Mostrar mensagens com a etiqueta Parque da Pena. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Parque da Pena. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Globo Avistado


Globo avistado à deriva sob a ponte de pedra da Feteira da Rainha, no Parque da Pena.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Faia para Contagem



A contagem das etiquetas deste blogue mostra-nos que as faias - sérias candidatas ao título "A Nossa Árvore Favorita - não estão suficientemente representadas. Por isso aqui estão duas imagens de sob a Fagus sylvatica que avermelha a sombra ao lado da Fonte dos Passarinhos (e agora já temos cinco etiquetas "Árvores - Faias"!).

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Faia sobre Cisne




A melhor das sombras que cai sobre o lago superior do Parque da Pena é a desta faia. O cisne residente aproximou-se com interesse do vulto que o espreitava debaixo da folhagem mas, à falta de tributo apetitoso, virou as costas. A admiração só por si aborrece-o.

sábado, 3 de julho de 2010

A Pena no Verão (IIII)


Quanto à descida da Cruz Alta: quem não conheça o Parque da Pena e seja tão distraído que nem sequer repare nos mapas que distribuem à entrada corre o risco de perder o caminho discreto que desce para poente. Estes são os seus marcos principais: Pouco abaixo do topo, uma mancha mais fragosa cheia de sombra e chão calcetado de musgo e raízes, que conduz a um dos miradouros selvagens do parque. Mais abaixo, um pórtico de penedos que separa a parte escarpada do caminho da sua parte mais suave.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Pena no Verão (III)




Eis então a reportagem da subida à Cruz Alta pela estrada comum (que foi recentemente desalcatroada e calcetada com cubos de granito – desculpem-nos se deixamos das imagens da calçada em si para outro dia). Os momentos perfeitos estão a meio do caminho, entre a névoa cerrada e o céu aberto, nos locais em que o nevoeiro cede ao sol.



terça-feira, 29 de junho de 2010

A Pena no Verão (II)


Sintra e Pena envoltas em nevoeiro são um tema tão fascinante que podíamos passar o resto da vida deste blogue à volta das suas imagens. Desde as manhãs mágicas de há um ano que esperávamos o momento em que pudéssemos assistir na Cruz Alta a uma manhã de serra isolada no meio das nuvens. Os últimos dias – e o de hoje até esta hora incluído – têm sido de nevoeiro persistente. Ontem enchemo-nos de tal maneira de fotografias de subidas, picos e descidas pela névoa, que algumas delas terão de acabar aqui.

Temos também o testemunho destes muito toscos 41 segundos panorâmicos sobre o mar branco, desde o Guincho para norte, pelo Palácio da Pena diluído, até Mafra:

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Magia da Noite de São João


Não, este título não anuncia um texto romântico-místico. É mesmo de magia-bruxaria que se trata. E se esperámos que passassem vinte e quatro horas sobre a noite de São João foi para que a receita que aqui vamos deixar não fosse precipitadamente utilizada por algum jovem inconsciente. Assim se poderá ponderar durante as próximas trezentas e sessenta e quatro noites e decidir com responsabilidade o que fazer na próxima noite de São João.

O facto de um de nós ter cultivado fantasias ocultistas durante a pré-adolescência justifica o caso. Entusiasmado com a oferta de um pequeno “Dicionário de Magia” de capa dourada (um livro há muito tempo perdido), fixou-se na magia que era descrita numa das suas entradas – teria sido talvez na letra S, em “São João”, ou talvez na letra F, em “Fetos”. A receita era esta: aquele que se cobrir de fetos na noite de São João ganhará o dom da invisibilidade.

Muito simples, mas um tanto vago, não? Cobrir-se durante quanto tempo? E como, exactamente, e durante quanto tempo, se adquiria a invisibilidade? Havia algum antídoto para regressar ao estado visível, ou a coisa aconteceria naturalmente por si? Um familiar céptico e brutal garantiu, na altura, que não havia magia nenhuma no caso: quem quer que se cobrisse, de fetos ou do que quer que fosse, na noite de São João ou em qualquer outra noite, ficaria obviamente invisível (enquanto se mantivesse coberto).

Fosse como fosse, a possibilidade da invisibilidade parecia demasiado fascinante aos doze anos e, nos anos que se seguiram, todos os ajuntamentos de fetos passaram a ser olhados com cobiça e a sua localização registada, para que na noite de São João seguinte o feitiço se fizesse. Infelizmente, fosse pela distância aos fetais, fosse por esquecimento ou fosse, por fim, por desinteresse, nunca foi possível comprovar a extraordinária receita.

E eis que no ano de 2010, no Parque da Pena, naquela encosta sem qualquer graça junto ao mais alto lago dos “Lagos”, reparámos na grande floresta de fetos que aí cresceu, pronta a servir a magia de São João. Este ano, mais uma vez, escapou-nos a noite. Mas quem sabe se dentro de um ano menos um dia não andaremos por aí sem que ninguém nos veja. Pena que a pré-adolescência tenha passado (parece-nos) e que a ideia não seja agora tão fascinante assim.


sábado, 3 de abril de 2010

Mais Magnólias em Festa


Esta Primavera atrasada está a permitir-nos gozar as magnólias da Pena até mais tarde. Os exemplares que ameaçaram o Inverno já perderam as suas flores mas, se se correr ao Parque, ainda se vai a tempo de encontrar algumas copas em festa.

Um Pouco Mais de “Eucalyptus obliqua”

Um apontamento sobre o Eucalyptus obliqua da Pena: quis o acaso que no próprio dia da publicação da nossa mensagem sobre este assunto, na qual perguntávamos qual seria o destino da árvore caída, a Parques de Sintra publicasse esta notícia, afirmando que iria “estudar, após uma avaliação das causas da queda e da real idade da árvore, qual o melhor aproveitamento a dar ao tronco caído por forma a reforçar o significado do local.”

Agora, o Público divulga as intenções da Parques de Sintra, de acordo com voz de Nuno Oliveira: a árvore será analisada, para comprovar que se trata do exemplar plantado por D. Fernando II e pela Condessa d’Edla; foram recolhidas sementes para que se possa plantar um novo exemplar; a madeira será seca para utilização em projectos da empresa (esta última notícia apenas encontrámos na edição em papel).

Aplausos fortes para a recolha de sementes e plantação de novo exemplar. Aplausos condicionais para a utilização da madeira – falta-nos saber que tipo de projectos beneficiarão de um material tão carregado de história. Interrogação para a necessidade da comprovar a identidade deste eucalipto – pensávamos que era uma assunto que não levantava dúvidas. Quer isto dizer que o Eucalyptus obliqua de D. Fernando II e da Condessa d’Edla pode não ser este?

segunda-feira, 22 de março de 2010

Obituário





Eucalyptus obliqua, plantado no dia do casamento de D. Fernando II com a Condessa d’Edla, a 10 de Junho de 1869, caído num dia incerto do Inverno de 2010, poucos meses antes de completar 141 anos.

Cresceu sobre a linha de água da Feteira da Condessa, resistiu ao ciclone de 1941 e, na década seguinte, com 85 anos, atingiu os 2 metros de diâmetro e os 40 de altura. Viveu num canto remoto onde não atraía atenções. Ainda assim, há sete anos, foi homenageado com uma placa que recordou a sua origem notável.

Eram necessárias cinco pessoas para abraçar o seu tronco, o mais grosso de todos os troncos da Pena. Ao tombar, devastou todo o pedaço de parque que se estendia no seu caminho, até os seus ramos mais altos tocarem as estufas arruinadas. Jaz atravessado de poente para nascente – o sentido para onde caiu. Enquanto o seu corpo colossal aí permanece, merece ser visitado uma última vez.

Agora, pode-se perguntar à Parques de Sintra qual o destino a dar ao monumento caído e o que fazer deste lugar. Porque não preservar uma secção do grande eucalipto no Chalet da Condessa? E porque não plantar um novo Eucalyptus obliqua no sítio exacto do antigo, esperando que viva, pelo menos, até ao meio do século que vem?

(notícias sobre este assunto no Fluir de Espumas, no Rio das Maçãs e no Beijo da Terra)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vistas da Época

Algumas vistas da Pena apenas são possíveis no Inverno. Quando as árvores adormecidas voltam a acordar, cerram-se os tectos dos caminhos e o palácio volta a desaparecer atrás das copas. Por isso, não nos sobram muitos dias para as apreciar. Aqui está a Pena a partir do poente, logo após a estrada alcatroada da Pena se tornar calçada, atrás de um bosque quase a despertar:


Aqui, a Pena vista do norte, da encosta do Castelo dos Mouros, enquanto os plátanos não abrem os olhos:


E aqui uma vista nascente, de quem sobe ao Pinhal do Prior, a meio caminho entre a Calçada da Pena e Santa Eufémia. É uma vista que não depende realmente da estação do ano, mas completa as outras duas; foi descoberta após os cortes recentes da mata e revelou um palácio entre os tufos de trepadeiras, empoleiradas no alto dos pinheiros:

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Magnólia Ameaça Inverno



O Árvores de Portugal está deliciado com a floração das magnólias e obrigou-nos a viajar às nossas magnólias, as do Parque da Pena. Não é que as suas flores começaram a juntar-se às camélias, inchando o peito para amedrontar estes dias frios e nevoentos que o Carnaval tem largado na Serra?

Será que podemos chamar «Terreiro das Magnólias» ao lugar onde vivem? A Monografia chama-lhe «Curro», que é um nome muito pouco inspirador. Já a descrição das magnólias (nas páginas 290 e 291) é um gosto: fica-se a saber que eram dez, plantadas em 1918, mas que em 1960 não deslumbravam o autor. Pela nossa parte, é um dos locais maravilhosos do parque entre o fim do Inverno e os primeiros dias de Primavera. Os seus nomes, como, em certas histórias, os nomes daquelas princesas exóticas apresentadas em bailes especiais por mães ansiosas a príncipes neurasténicos que estão na idade de casar, são um prazer só por si e merecem ser desenrolados, de norte para sul (exactamente como foram impressos na Monografia, que não temos competência para os corrigir):

Primeira magnólia:
Magnolia grandiflora

Segunda magnólia:
Magnolia Soulangeana
(ou um híbrido Magnolia conspicua X Magnolia purpurea?)

Terceira magnólia:
Magnolia Verbenica

Quarta magnólia:
Magnolia Lennei
(ou uma variante de Magnolia Soulangeana?)

Quinta magnólia:
Magnolia Soulangeana, var. rustica florepleno
(lamentavelmente falecida no Inverno de 1957!)

Sexta magnólia:
Magnolia Yulan (ou denudata, ou conspicua)

Sétima magnólia:
Magnolia tripetala

Oitava magnólia:
Uma magnólia incógnita, talvez por erro de impressão

Nona magnólia:
Magnolia Soulangeana, var. Brozzoni

Décima magnólia:
Magnolia gracilis Kobus

A que corre adiantada, posando para a fotografia, é a sexta magnólia, identificada no local como Magnolia denudata. Provavelmente, a magnólia que será escolhida pelo príncipe neurasténico. Está, no entanto, a ser seguida de perto por uma Soulangeana, pelo que o desfecho ainda não é previsível. Enfim, acontecimentos empolgantes a seguir com atenção ao longo das próximas semanas.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Camélias de Sintra


As camélias não são de Sintra. Vindas do Oriente e, daí, frequentemente conhecidas por japoneiras, pertencentes a uma grande família que inclui a planta do chá, foram introduzidas por D. Fernando no Parque da Pena. Como tantos outros forasteiros, aqui chegadas adaptaram-se, adoptaram Sintra e foram por esta adoptadas. Pertencem, portanto, a um dos tipos mais comuns e genuínos de sintrense: o adoptivo. Por isso, as camélias são de Sintra.


É isto que a Saboaria e Perfumaria Confiança sabe desde 1930 e, em 2008, resolveu relembrar a todos através de uma reedição exclusiva para A Vida Portuguesa. Podia este sabonete chamar-se, por exemplo, Camélias do Porto? Podia. Talvez até, pelo seu elevado número nesta cidade, com maior propriedade. Mas há qualquer coisa em Sintra que torna mais suas estas e outras flores: a própria Sintra. E agora que as suas camélias iniciam o renascimento anual podemos, finalmente, começar a vislumbrar, por entre os caminhos onde florescem e murcham, a doce, aromática e colorida Primavera que aí vem.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Uma Nova Velha Casa nos Lagos




Já sabemos que as acções mais unânimes da Parques de Sintra – Monte da Lua são as recuperações do património edificado. O Palácio de Monserrate e o Chalet da Condessa, em avançado resgate da sua ruína, são os exemplos mais vistosos, mas o trabalho também é apreciável nos edifícios menores espalhados pelos parques e tapadas. Já aqui tínhamos gabado a nova Casa da Lapa, hoje chegou a altura de mostrar as novas faces coradas de outra casa abandonada que estava em obras desde Abril.

Na casa da Entrada dos Lagos, tudo reluz como acabado de construir: o rosa das paredes, o encarnado dos telhados, o branco dos socos e dos beirados; os candeeiros do portão parecem ser mesmo novos, isto é, não nos lembramos (mas a nossa memória tem apenas duas décadas ou pouco mais) de alguma vez terem existido ali. O novo anexo escuro nas traseiras, que à partida poderia levantar mais reservas, não está mal para o nosso gosto, embora ainda não saibamos para que vai servir – aliás, para que vai servir exactamente todo este conjunto. Substituirá a actual entrada uns metros abaixo? O desaparecimento da obstrutora barraca de madeira onde se vendem bilhetes seria muito bem vindo.

O que menos nos agrada é um detalhe, mas um detalhe que grita aos ouvidos: aquelas duas bandeiras espetadas. Parecem-nos parte de uma compulsão para poluir a vista com acenos, reparos e chamadas de atenção, um fruto amargo da nossa época tão visualmente ruidosa. Ficamos a aguardar que os mastros enferrujem e caiam. Aliás, apesar de tudo reluzir como acabado de construir, daqui a alguns invernos, se tudo tiver corrido conforme previsto, tudo estará mais bem aconchegado ao seu lugar, ganhando sombras de musgo, mossas e manchas de idade.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Despojos de Natal




Os temporais desta quadra têm deixado o seu rasto por Sintra. Uma carpa madura foi empurrada do Parque da Pena e tropeçou no muro da Calçada, rasgando na sua queda as folhagens de uma sequóia. Ramos de cipreste foram arrancados ao tronco a que pertenciam e sangram no chão da Tapada do Castelo. Não muito longe, um pedaço farinhento de árvore incógnita, carregado de fetos, jaz destroçado no meio do caminho. Obstáculos, passagens bloqueadas, ruínas vegetais, pedras caídas, agua correndo e vento soprando, assim se tem celebrado a quadra no lado oriental da Serra.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A Parques de Sintra e a complexa tarefa de vender bilhetes


A Parques de Sintra – apesar de se fazer pagar principescamente pela gestão dos parques públicos e de recorrer a modernos sistemas informáticos para a emissão de bilhetes – obriga os que queiram visitar o Parque da Pena entrando pelo Portão dos Lagos a, simplesmente, subir cerca de 1 Km até à bilheteira do portão principal da Pena. Isto porque um estranho capricho informático (ou será de gestão?) impossibilita a venda do respectivo bilhete na bilheteira do Castelo dos Mouros – consideravelmente mais próxima da referida entrada – e porque, na época baixa, a bilheteira do Portão dos Lagos se encontra encerrada. Se a isto juntarmos o facto do posto de venda da entrada principal do Parque da Pena apenas ter um(a) funcionário(a) de serviço e, consequentemente, ao fim-de-semana, dezenas de metros de fila de espera, constatamos que, apesar dos discursos de boas intenções, há um profundo desrespeito por aqueles em nome de quem esta empresa exerce a sua actividade.

Ou será pedir muito que as várias bilheteiras geridas pela mesma empresa e ligadas pelo mesmo sistema informático possam vender bilhetes de entrada para qualquer um dos parques? Caso seja, sugerimos uma solução revolucionária: a adopção de bilhetes impressos tipograficamente. Seria até uma bonita homenagem ao antiquado Gutenberg!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Capitão Ahab, precisa-se



Duas horrendas baleias brancas estão a assombrar a Serra de Sintra: uma anda pelo jardim do portão principal da Pena, levantando a sua bossa acima do muro e desfigurando a paz das manhãs de Outono. Outra invadiu um outrora tranquilo terreiro junto do Castelo dos Mouros, quebrando o encanto dos caminhos e amedrontando os passantes desprevenidos. Suspeita-se que estes monstros pretendem, com a crueldade que lhes é própria, apoiar visitantes que necessitem refresco ou entretenimento - porque há quem entenda que os Parques não entretêm o suficiente e que os visitantes são excessivamente irrequietos e concentram-se com dificuldade.

Na verdade, estas baleias evocadoras de tendas de copo-d´água poluem as belas visões da Serra e arreliam sem necessidade os amantes de Sintra: «tudo o que enlouquece e que atormenta, tudo o que agita o fundo turvo das coisas, toda a verdade contendo uma dose de malícia, tudo o que desorganiza os nervos e confunde o cérebro, tudo o que existe de demoníaco na vida e no pensamento, todo o mal em suma» (Herman Melville, Moby Dick, trad. Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves, Relógio d´Água 2005, p.219).

Aqui fica por isso um apelo desesperado: não era tão bom que um perseguidor de baleias tão furioso como o Capitão Ahab, mas mais bem sucedido do que o da história terrível, arpoasse impiedosamente estas Moby Dick e restituísse a serenidade a estes lugares?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os Pinhões Cerimoniais e as outras Búnias de Sintra


Eis os afamados pinhões da búnia-búnia, que finalmente pudemos tocar, cheirar e cerimoniosamente comer. Sim, esses pinhões aparatosos da fotografia já não existem, circulam neste preciso momento nos nossos caminhos interiores. Primeiro foi necessário abri-los, pois o seu exterior é duro como o dos os verdadeiros pinhões do pinheiro. Depois, pensámos que à primeira dentada seriamos logo transportados aos confins da Austrália, mas a verdade é que ficámos a meio caminho, algo decepcionados com a consistência aglomerosa, a aspereza na língua e o sabor indiferente. Até decidirmos torrá-los levemente numa frigideira seca, o que logo nos fez aterrar confortados na floresta húmida de Queensland – é isso que decerto fazem ou faziam os devotos aborígenes: o pinhão tornou-se estaladiço e o sabor abriu.

Para a colheita dos pinhões tivemos de fazer alguma batota: as búnias-búnias que os ofereceram não foram as de Sintra, mas sim a do Jardim Botânico de Lisboa, que os tinha espalhados, caídos à sua volta. Antes, já tínhamos investigado as outras búnias que existem em Sintra: na do Parque da Liberdade, cuja existência nos foi devidamente recordada em comentário anterior, não encontrámos pinhas nem pinhões, provavelmente devorados pelas exóticas feras predadoras que por lá rondam.


Quanto à búnia-búnia do Parque da Pena (também sem pinhas que se vissem) tem a sedução de uma árvore rara e magnífica mas esquecida, deixada selvagem no jardim abandonado em frente da Abegoaria arruinada. É uma resistente do ciclone de 1941 e, à força de permanecer longe dos caminhos frequentados, tem um ar de formosura desleixada, como aquelas criaturas muito belas que se tornam duplamente encantadoras por darem muito pouca atenção a si próprias.




segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"e eu disse que aqui poria um ser"


A propósito das Primeiras Jornadas Llansolianas de Sintra, que decorreram este fim-de-semana, uma imagem do jardim na entrada do Parque de Pena e um excerto da Causa Amante (Capítulo I – Movimento):

«1 – este é o jardim que o pensamento permite; mas, quando aqui cheguei já havia folhas de pereira curvadas sobre outras folhas e dom arbusto aparecia na proa do fio como uma embarcação branca
esta forma de terra foi cortada num arco
e uma rede intrincada cobre o chão por onde passeio, pensando,
desde o ponto em que sou dom arbusto;
é um jardim,
começou por ser este jardim a ideia de asa triangular, terra coberta das mesmas espécies,
ervas,
e eu disse que aqui poria um ser,
alguém a ser.»

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sintra no Buçaco (I)


Se decidíssemos iniciar um grupo de mensagens sobre lugares aparentados com Sintra – a Sintra da serra oriental e do Parque da Pena – teríamos de escolher o seu gémeo Buçaco antes de qualquer outro. Também é uma floresta mágica cercada por um muro, deliberadamente construída no alto de uma montanha, recebendo ares atlânticos que a enevoam. Ambas culminam numa Cruz Alta que por pouco não se levantam exactamente à mesma altura, e as áreas por que se estendem são comparáveis. O Buçaco nasceu dois séculos mais cedo, a partir da fixação dos Carmelitas Descalços, enquanto que a Pena, apesar dos Jerónimos que nela se instalaram – um século antes dos Carmelitas no Buçaco – deve-se realmente a D. Fernando II.

Em ambos os casos, os edifícios originais das ordens religiosas foram absorvidos por delirante arquitectura oitocentista que adoramos sem condições. Mas ao longo de todo o século XX – com ecos mesmo nos nossos dias – o violento preconceito moderno que despreza a arte do século XIX foi, na melhor das hipóteses, condescendente. Assim, no Guia de Portugal reeditado pela Gulbenkian, o Palácio da Pena «não se distingue pelos primores da arquitectura e a harmonia do conjunto», «os viajantes de gosto mais educado e exigente vêem nele um pretensioso mistifório de todos os estilos» e «apenas se salvam do desprezo algumas partes do antigo mosteiro e a sua situação maravilhosa». Quanto ao Buçaco, diverte-nos muito ler «interessante como fantasia cenográfica, o palácio, à luz dos severos princípios da arquitectura, rigorosamente considerado, carece de originalidade, de precisão e de gosto»!


Ambos têm um programa místico determinante, embora o de Sintra, individualista, fluido e adaptável, tal como a época que lhe deu origem, não esteja realmente expresso e necessite constante interpretação. Quem quer que conheça bem Sintra se apercebe facilmente do seu poder de atracção da espiritualidade pouco convencional. Já o programa do Buçaco está bem ancorado no catolicismo. Por um lado, a constelação centrada no convento formando o Deserto carmelita, em representação do Monte Carmelo da Palestina. Por outro, o Sacromonte, uma cidade de Jerusalém simbólica recriando o martírio de Cristo, reproduzindo nos meandros da mata as exactas medidas míticas dos Passos do Calvário.


Hoje, após a curta mas frenética acção da Parques de Sintra (provavelmente milionária, comparada com os recursos que imaginamos atribuídos ao Buçaco), há algo mais decadente e abandonado mas também mais selvagem e estranho na mata carmelita. Ao contrário de Sintra, as portas dos muros estão abertas, o acesso é livre a todas as horas e parece haver uma fruição popular, embora não avassaladora, de automóveis e piqueniques de fim-de-semana vindos das redondezas, ainda que tudo pareça mais modesto e recatado. Talvez seja também a maior distância dos centros geradores do grande turismo predador que contribui para lhe dar um carácter algo adormecido, comparado com uma Pena que sofre cada vez mais os malefícios da sua celebridade.