quinta-feira, 30 de julho de 2009

Buganvília fora de si



Foi o autor do Beijo da Terra que nos chamou a atenção para esta buganvília dando-se ares de árvore, desejosa de conhecer a quinta do outro lado da rua, sobre a qual já descai sem ponta de tino. Não se apoia numa verdadeira árvore para melhor ascender, como esta, nem tem o encanto ordenado e arquitectónico destas. Se for necessário qualificá-la, diremos que nos parece ser uma buganvília pouco domesticada, meio estouvada e fora de si. Aguarda admiradores a meio da Rua Álvaro dos Reis, aquela que liga os bombeiros de S. Pedro a Chão de Meninos.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

A tília do lago, o nome Cascais e os dois aventureiros


No Lago de Cascais há uma tília apaixonada por si própria. Dia após dia, debruçada sobre o espelho de água, admira as suas folhas em forma de coração, o amarelar progressivo e a queda de outono, a ramagem negra e nua de inverno e o despontar dos novos rebentos na primavera, sem nunca se cansar. A tília é um dos maiores motivos da beleza do Lago de Cascais, igual, senão superior, ao banco-tanque sob a tuia ou à própria concha de água com o seu tapete verde traiçoeiro e o som da bica que corre.


Já o nome do lago sempre nos pareceu um pouco insatisfatório. “Cascais” evoca sol, salsugem e um passeio tépido de verão, tudo o que o solitário lago não é. Diz o neto da Condessa d’Edla que esse nome «recorda como andava associada nos hábitos da família real, para o passadio do verão, a umbrosa Sintra com aquela velha e soalheira terra de pescadores. De facto, era costume, anos passados, dos tempos de D. Carlos e D. Amélia, que o dia do aniversário do casamento real marcasse a transferência da corte, da Pena para a Cidadela» (p. 165 da Monografia). Parece fraca justificação para um nome dos primórdios da acção de D. Fernando, muitos anos antes de quaisquer romagens reais à vila balnear – veja-se a propósito de tudo isto o que diz o Parque da Pena.

Pode haver outra razão. O lago situa-se na exacta linha de cumeada da Serra. A nascente eleva-se uma centena de metros a Cruz Alta, de onde escorre a água que o alimenta. Mas para norte e para sul caem as encostas em direcção a Sintra (pelo Vale dos Lagos) e Cascais (pela Lagoa Azul). E embora hoje a arborização limite o horizonte e encerre o lago (muito menos que até há poucos meses, antes dos desbastes), não é difícil imaginar que em meados do século XIX, quando a Serra era ainda um monte calvo, seria talvez possível desfrutar daqui de uma vista alargada, com Cascais e a sua baía alinhadas no meridiano. É a vista magnífica que se continua a ter de outros picos mais desimpedidos e de troços da encosta sul. O “Lago de Cascais” seria, assim, o “Lago de Onde se Avista Cascais”, distinto de todos os outros do Parque, que se aninham do lado de Sintra e da nortada.

Surpreendente, num lago tão remoto e despovoado, foi a visão de dois aventureiros intrépidos, vindos de um lugar desconhecido – as paragens habitadas mais próximas são longínquas – assomados do lado da Cruz Alta e desaparecidos do lado do Alto do Chá, totalmente indiferentes aos humanos pasmados que os seguiram com o olhar.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Pena do outro lado do espelho

Imagem em culture.gouv.fr

Em 1897, com 44 anos, o conde Henri de Lestrange visitou Portugal e fotografou a Pena. Com a mesma idade mas 112 anos mais tarde, encontrámos nós a sua fotografia pesquisando “Sintra” na Europeana. Durante algum tempo olhámo-la desorientados, procurando na memória um local onde pudesse ter sido captada. Após alguns círculos mentais em torno do Palácio, tornou-se evidente que era uma imagem impossível e, com uma simples inversão, conseguimos a magia de a trazer para o lado de cá do espelho, tornando-a reconhecível e quase familiar [curiosidade de Crécy-la-Chapelle: a inversão das imagens deste fotógrafo parece ser recorrente].

Vista da Estrada da Pena em 1897

Vista da Estrada da Pena em 2009, no inverno

Vista da Estrada da Pena em 2009, no verão

Quase familiar, porque o mesmo ponto de vista em 2009 revela uma transformação profunda. O Palácio é o mesmo – afirmamos nós, mas essa conclusão não pode retirar-se da mera comparação das fotografias, já que a arborização local se alterou radicalmente e deixou de permitir ver o alto da Serra. Em 1897 a Pena sobrevoava um primeiro plano de pinhal denso e jovem. Hoje são raros e dispersos os descendentes desses pinheiros. Em seu lugar, cerram a vista plátanos legítimos e bastardos, carvalhos, castanheiros e mais carvalhos.

1897 fica bem em fotografia e tem o encanto melancólico das paisagens desaparecidas, mas preferimos a penumbra verde de 2009. Cruzamos os dedos para que ninguém se lembre de abrir mais uma vista monumental e despida, à custa deste troço de bosque encantado. E não era bom que a estepe que agora ladeia a Estrada dos Capuchos fosse reflorestada e, daqui a 112 anos, também se apresentasse assim aos nossos trisnetos de 44, frondosa e sintrense de novo?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Clima de Sintra

Tarde de verão tradicional: a Pena vista do Miradouro da Vigia


Afirmar que se adora Sintra acrescentando que em Sintra se adoraria viver não fosse pelo clima é uma declaração de amor disparatada – como adorar leite-creme não fosse o açúcar queimado, ou adorar ir ao cinema não fosse ter medo do escuro. Não é maneira de se adorar cinema, nem leite-creme, nem Sintra. No entanto, sintrenses que contactem habitualmente com não-sintrenses sabem da semi-ignorância a respeito deste clima em que até os nossos vizinhos próximos vagueiam.

Que sintrense não ouviu já, num dia de frio intenso de inverno, um lisboeta-central tiritante procurar consolá-lo do enregelamento radical em que imagina que nós passamos os nossos invernos? E que sintrense não conhece o olhar desconfiado com que lhe ripostam, quando garantimos que no tempo mais frio não há grandes diferenças entre os termómetros de lá e cá? E depois, o olhar incrédulo-invejoso de quando afirmamos que tardes sufocantes de 36 graus no Chiado são geralmente (como hoje) tardes amenas de 27 ao cruzar o Ramalhão e descer de Chão de Meninos?

Sim, o nosso pacote de verão inclui ar atlântico em quase permanência e nuvens recorrentes sobre a Serra, aí humedecendo as tardes. Com o inverno suave e a chuva anual – essa sim, bem acima da caída em volta do estuário – permite-se que viva e prospere a nossa fabulosa vegetação. Junto a uma primavera que não gosta de se apressar e a um outono que não gosta de se atrasar, admitimos que não é clima para todos os gostos. Mas não há maneira de conceber uma Sintra que se possa amar separada do seu clima particular.

domingo, 19 de julho de 2009

“Often inattentive, and occasionally stupid”

Há muitos anos, soubemos que Raul Lino desenhara o jazigo da Condessa d’Edla, reproduzindo, para sua última morada, o ponto mais alto da Serra de Sintra e a sua Cruz. Nunca o conhecemos no local, ou sequer em imagens, e durante umas duas décadas mantivemo-nos esquecidos deste facto. Há três meses o Rio das Maçãs assinalou o aniversário da morte da Condessa e mostrou uma fotografia do jazigo (no Parque da Pena também o podiamos ter encontrado), o que nos provocou uma reacção estranha: primeiro, surpresa e entusiasmo pela descoberta; depois, uma recordação progressiva e lenta do conhecimento passado e entretanto desvanecido. Sentimo-nos como Catherine Morland, a heroína que Jane Austen criou para A Abadia de Northanger:

«Nunca aprendia ou compreendia nada antes de ser ensinada; e por vezes nem então, porque era frequentemente desatenta e ocasionalmente estúpida.»

Pois bem, por penitência – e também com gosto – deslocámo-nos ao Cemitério dos Prazeres, Rua 2-A, n.º 6399, para aprendermos e compreendermos sem desatenção nem estupidez. A réplica reduzida, à escala 1:2 ou 1:3, foi desaparecendo do lado da frente do jazigo, à medida do crescimento dos ciprestes – será que foram, com as rochas graníticas, recolhidos na Pena? Por estar a submergir na vegetação, só é possível ver a cruz de tardoz, e, ainda assim, há que esquinar para sudoeste para divisar o seu topo desimpedido – porque a base desapareceu de todos os ângulos:




Temos agora um atraente paradoxo: a pedra enegrecida da réplica, envelhecendo no seu túmulo, denuncia os oitenta anos que já conta, enquanto que o modelo original, destruído por um raio e há pouco tempo reerguido, resplandece na sua pedra juvenil:

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Vista de uma só vez


A partir da área cortada, junto à Estada da Pena, poucos metros antes do cruzamento para os Capuchos, vê-se agora a Vila e o Castelo de uma só vez. O corte abominamos, a vista é bem-vinda, o tom rosado é do fim do dia.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Os lagos da Condessa d’Edla ao fim da tarde

Referimos ontem a recuperação das canalizações em volta do Chalet da Condessa, que permite ver de novo os pequenos lagos transbordando de água límpida (muitos, nós próprios incluídos, nunca tal tinham visto). Aqui estão eles, quase gémeos, o primeiro a norte do Chalet, o segundo a sul (um terceiro irmão mais sombrio, também a norte, recusou mostrar-se apresentável à nossa objectiva). Para já, estas águas vivas aliviam a desolação deste lado do Parque.



Na encosta poente do Chá, ou seja, uma boa centena e meia de metros a sul do Chalet, cintilam outros dois lagos mais selvagens – o segundo pouco mais que um tanque rochoso – a pouca distância um do outro. Aqui estavam perdidos num mato denso de pitósporos e acácias (que adoram estas paragens e já despontam de novo). Agora, após os cortes que alteraram tão dramaticamente o ambiente da Tapada, estes lagos de novo cheios são uma descoberta reconfortante, à luz do fim da tarde.


domingo, 12 de julho de 2009

Visitando a Condessa d’Edla


No fim do inverno passado, quando descíamos a devastada Estrada dos Capuchos, passando junto da entrada do Chalet da Condessa, deparámos com o novo portão luzidio aberto e decidimos entrar. Na parede do novo edifício aí construído estava, e continua a estar, um painel que identifica, em grandes manchas sobre uma planta, os limites das obras que já decorrem ou que se preparam (clique e amplie):


Fomos interpelados por um senhor que educadamente nos informou que aquela parte do parque estava fechada e que não podíamos estar ali. No entanto, porque do nosso lado havia óbvia curiosidade sobre o que se estava a passar e porque do outro lado havia um grande vontade de mostrar o que se passava, tivemos uma curta visita guiada ao novo edifício e à envolvente do Chalet, com uma descrição entusiasta do que já estava feito e do que faltava fazer, desde detalhes do processo de recuperação de materiais e técnicas construtivas até aos resultados da recuperação das redes de canalização que alimentam os lagos daquela parte do Parque. Tratava-se, fomos sabendo, do arquitecto responsável pela reconstrução do Chalet, que tinha acabado de conduzir a visita dos responsáveis pelas petrocoroas norueguesas que pagam, numa parte que não deve ser pequena, esta obra complexa. Disponível (estava-se bem dentro da hora de almoço) e desinteressado, oferecia-nos agora uma segunda visita.

A reconstrução de edifícios e infra-estruturas parece ser, talvez, a parte mais unanimemente bem sucedida da actuação da Parques de Sintra, ainda que o prazo avançado pelo arquitecto para a conclusão do Chalet (ainda este ano) não pareça fácil concretizar a quem hoje, em Julho, observe o estado da obra: a casca envolta em andaimes não parece muito diferente do que era há quatro meses. Em todo o caso, estamos à espera de resultados para aplaudir:


O abandonado jardim à volta não parece ter ainda sofrido alterações de vulto, para alem dos cortes que, em qualquer caso, não lhe melhoraram o aspecto. Ao longo de todo, ou grande parte, do perímetro identificado como “área de intervenção” no painel de cima, está a ser construída uma vedação que promete manter toda esta área isolada durante muito tempo. Entretanto, o recato deste local desapareceu com os cortes que arrasaram a Estrada dos Capuchos. O muro da Tapada e a desolação envolvente ficam logo em frente:


Uma palavra para o novo edifício frente à ruína do antigo, como uma grande roulotte high-tech sem rodas, a que com pompa foi chamado Centro Cultural do Chalet da Condessa e que, julgávamos nós, seria provisório, apenas para apoio das obras e da sua divulgação. Talvez tenha grande utilidade, talvez seja o mais discreto e menos intrusivo que poderia ser, mas o melhor que dele podemos dizer é que seriamos mais felizes se não existisse:


Enfim, no seu estado actual, a melhor imagem que se recolhe neste recanto ocidental da Tapada da Pena obtém-se do alto das “Pedras do Chalet” para nascente, olhando para bem longe do estaleiro:

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Neuschwanstein, segunda parte

Imagem em Wikimedia Commons

Como esta fotografia demonstra, em Neuschwanstein os automóveis não estacionam debaixo do dossel da cama de Luís II da Baviera. Como sabemos, na Pena a ideia é, senão utilizar a mesa da sala de jantar para este efeito, encontrar lugares tão próximos quanto possível e apenas ligeiramente menos chocantes: por exemplo, porque não abrir uns espaços nas tapadas públicas envolventes e pôr uns milhares automóveis a cruzar a Serra até lá? Haverá porventura alguma solução melhor?

Talvez haja. Por exemplo, será que em Neuschwanstein, como na Pena, se conduz até ao alto da montanha do palácio e lá se larga o carro? Grande surpresa: não, os automóveis particulares não podem subir a Neuschwanstein. São obrigados a ficar no sopé, a cerca de dois quilómetros da entrada (a distância do Ramalhão à Pena são mil e oitocentos metros). Os parques de estacionamento distam entre cem e quinhentos metros de uma paragem onde um autocarro os transporta até perto do topo. Aí chegados, há mais seiscentos metros até à entrada. Alternativas? Carruagem puxada a cavalos (6,00 ida, 3,00 volta) ou subida a pé, em estrada onde apenas circulam as carruagens e os peões. Como em Sintra, há duas estradas que conduzem aos portões do palácio, mas numa delas não é necessário aspirar vapores petrolíferos (é verdade que em Sintra há um caminho parcialmente pedonal, via Castelo, mas demasiado violento para ser de utilização generalizada). E apesar de todas estas terríveis dificuldades de acesso, Neuschwanstein arrecada 1,3 milhões de visitantes por ano!

Querida Câmara Municipal de Sintra, querida Parques de Sintra – Monte da Lua: embirramos com as pessoas que se apequenam e babam constantemente com o que se faz e como se faz “lá fora” – gostamos de “cá dentro”, evitamos cócoras e cultivamos um certo amor próprio luso-local. Mas por esta vez, no que à mobilidade e circulação na Vila e na Serra diz respeito, por favor: façam como “lá fora”.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Pena versus Neuschwanstein: contabilizando duas visitas

Imagem em Wikimedia Commons

Como a Pena, Neuschwanstein é um palácio-castelo de grande efeito, construído num lugar alto por meados do século XIX, que atrai um enorme número de turistas (1,3 milhões no ano passado, com picos de 6000 em dias de ponta). Ao contrario da Pena, Neuschwanstein situa-se numa das regiões mais abastadas da União Europeia e, há cerca de dois anos, o Serra de Sintra comparou o custo das visitas, tendo verificado que a menor riqueza portuguesa estava longe de corresponder a preços de entrada mais baixos. Decidimos actualizar a comparação com um caso exemplo (escolhido totalmente ao acaso).

O programa
Num belo sábado de verão, num recanto da Baviera e na nossa linda terra portuguesa, duas magníficas famílias pretendem subir de autocarro as suas respectivas montanhas, fazer uma visita guiada aos seus palácios e, em agradável passeio de fim de tarde, descer as suas montanhas a pé. Constituem ambas as famílias: três adultos de 66, 41 e 44 anos e três jovens de 17, 15 e 13 anos.

Os preços
Em Neuschwanstein paga-se 1,80 por pessoa pela subida (se também se quisesse descer – o que não é o caso – pagar-se-ia 2,60).
Na Pena paga-se 4,50 por pessoa (é indiferente que só se suba ou que se suba e desça).

Em Neuschwanstein a visita guiada custa 9,00 aos adultos menores de 65 anos, 8,00 aos maiores e é gratuita para os menores de 18.
Na Pena é mais complicado. A visita não guiada custa 11,00 aos adultos menores de 65 anos, 9,00 aos maiores e os mesmos 9,00 aos menores de 18 anos que sejam maiores de 5. Há um bilhete de família, mais vantajoso, de 30,00 para quatro pessoas (dois adultos e dois menores de 18). Em qualquer caso, pagam-se 5,00 suplementares por cada visita guiada.

A remediada família bávara, em Neuschwanstein, paga pelo programa 36,80
A afluente família portuguesa, na Pena, paga, pelo mesmo programa, o triplo: 105,00

Conclusão
Os bávaros sobem a montanha, visitam o palácio, descem a montanha e regressam a casa após um sábado bem passado.

Os portugueses vão tentar reduzir a despesa começando por abdicar da educativa visita guiada (menos 30,00, ou seja, reduzindo o custo para 75,00), o que fará com que mantenham a ideia de que o palácio foi construído por um milionário estrangeiro excêntrico ou para a rodagem de uma superprodução clássica de Hollywood. Decidem ainda cortar a subida de autocarro (menos 27,00, ou seja, pagando 48,00 pela visita simples e sem viagem, ainda assim uns desmoralizantes 30% mais que os bávaros pelo programa completo). Lançam-se então na subida a pé. E como, a meio da caminhada, o adulto de 66 anos é acometido por uma crise severa e persistente de palpitações, e como são uma família muito unida (valha-lhes isso) resolvem todos eles abdicar do palácio, voltar a descer, engrossar a fila para os travesseiros da Piriquita e esbanjar o orçamento em combinações felizes de açúcar, farinha, manteiga e ovos.

Conselho final muito pessoal: experimentem umas broas do Gregório (saco de meio quilo por 4,60), mais eficazes ainda a diluir as frustrações de sábados falhados.

domingo, 5 de julho de 2009

Miscelânia de tuias: “assinalável excentricidade”

Um pouco mais sobre tuias gigantes: de acordo com informações recolhidas no mundo virtual, a maior de todas é americana (onde lhes chamam western redcedar) e vive no coração do seu território natal, junto ao Lago Quinault, no estado de Washington. Podemos compará-la com a nossa tuia da Feteira da Rainha. A expectativa é que o nosso exemplar sintrense se aproxime das dimensões da irmã mais velha americana, o que com certeza será apenas uma questão de séculos.

Tuia gigante do Lago Quinault
(imagem em Purpleslinky)


Tuia gigante da Feteira da Rainha
(com sapato tamanho 44 para comparação)


Só mais uma tuia final: a rival da dos domínios da Rainha Dona Amélia habita os domínios da Condessa de Edla, poucos metros a sul do Chalet, e é referida na Monografia do Parque da Pena (pp. 129-130) como «o segundo exemplar, em majestade, dentro do Parque» mas, tal como o primeiro, lamentam-se os «crescimentos laterais exagerados» que «desmancham o conjunto harmónico». E, depois, «são características certas pernadas cujo crescimento na base, em plano horizontal, corresponde à mais assinalável excentricidade; secções “em quilha” podem registar-se ou em oval muito alongada. Breve esta ramagem ergue-se depois a prumo formando colos de grande elegância. Como é uso na espécie, quando as formações na base não sejam suprimidas, podem, ao encurvarem-se, tocar a terra e aqui mesmo enraízam várias, em termos de emanciparem-se (mergulhia natural).»
Eis a Tuia da Condessa, meio século depois:

sábado, 4 de julho de 2009

A Tuia Gigante e o fim da clandestinidade

Altura da placa identificadora: 1,2 m

A Parques de Sintra vende por trinta e cinco euros um “Passe Visitante Frequente” que permite, durante um ano, a entrada livre no Parque da Pena, no Castelo dos Mouros, no Parque de Monserrate e no Convento dos Capuchos. É talvez o preço menos disparatado dos que actualmente aqui se cobram – mas este assunto tem que ser tema de poste autónomo. As alternativas económicas eram as entradas gratuitas para munícipes nas manhãs de domingo, muito limitadoras do dia e hora de visita, e o salto-do-muro, muito conveniente no que respeita a horários (vinte e quatro horas por dia!) mas que, naturalmente, só se permite aos cidadãos mal comportados. Acabámos assim por decidir experimentar o passe e aqui estamos hoje a comemorar a nossa primeira entrada na nova modalidade com uma homenagem à mais institucional das árvores do Parque.

A Thuja plicata da Feteira da Rainha Dona Amélia não só é uma árvore maravilhosa e fascinante como é universalmente – ou no pequeno universo sintrense – reconhecida como tal. Já figurou em desenho nos bilhetes de entrada no Parque e fazem-se muitas referências a ela neste mundo virtual em que nos encontramos. Sempre tendo para nós parecido evidente a qualidade de “estrela arbórea do parque” que a Tuia Gigante tinha estampada, descobrimos com curiosidade o desprezo (já registado pelo “Parque da Pena”) que lhe votava Mário de Azevedo Gomes há cinquenta anos:

*

«Foi dos exemplares mais perfeitos do Parque; sinto ter que dizer que não o é já hoje por falta de intervenção cultural conveniente (...) que teria evitado, feita a tempo, o desmandar-se a árvore, com perda da forma específica, cone de verdura densa, que lhe é própria. De facto, uma pernada crescida à vontade, para o lado oeste, tomou hoje tal desenvolvimento em detrimento do eixo principal, que para aquele lado toda a antiga simetria e regularidade estão perdidas (...) escangalhando a harmonia do conjunto.»
Monografia do Parque da Pena, p. 261

*

Será a nossa condição leiga, ou a nossa insensibilidade, que nos permite admirar o que para especialistas é uma deformidade intolerável? Não gostaríamos que as nossas romagens obrigatórias à Tuia Gigante fossem uma versão botânica e moderna das filas circenses à porta da Mulher Barbuda e do Menino de Duas Cabeças, mas foi exactamente a irregularidade desta árvore que a tornou tão carismática. Assim, mesmo correndo o risco de censura pública, aqui estão para nosso e vosso prazer culposo algumas imagens clássicas do monstro, com todo o horror dos seus membros desfigurados:



Nota final sem importância:
parece-nos que a "pernada crescida à vontade" cresceu para leste.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Lago Maior de vez

Imagem no Flickr

Aqui está um postal ilustrado de uma entrada nos Alpes: uma nesga de Santa Caterina del Sasso pendurada sobre o Lago Maior. Na entrada central do Parque da Pena não existe nenhum antigo convento dominicano-carmelita, mas antes um castelo onde até há dois anos reinavam patos, cisnes e aves afins. A água do seu lago desapareceu entretanto, e as aves com ela.

Sempre foi para nós intrigante a razão porque os engenheiros de D. Fernando II tinham conseguido construir um lago estanque tão durável enquanto a tecnologia do século XXI parecia incapaz de manter seguras aquelas águas por mais que alguns dias. Assistimos ao encher e vazar alternado do lago, que permanecia a maior parte do tempo uma cova escura coberta de telas amarrotadas, com aparência de petróleo derramado, e um castelo desabitado no meio de lama e folhas mortas. Era um dos fracassos da Parques de Sintra com explicação difícil. E uma perda grande para os patos destronados e para as fotografias de domingo.


Desde há poucas semanas que o Lago Maior (aliás, Lago de São Martinho) pode ser visto de novo a transbordar – agora de vez, segundo os optimistas – com os seus mais de cinquenta metros de comprimento, um pouco abaixo dos cinquenta quilómetros do homónimo italiano. Conta, no entanto, com um castelo que está pronto para a restauração do reino dos patos e dos cisnes, enquanto que Santa Caterina perdeu os seus frades e hoje só pode aspirar a ser passeio de muitos turistas, pouco tempo cada um.