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domingo, 17 de janeiro de 2010

Vista da Quinta do Relógio


Soubemos pelo Público do dia 13 que a nossa câmara estava a considerar a compra de um dos ícones de Sintra, a Quinta do Relógio. A notícia, replicada no dia seguinte no DN, foi já hoje devidamente coberta pelo Rio das Maçãs, mas decidimos reforçá-la aqui, não só pela sua importância evidente, mas também porque tínhamos em arquivo uma imagem recente da quinta, com que simpatizávamos, e não havia meio de encontrarmos um pretexto para a publicar! Não é fantástica, a sua casca esventrada entre as duas grandes araucárias guardiãs? A foto, porém, não mostra outra das mais imponentes árvores de Sintra, que a esta quinta pertence: o grande sobreiro antigo que deixámos escondido uns metros para a direita deste enquadramento.

A Quinta do Relógio anda em obras decerto há mais de uma década. Recordamo-nos de um conjunto de raves organizadas no esqueleto da casa, algures na década de 90, bem como da transformação mais recente do jardim, que de repente se aprumou todo – ou pelo menos assim parece a quem o vê no início dessa estrada fabulosa que liga Sintra a Colares pela Regaleira, Seteais, Penha Verde e Monserrate. Sem pensar em mais nada – nos milhões que custa, por exemplo, ou no que lá vai ser feito – a ideia de poder contar com mais este local entre os que podem ser publicamente fruídos na nossa vila parece ser uma ideia formidável. No entanto, o projecto que parece estar a ser considerado, o de utilizar parte da quinta para estacionamento de apoio à Regaleira, é mais uma daquelas visões míopes que aguardam que um clarão de bom senso as precipite nos infernos: ficamos sem palavras. De qualquer modo, a compra está longe de estar decidida, por isso sentemo-nos (por exemplo, debaixo do sobreiro escondido fora da fotografia) e aguardemos novas notícias.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os Pinhões Cerimoniais e as outras Búnias de Sintra


Eis os afamados pinhões da búnia-búnia, que finalmente pudemos tocar, cheirar e cerimoniosamente comer. Sim, esses pinhões aparatosos da fotografia já não existem, circulam neste preciso momento nos nossos caminhos interiores. Primeiro foi necessário abri-los, pois o seu exterior é duro como o dos os verdadeiros pinhões do pinheiro. Depois, pensámos que à primeira dentada seriamos logo transportados aos confins da Austrália, mas a verdade é que ficámos a meio caminho, algo decepcionados com a consistência aglomerosa, a aspereza na língua e o sabor indiferente. Até decidirmos torrá-los levemente numa frigideira seca, o que logo nos fez aterrar confortados na floresta húmida de Queensland – é isso que decerto fazem ou faziam os devotos aborígenes: o pinhão tornou-se estaladiço e o sabor abriu.

Para a colheita dos pinhões tivemos de fazer alguma batota: as búnias-búnias que os ofereceram não foram as de Sintra, mas sim a do Jardim Botânico de Lisboa, que os tinha espalhados, caídos à sua volta. Antes, já tínhamos investigado as outras búnias que existem em Sintra: na do Parque da Liberdade, cuja existência nos foi devidamente recordada em comentário anterior, não encontrámos pinhas nem pinhões, provavelmente devorados pelas exóticas feras predadoras que por lá rondam.


Quanto à búnia-búnia do Parque da Pena (também sem pinhas que se vissem) tem a sedução de uma árvore rara e magnífica mas esquecida, deixada selvagem no jardim abandonado em frente da Abegoaria arruinada. É uma resistente do ciclone de 1941 e, à força de permanecer longe dos caminhos frequentados, tem um ar de formosura desleixada, como aquelas criaturas muito belas que se tornam duplamente encantadoras por darem muito pouca atenção a si próprias.




quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Venerando a Búnia-Búnia


À Araucaria bidwillii chamam Araucária da Austrália ou Araucária da Queenslândia (nomes que se atropelam na boca), ou Pinheiro Búnia (um pouco melhor, mas ainda um tanto pálido). O baptismo iluminado, sonoro e expressivo é Búnia-Búnia, sem dúvida: face à pompa e à sugestão tal nome, todos os outros se deveriam humildemente extinguir.

A centena e meia de quilómetros para o interior de Brisbane repousa a Serra das Búnias que, como a de Sintra, não é muito comprida, nem muito larga, nem muito alta. Nos seus picos que pouco ultrapassam os mil metros, entre o Monte Kiangarow e o Monte Mowbullan, também se reúnem e encorpam as nuvens. Hoje acolhe os despojos protegidos de uma velha floresta húmida onde ainda reina a Búnia-Búnia, no recolhimento de um parque natural (o Bunya Mountains Natural Park).

Ao longo de séculos, pelo Verão, os habitantes originais da Austrália rumavam de lugares longínquos à Serra das Búnias, onde se celebravam – e talvez ainda se celebrem – os festejos da Búnia-Búnia, cerimónias tribais em torno destas árvores sagradas. Sendo árdua e cara a viagem aos antípodas, os aborígenes lusitanos deverão em alternativa reunir-se em Monserrate para venerar a sua grande Búnia-Búnia.



Não encontrámos, na nossa romagem, as gigantescas pinhas de dez quilos caídas no chão, que têm perturbado os lusitanos mais a norte. Por isso não tem sido possível repetir deste lado do globo a ritual partilha inter-tribal dos grandes pinhões comestíveis. Em vez disso, aspire-se a sua beleza única, contemplem-se as gotículas de resina cintilante que deslizam no seu tronco e recolha-se a relíquia das massas cerosas e aromáticas que essas resinas alimentam, espalhadas na sombra.


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Mensagem de Desagravo


No magnífico Árvores de Portugal foi declarado desprezo oficial pela araucária – ou, pelo menos, pela araucária de Norfolk – árvore que conquistou os arbofóbicos jardins domésticos lusitanos por ser a que mais se assemelha a uma árvore de plástico. Ora, se temos o propósito de nos redimir por, em seis meses de blogue sintrense, nunca termos pronunciado a palavra “Monserrate”, há que publicar imediatamente esta mensagem de desagravo a favor da majestática Araucaria heterophylla aí residente. No seu porte mais que centenário (em idade) e semi-centenário (em altura), reina vigorosa, vitoriosa e benigna no fundo da encosta desse Palácio, acariciando gentilmente a cabeleira das palmeiras a seus pés e desafiando todos os discursos hostis à sua espécie.