamos de árvores ou, pelo menos, apenas as toleramos desde que anualmente reduzidas a cotos ou, na melhor das hipóteses, a meia dúzia de ramos decepados.

Sintra, centro da Vila

O resultado não é apenas estético ou funcional: árvores que não se parecem com árvores mas com arbustos; árvores deformadas e raquíticas; árvores que não dão sombra sequer. É sanitário e cívico: árvores sujeitas a um processo de contínuo enfraquecimento, muito mais vulneráveis a doenças e que, por isso mesmo, morrem precocemente. Nessa altura, dando o pretexto para a única medida possível que deixa a consciência de todos sossegada: abater e, de preferência, não replantar. Afinal talvez seja esta a verdadeira razão pela qual, em Portugal, as árvores são anualmente sujeitas a isto. O que nos faz voltar à afirmação já feita: não gostamos de árvores e porque não gostamos de árvores preferimos passeios, ruas, avenidas, bairros e cidades totalmente despojadas delas. Com a vantagem de podermos estacionar os nossos automóveis nos lugares que elas antes ocupavam. Sonhamos, por isso, com um país atapetado de cimento.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Uma floresta de tabuletas


Em plena floresta de Sintra uma outra espécie de floresta cresceu de forma selvagem em pleno cruzamento da Estrada da Pena com a Estrada dos Capuchos: placas, sinais, anúncios e avisos, num nunca mais acabar de informações, advertências e proibições.

O número absurdo de tabuletas, de todas as cores e feitios, aqui colocadas denota mais do que uma boa intenção: no seu frenesim informativo, diferentes entidades públicas, pouco dadas a cooperação, planeamento e bom senso, violaram todas as regras básicas da comunicação visual, da correcta gestão do espaço público e do respeito pelos valores estéticos do contexto.

Se não fosse grave e lamentável seria pedagógico: um excelente exemplo daquilo que não deve ser feito quando, numa desenfreada atitude paternalista para com transeuntes e automobilistas, se acredita que, só por si, muita informação é igual a melhor informação e, em última instância, maior conhecimento. Na verdade, o resultado é mera confusão e bastante poluição visual e, neste caso, parece não haver classificação de paisagem protegida que valha ao belo – e outrora misterioso – cruzamento da Estrada da Pena com a Estrada dos Capuchos.

domingo, 5 de abril de 2009

A auto-estrada dos Capuchos


Em Janeiro deste ano, a polémica em torno do corte de árvores nas tapadas e ao longo das estradas da serra deu origem a um conjunto de notícias no Público. Assim, no dia 23 soube-se que «Corte de árvores na serra de Sintra suscita dúvidas técnicas – Associação de Defesa do Património de Sintra vai questionar o ministro do Ambiente sobre exagero da intervenção em área protegida». No dia 24, «Corte de árvores na serra de Sintra sem “desconformidades”, diz ICNB». No dia 25, «Associação de Defesa do Património de Sintra quer que o parque natural volte a ter gestão própria» e, por fim, no dia 28, um ponto final majestático: «Ministro do Ambiente elogiou corte de árvores “infestantes” na serra de Sintra».

Em torno da estrada dos Capuchos, ao longo da tapada da Pena, o espectáculo não podia ser mais brutal. De caminho encerrado em vegetação madura e densa passou-se para algo como uma plataforma preparatória para a construção de uma auto-estrada. À faixa de dezenas de metros arrasados junta-se a espécie de estepe em que foi transformada a Tapada do Mouco, próxima do arco que a liga à Pena. Qual é o objectivo da destruição e qual vai ser o futuro destes terrenos devastados?

Uma coisa é controlar o crescimento de espécies que põem em risco a diversidade e a riqueza dos parques florestais, repovoando-os com os exemplares que têm soçobrado ao longo das últimas décadas de abandono. Um tal propósito traria algum consolo à destruição da paisagem a que se está a assistir. Mas não há plano de reflorestação conhecido e as entidades responsáveis por este processo mantém-se olimpicamente omissas nos seus meios de divulgação disponíveis. E, ainda que tudo se trate de uma mera falha de divulgação da acção da Parques de Sintra, sabemos que, a existir tal plano, a sua execução implicará um trabalho exigente e persistente. A recuperação do Palácio de Monserrate ou do Chalet da Condessa, apesar de tudo, implicam processos mais limitados no tempo e os seus resultados podem ser rapidamente visíveis. Mas, sem dedicação competente e continuada de muitos anos, os descampados que resultaram desta violência destrutiva não serão mais que matagal reminiscente das épocas áridas anteriores a D Fernando II.



As declarações nas notícias do Público não sossegam ninguém. O ICNB – Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, sócio maioritário da Parques de Sintra – declara que os objectivos são baixar o risco de incêndio e resolver problemas de segurança para quem passa na estrada, e que nas faixas destruídas serão plantadas espécies de porte arbustivo.

A declaração é alarmante! Bem sabemos que se não existir vegetação na serra, não haverá fogos. Mas não vamos por isso defender que se arrase e cimente a serra. Nem mesmo que se trate o coração da paisagem protegida, um conjunto histórico de parques únicos, como uma floresta de produção cruzada por aceiros. E quanto à segurança de quem passa na estrada, o argumento é simplesmente patético. A floresta é um corpo vivo, folhas e ramagens caem em estradas florestais, está na sua natureza. Ninguém espera realmente encontrar, a caminho do Convento dos Capuchos, as condições de circulação automóvel do IC19. Por fim, os “portes arbustivos” que o ICNB planeia para a serra fazem temer que a aspiração da entidade pública a quem se confia esta nossa paisagem protegida seja a “pudibunda nudez” da descrição amarga de Alexandre Herculano.


Uma nota final: sabemos que há um plano em conclusão para as tapadas e queremos crer que os seus objectivos não são ridículos nem criminosos. Mas nem os seus autores são deidades iluminadas, nem os cidadãos que se interessam por Sintra são ruminantes passivos e amorfos. Há que discutir publicamente as acções que a Parques de Sintra tem em preparação.