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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Em Busca das Aveleiras Perdidas (II)


A consulta da Carta Cadastral (seleccionar a secção V) mostrou-nos claramente que o muro Tapada dos Bichos seguia colado à Capela de Santo António e que não se entrava nessa quinta sem querer. Assim, numa segunda jornada, repetimos o mergulho no coração das trevas e passámos ao largo Capela e da porta meio arruinada, também ela descrita na Monografia, que convida a atravessar a propriedade vizinha e a chegar num pulo à Estrada da Pena.

A subida ao longo do limite poente da Tapada é bastante mais árdua e desolada: faz-se sobre silvas, resvalando nos detritos traiçoeiros deixados pelo desbaste. Os cortes foram aqui radicais e a mancha desarborizada é muito extensa. Compensando a aridez deste esforço, têm-se magníficos panoramas sobre o Castelo e a Pena. Olhando para o chão, no entanto, vêm-se exércitos bebés de Acacia melanoxylon anunciando um futuro sombrio.


domingo, 16 de agosto de 2009

A Invenção de Sintra (II)


A invenção de Sintra que testemunhamos em Cinco Artistas em Sintra não foi nem repentina nem, para João Cristino da Silva, trabalho de uma só obra. Ao longo das suas últimas duas décadas de vida, o artista pintou a Serra e a Pena inúmeras vezes, tornando Sintra o seu motivo favorito e, desse modo, pela primeira vez, um tema privilegiado da pintura.

João Cristino da Silva (1829-1877). Paisagem, c.1876. Óleo sobre tela, 46 x 34 cm. Sintra, Palácio Nacional da Pena.

A maioria dessas obras encontra-se em colecções privadas. Algumas em colecções públicas. É o caso da Paisagem que representa o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros e os rochedos e penhascos da Serra e que terá sido a sua última pintura antes do mergulho definitivo na loucura que, em 1877, o conduzirá à morte. Adquirida por D. Fernando, encontra-se ainda hoje na posse do Palácio Nacional da Pena.

João Cristino da Silva (1829-1877). Serra de Sintra, c.1855-57.
Óleo sobre tela, 32,5 x 45 cm. Sintra, ex-Museu Regional de Sintra.


João Cristino da Silva (1829-1877). Estrada da Pena, c.1855-57.
Óleo sobre tela, 36 x 49 cm. Sintra, ex-Museu Regional de Sintra.

Públicas são também duas outras pequenas obras datáveis do período de Cinco Artistas em Sintra e que pertencem à Câmara Municipal de Sintra, tendo integrado o espólio do Museu Regional de Sintra. Acontece que este museu foi recentemente extinto e a sua colecção que, tanto quanto nos lembramos, integra ainda obras de Alfredo Keil (1850-1907), António Carneiro (1872-1930) e Mily Possoz (1888-1967), para dar apenas três exemplos, está guardada – não sabemos onde nem em que condições – longe do olhar do público. À invisibilidade ideológica das obras do Museu do Chiado junta-se, assim, a invisibilidade incompreensível das do ex-museu sintrense. A invenção pictórica de Sintra é hoje, sobretudo, um acontecimento para desfrute privado ou simplesmente virtual.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Vista de uma só vez


A partir da área cortada, junto à Estada da Pena, poucos metros antes do cruzamento para os Capuchos, vê-se agora a Vila e o Castelo de uma só vez. O corte abominamos, a vista é bem-vinda, o tom rosado é do fim do dia.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sem motivo


Pelo menos, sem outro motivo que não seja mostrar o encoberto Castelo dos Mouros, visto a partir de uma clareira recente da Tapada dos Bichos, num dos nossos típicos fins de tarde de verão.

sábado, 30 de maio de 2009

Parques de Sintra e participação pública: a propósito de outra mancha desarborizada

Vista do Castelo



Vista da Estrada da Pena

Vê-se bem do Castelo dos Mouros a mancha desarborizada de que aqui demos conta há umas semanas. Trata-se do derrube de muros e do corte de árvores na Tapada dos Bichos, do lado esquerdo de quem sobe a Estrada da Pena, próximo do cruzamento dos Capuchos, um dos troços que se contavam entre os mais frondosos deste caminho. Ao nosso pedido de informação, recebemos esta resposta da Parques de Sintra, subscrita pelo presidente do seu Conselho de Administração, António Lamas:

«Quanto às aberturas praticadas no muro da Tapada dos Bichos que referem, esclareço que foram necessárias para a remoção das ramadas e troncos das árvores resultantes das limpezas efectuadas nesta zona. Após conclusão dos trabalhos estas serão de novo fechadas, mas uma será, provavelmente, transformada em portão, de modo a proporcionar um caminho pedonal através da Tapada até ao parque de estacionamento dos Lagos. Esta iniciativa faz parte do alargamento da rede de caminhos pedonais que, partindo da Vila, permitam alternativas ao uso da Calçada da Pena.»

Apreciamos este aparentemente simples facto: recebermos respostas rápidas às nossas interrogações, distante da cultura autista da nossa administração pública. Mas gostávamos ainda mais de não sermos sobressaltados a cada passo por mais um acto consumado: mais motosserras em frenesi em mais uma encosta e mais uma mancha florestal “limpa”. Vai ser substituída? Por um estacionamento? Por uma estrada? Por um parque de diversões? Por um condomínio residencial? Por carvalhos, faias e castanheiros? Quando, como, porquê e mais todas a perguntas que interessam a quem se interessa?

Aqui chegamos ao grande pecado da Parques de Sintra, gestora deste nosso património. Se há um plano que guia as suas acções, ele já deveria ter sido tornado público, já deveria ter sido sujeito a discussão e já deveria ter sido – necessariamente – ajustado em resultado dessa discussão antes de tomadas decisões finais. Aqui, a Parques de Sintra assemelha-se mais à velha administração pública (ou a uma empresa de interesse privado). Não acreditamos em entidades infalíveis e benignas, nem nos bons povos dóceis e agradecidos. Estamos convencidos de que os resultados do trabalho da Parques de Sintra seriam melhores e mais reconhecidos se se fundassem em participação pública séria, e cabia à Parques de Sintra a obrigação de a dinamizar – afinal, o que se está a passar nesta Serra, com os milhões anuais que agora aqui se derramam, pode bem ser o mais intensivo e radical conjunto de transformações desde os tempos fundadores de D. Fernando II.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Acácia heróica


Os tempos não estão bons para as acácias de Sintra. Foram pioneiras nos tempos da florestação de há século e meio e de tal modo se apaixonaram pela Serra que, se hoje fossem todas dizimadas, metade desta nossa floresta voltaria à sua antiga nudez. Ávidas como são, gostam pouco de partilhar estas encostas húmidas com espécies mais tímidas e aventuram-se nos lugares mais extremos. O seu egocentrismo ameaça-nos, mas sempre simpatizámos com alguns dos seus exemplares mais majestosos, e agora que as vastas áreas cortadas nas Tapadas são invariáveis cemitérios de acácias, essa simpatia tornou-se mais fácil.

A árvore que mais próxima sobrevive do pico do Castelo dos Mouros é uma acácia heróica. No fim do caminho que sobe à torre mais alta, foi retorcida pela ventania ao ponto de ter deixado de se parecer com as da sua espécie. Gasta, altiva, acima dos carvalhos e dos ciprestes que se encolhem mais abaixo, mede forças com o Palácio da Pena e triunfa.