Mostrar mensagens com a etiqueta Poluição Visual e Lixo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poluição Visual e Lixo. Mostrar todas as mensagens

domingo, 19 de setembro de 2010

No Cravo e na Ferradura

Passo a passo, a Parques de Sintra vai tornando mais fácil o acesso automóvel aos seus parques e palácios. Aqueles que preferiam que este zelo se dirigisse a afastá-los progressivamente, substituídos por formas de acesso menos agressivas, vão ter de continuar à espera. Por outro lado, não se vê que a câmara municipal saia da sua letargia face à mobilidade crítica deste pedaço que alguém classificou como património mundial.

Ainda assim, mesmo os opositores deste “Visite a Pena e traga o seu carro” têm louvores a fazer. É o caso da solução para, ao mesmo tempo, impedir o estacionamento nos troços mais estreitos da calçada e separar o trânsito viário do pedonal. Havia várias hipóteses desastrosas à escolha, mas foi escolhida, talvez, uma das melhores que se podia ter encontrado: secções de troncos de árvores, encastradas a intervalos regulares no chão, cumprem a função sem ofender.


Infelizmente, não se pode dizer o mesmo dos painéis electrónicos que agora assustam os visitantes à entrada da Tapada do Inhaca ou no Portão dos Lagos. Uma espécie de plasmas publicitários irradiando luz televisiva dia e noite a pretexto de fornecer indicações sobre lugares disponíveis para estacionar, confundindo os ingénuos que aqui passam em busca de Sintra.


O cúmulo da incapacidade de gestão racional do espaço público atinge-se no cruzamento da Estrada dos Capuchos. Aqui, onde já gritavam por atenção dezanove placas desesperadas, junta-se agora este pedaço de lixo visual da nova geração. Será que alguém vai reparar, um dia, que vinte placas informativas umas sobre as outras não informam nada? E que esta entrada no coração da Serra envergonha e entristece?

terça-feira, 1 de junho de 2010

Com Poderes Públicos Assim…

Portela de Sintra

É pressuposto que as entidades públicas tenham preocupações públicas (i.e., relativas a todos e expressas na boa administração do que a todos pertence e/ou serve) ao passo que as privadas, particularmente as empresas, conduzem a sua acção em função de interesses particulares. Mas para que estes sejam absolutamente legítimos, é necessário que as primeiras regulem a actividade das últimas, garantam a prévia protecção dos bens colectivos e, acima de tudo, assegurem os mais universais interesses da comunidade. Porém, o que constantemente observamos é que, enquanto as entidades privadas nunca perdem de vista os seus objectivos, as entidades públicas parecem cada vez mais incapazes de perceber com clareza a sua natureza e, desse modo, cumprir as funções que lhes reservamos. Seja porque passam a perseguir objectivos privados ou, o que é mais frequente, a comportarem-se de forma indiferente em relação a estes ou, pior ainda, a mascarar (ou legitimar) fins privados com aparentes necessidades públicas. Quando uma tal crise existencial acontece, a polis fica reduzida a um conjunto assustador de interesses pessoais – dos declarados e legítimos aos mascarados, ilegais, ou simplesmente ilegítimos. Algo particularmente patente nos pequenos pormenores da gestão do espaço público.

É o caso dos corrimãos – ou protecções metálicas – que estão a ser colocados nas esquinas das ruas de Sintra. Aparentemente servem uma função pública: protegerem os transeuntes da circulação automóvel e vice-versa. Mas com alguma atenção (não é preciso muita) constata-se que servem de suporte a placas publicitárias comercializadas por uma empresa privada. Se acrescentarmos a discutível necessidade destas protecções todo este processo torna-se particularmente preocupante. Não nos admiraríamos por isso que a própria ideia tenha sido da respectiva empresa, a qual naturalmente viu nisto uma inteligente prossecução dos seus objectivos privados. E a Câmara?

Já sabíamos que a actual administração municipal não resiste a catálogos de mobiliário urbano e afins. Por isso, esta autorizada apropriação privada do espaço colectivo é também mais um exemplo das consequências poluentes de uma tal fraqueza pública. No seu travo a “lado errado dos anos oitenta” (quando estes objectos estavam na moda), estes corrimãos-estendais-de-publicidade expõem o pesadelo resultante da aliança entre os pragmáticos interesses privados, a moderna fraqueza das instituições públicas e o magno desígnio camarário de alindar Sintra. Mais assustador é pensar que, caso a referida empresa tenha também pago o fabrico dos ditos objectos, haverá certamente na Câmara Municipal de Sintra quem considere que, neste negócio, fomos nós que ficámos a ganhar…

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Um Belo Céu Desperdiçado


Um dos argumentos usados para defender rolagens e podas radicais é o do conflito entre as copas das árvores e as infra-estruturas de electricidade ou telecomunicações. De facto, o conflito por vezes existe. E, apesar de não termos ouvido este argumento a propósito da recente devastação de tílias e plátanos em Sintra (aliás, não se ouviu argumento algum excepto o deplorável “é assim que fazemos todos os anos” – verdadeiro argumento de inimputável!), ele podia ter sido utilizado. É que algumas das ruas arborizadas que nesta Primavera foram vandalizadas pelas nossas autoridades locais estão pejadas de infra-estruturas aéreas.

Fios de electricidade e telefone pendurados no ar é coisa do mundo rural ou de cidades do terceiro mundo. Nos aglomerados urbanos deste lado do mundo costumam ser subterrâneos e, mesmo em Sintra – na Vila Velha ou na Portela, por exemplo – já se adoptaram essas soluções tecnologicamente sofisticadas. Será exagerado esperar que, numa vila europeia classificada como Património Mundial, se consigam fazer desaparecer de vista esses emaranhados aéreos e os postes pindéricos em que se enrodilham (como parece exagerado esperar que se cumpram os compromissos de bem cuidar da arborização pública e privada que se assumiu perante a UNESCO)?

Portanto, fica aqui mais uma sugestão ingénua à Câmara Municipal de Sintra: por favor, para além de não destruírem o património vegetal que resta nas nossas ruas (e, já agora, plantarem uma arvorezita aqui e ali, de vez em quando), ficaríamos também muito felizes se abrissem umas valas e enterrassem esses tristes cabos.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Perdidos? Nunca Mais!


Tanto quanto nos podemos lembrar, nas nossas primeiras subidas ao Castelo a partir de Santa Maria, subíamos com a pequena excitação provocada pelo risco de nos perdermos. Se não estamos errados, havia apenas uma indicação importante, num lugar estratégico, junto da igreja românica arruinada, que até há pouco tempo indicava a quem vinha do lado da Pena os caminhos de Sintra e do Castelo.

Claro que o risco de perda não existe verdadeiramente, mas isso é algo que só se descobre mais tarde. É que nesta encosta da Serra não há muito que saber: para a Vila é sempre a descer, para o Castelo é sempre a subir, apenas com a possibilidade de umas variantes pelo meio, onde ninguém se consegue desviar muito.

Seja como for, esta possibilidade foi exaustivamente eliminada com a colocação de abundantes postes de madeira onde se assinalam todas as direcções e todas as distâncias, juntando-se a outras que já identificavam percursos pedonais, acompanhadas de riscos e cruzes amarelas e encarnadas e sobrepondo-se às escassas indicações mais antigas. São gestos desvelados que reduzem a angústia dos visitantes no momento das encruzilhadas e domesticam mais ainda esta encosta da Serra.

Há uns tempos, falava-se no Dias com Árvores, a propósito da Floresta de Epping, da ânsia pelos percursos sinalizados, em contraste com uma deliberada ausência de sinalização intrusiva que se prefere noutras paragens. Pessoalmente, votamos numa domesticação mais discreta, que finja melhor a inexistente fraga selvagem sintrense. Parece-nos que a oportunidade de nos perdermos um pouco, correndo o risco de andar uns quatro passos a mais até percebermos que continuamos no caminho certo, enriquece os passeios em Sintra, e noutros lugares também.

A todas as placas de madeira cheias de setas, de nomes de lugares e de centenas de metros, estimamos que escureçam, que emboloreçam depressa e que a paisagem as engula.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Uma Nova Velha Casa nos Lagos




Já sabemos que as acções mais unânimes da Parques de Sintra – Monte da Lua são as recuperações do património edificado. O Palácio de Monserrate e o Chalet da Condessa, em avançado resgate da sua ruína, são os exemplos mais vistosos, mas o trabalho também é apreciável nos edifícios menores espalhados pelos parques e tapadas. Já aqui tínhamos gabado a nova Casa da Lapa, hoje chegou a altura de mostrar as novas faces coradas de outra casa abandonada que estava em obras desde Abril.

Na casa da Entrada dos Lagos, tudo reluz como acabado de construir: o rosa das paredes, o encarnado dos telhados, o branco dos socos e dos beirados; os candeeiros do portão parecem ser mesmo novos, isto é, não nos lembramos (mas a nossa memória tem apenas duas décadas ou pouco mais) de alguma vez terem existido ali. O novo anexo escuro nas traseiras, que à partida poderia levantar mais reservas, não está mal para o nosso gosto, embora ainda não saibamos para que vai servir – aliás, para que vai servir exactamente todo este conjunto. Substituirá a actual entrada uns metros abaixo? O desaparecimento da obstrutora barraca de madeira onde se vendem bilhetes seria muito bem vindo.

O que menos nos agrada é um detalhe, mas um detalhe que grita aos ouvidos: aquelas duas bandeiras espetadas. Parecem-nos parte de uma compulsão para poluir a vista com acenos, reparos e chamadas de atenção, um fruto amargo da nossa época tão visualmente ruidosa. Ficamos a aguardar que os mastros enferrujem e caiam. Aliás, apesar de tudo reluzir como acabado de construir, daqui a alguns invernos, se tudo tiver corrido conforme previsto, tudo estará mais bem aconchegado ao seu lugar, ganhando sombras de musgo, mossas e manchas de idade.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Descintrificação (II)


A fotografia da esquerda foi tirada na Primavera, para ilustrar a decadência da arborização pública de Sintra: um alinhamento que em tempos fora de oito lódãos estava reduzido a cinco. Marcados no chão estavam os vestígios dos exemplares erradicados e nunca substituídos, enquanto a árvore morta em primeiro plano aguardava em silêncio que a levassem dali. Seis meses passados, o novo retrato à direita mostra que os cinco lódãos se tornaram agora apenas três. Receamos que rapidamente estes três se tornem nenhum e que esta rua passe a depender apenas das plantações privadas atrás dos muros em volta para não se tornar inóspita.

O verde mágico de Sintra deve muito à casas e quintas particulares que o cultivam, mas o espaço público, em particular os seus arruamentos arborizados, também são responsáveis por uma parte importante deste seu carácter. É evidente, no entanto, uma degradação progressiva que se exibe quer nas podas violentas (que referimos aqui, aqui ou aqui), quer nas mortes prematuras a que os maus tratos conduzem, quer na pura eliminação seguida de calcetamento rápido, ao jeito de encobrimento das provas de um crime. Os observadores atentos podem contar muitos casos de árvores desaparecidas e muito poucos de árvores de novo plantadas nas ruas desta vila.

Vejam-se estas duas imagens, da Rua D. João de Castro:




Nesta troço da rua em tempos arborizado alguém decidiu que os plátanos não devem ter copas, que as suas raízes devem ser amorosamente agasalhadas sob cimento e alcatrão e que nos céus devem reinar, em vez de ramos e folhas, fios eléctricos e telefónicos (ao centro, compondo a vista, um choupo privado decepado já pela segunda vez este ano). Que o fundo verde da fotografia não nos iluda: caso a atitude presente em primeiro plano se propague, rapidamente toda a encosta se assemelhará a um desses bairros calvos de moradias que cresceram ilegalmente à volta de Lisboa, aqui apenas com arquitectura mais sofisticada.

Porém, se nos deslocarmos alguns metros nesta rua para norte, ainda podemos deixar-nos consolar pelas últimas folhas das tílias que aqui a ladeiam. São sobreviventes de antigas mutilações severas que, nos últimos anos, têm sido misericordiosamente deixadas em paz. Suspiramos por uma rua assim ao longo de toda a sua extensão e por muitas ruas como esta onde hoje apenas há asfalto com calçada e cotos de árvores cortadas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Capitão Ahab, precisa-se



Duas horrendas baleias brancas estão a assombrar a Serra de Sintra: uma anda pelo jardim do portão principal da Pena, levantando a sua bossa acima do muro e desfigurando a paz das manhãs de Outono. Outra invadiu um outrora tranquilo terreiro junto do Castelo dos Mouros, quebrando o encanto dos caminhos e amedrontando os passantes desprevenidos. Suspeita-se que estes monstros pretendem, com a crueldade que lhes é própria, apoiar visitantes que necessitem refresco ou entretenimento - porque há quem entenda que os Parques não entretêm o suficiente e que os visitantes são excessivamente irrequietos e concentram-se com dificuldade.

Na verdade, estas baleias evocadoras de tendas de copo-d´água poluem as belas visões da Serra e arreliam sem necessidade os amantes de Sintra: «tudo o que enlouquece e que atormenta, tudo o que agita o fundo turvo das coisas, toda a verdade contendo uma dose de malícia, tudo o que desorganiza os nervos e confunde o cérebro, tudo o que existe de demoníaco na vida e no pensamento, todo o mal em suma» (Herman Melville, Moby Dick, trad. Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves, Relógio d´Água 2005, p.219).

Aqui fica por isso um apelo desesperado: não era tão bom que um perseguidor de baleias tão furioso como o Capitão Ahab, mas mais bem sucedido do que o da história terrível, arpoasse impiedosamente estas Moby Dick e restituísse a serenidade a estes lugares?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

As traseiras do Património Mundial


Nas traseiras de Sintra Património Mundial, mas de frente para a Serra, eis o Estádio de Sintra (e respectivas imediações). Situado no bairro da Portela, plenamente inserido na sua malha urbana e na zona tampão da área classificada pela UNESCO, é a sede do Sport União Sintrense, alberga a Universidade para a Terceira Idade, para além de ser usado como parque de estacionamento de veículos vários e como depósito de sucata e de entulhos diversos. Consegue a façanha de ser, simultaneamente, um caso de absoluto desleixo, de gritante mau gosto e de total demissão das autoridades municipais do planeamento e gestão do espaço público. Um sério candidato, na nossa opinião, à classificação de Lixo Mundial não se desse o caso de concorrer de forma desleal com áreas efectivamente pobres e destituídas de meios, humanos e materiais, do chamado Terceiro Mundo.

sábado, 10 de outubro de 2009

O Parque de Estacionamento, outrora conhecido por Largo da Misericórdia

Largo da Misericórdia (vista parcial)

A circulação e o estacionamento é, indubitavelmente, o problema mais grave de Sintra e também aquele que exige um projecto global corajoso, ancorado em estudos sólidos e em soluções arrojadas, e, necessariamente, numa vontade política forte. O novo mandato autárquico deveria ser a oportunidade de iniciar este processo pondo fim à atitude prevalecente nestes últimos anos: de tanto fingir que não se vê o problema conseguir acreditar que ele não existe.

No centro da Vila a necessidade de reordenamento e requalificação dos espaços públicos é notória. No entanto, para que isso aconteça é necessário que o todo o espaço mais ou menos livre deixe de ser, passiva ou activamente, destinado a estacionamento. Depois de uma entidade externa ter imposto o fim do estacionamento no Terreiro Rainha D. Amélia, defronte do Palácio Nacional de Sintra, quando é que a Câmara se decide, por exemplo, a transformar o Largo da Misericórdia (logo abaixo daquele) numa efectiva praça?

De facto, hoje, Largo da Misericórdia não é senão o nome de um parque de estacionamento público (por outras palavras, um terreno público alugado ao minuto para fins privados), onde um sitiado pelourinho não só constitui um estorvo para os automobilistas como, ao ocupar de forma permanente dois potenciais lugares, conduz a uma substancial perda de receitas privadas e municipais (ver a decisão da Câmara e da Assembleia Municipal de privatizar a exploração do estacionamento pago no concelho). E sempre num estado de duvidosa apresentação e higiene.


domingo, 20 de setembro de 2009

A Volta do Duche em versão bric-à-brac



A Câmara Municipal de Sintra parece ter alguma dificuldade em perceber o essencial: a Volta do Duche é uma das mais admiráveis alamedas/belvedere que conhecemos. É o resultado da sua beleza própria, como caminho sinuoso e arborizado, e da beleza que daí se avista: a Serra, a Vila, o Vale do Rio do Porto, o mar, o Parque da Liberdade, o Palácio Valenças, o Castelo dos Mouros, o Palácio Nacional de Sintra, mencionando apenas o óbvio. Isto significa que não precisa de ser alindada, transformada em mostruário de mobiliário urbano e afins ou, pior ainda, atafulhada de tralha diversa.

Nos últimos tempos tem sido uma sucessão de acréscimos: mais uma fila de trinta candeeiros (diferentes dos já existentes), treze mastros com telas publicitando as actividades camarárias, muitos cinzeiros, que se vêm juntar às já existentes papeleiras e aos novos pilaretes para impedir o estacionamento – ah!, e dezasseis esculturas em mármore, com as respectivas bases de suporte em aço. Vamos por partes: se os pilaretes, as papeleiras e até os cinzeiros respondem a uma necessidade óbvia, para quê os candeeiros, as telas e as esculturas?

Sobre os novos candeeiros colocados do lado do vale: desconhecemos qualquer flagrante insegurança gerada pelos que há décadas existiam exclusivamente do lado “interno” da Volta (porque seria apenas aqui?). Os novos, além de estilosos, criam poluição visual, tanto diurna como nocturna (são estilisticamente diferentes dos restantes e produzem uma luz diferente), e impedem que à noite se desfrute da vista. Se a questão era aumentar a segurança dos transeuntes os serviços da Câmara não poderiam ter escolhido no catálogo da(s) empresa(s) fornecedora(s) pontos de luz discretos e próximos do chão?

Sobre as telas: para a Câmara a Volta do Duche é a entrada nobre em Sintra Património Mundial ou o mero (mas estratégico) suporte publicitário à sua gestão do espaço público? Em vez de espalhar mastros metálicos e grandes faixas, não teria sido melhor retirar a provisória puxada eléctrica que faz com que, há décadas, um cabo aéreo atravesse a rua desde um velho e degradado poste em betão até à Fonte Mourisca?

Sobre as esculturas: independentemente da qualidade intrínseca das obras (muito variável e, quase sempre, discutível), expostas em regime de rotação anual, o essencial é que a Volta do Duche não é uma galeria nem tão pouco uma rua a necessitar de embelezamento. Qualquer obra que aqui se coloque é inferior ao próprio local. Por isso, não o melhora mas, pelo contrário, retira-lhe qualidade, introduz poluição visual. Face à grandeza do enquadramento e da vista tais obras funcionam sempre como bibelôs. Quem é que vai à Volta do Duche para ver as esculturas?

António Passaporte (1901-1983). Estrada do Duche e Palácio da Vila, c.1952. Negativo de gelatina e prata em vidro, 10 x 15cm. Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa.


À medida que, nas últimas décadas, o país foi enriquecendo e as câmaras – como a de Sintra – ficaram mais endinheiradas e, em termos de gestão, labirínticas, departamentos e responsáveis diferentes passaram a competir entre si para mostrar, de forma fácil e imediata, trabalho: o resultado é o que se tem passado recentemente na Volta do Duche. Muita tralha e pouco gosto e, menos ainda, senso ou consciência do essencial. Exceptuando o alargamento da via e o admirável crescimento das árvores e restante vegetação, é isso que se torna imediatamente óbvio ao compararmos a actual situação com fotografias de meados do século XX.

Alberto Carlos Lima (?-1949). Panorâmica de Sintra. Negativo de gelatina e prata em vidro, 13 x 18 cm. Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Uma floresta de tabuletas


Em plena floresta de Sintra uma outra espécie de floresta cresceu de forma selvagem em pleno cruzamento da Estrada da Pena com a Estrada dos Capuchos: placas, sinais, anúncios e avisos, num nunca mais acabar de informações, advertências e proibições.

O número absurdo de tabuletas, de todas as cores e feitios, aqui colocadas denota mais do que uma boa intenção: no seu frenesim informativo, diferentes entidades públicas, pouco dadas a cooperação, planeamento e bom senso, violaram todas as regras básicas da comunicação visual, da correcta gestão do espaço público e do respeito pelos valores estéticos do contexto.

Se não fosse grave e lamentável seria pedagógico: um excelente exemplo daquilo que não deve ser feito quando, numa desenfreada atitude paternalista para com transeuntes e automobilistas, se acredita que, só por si, muita informação é igual a melhor informação e, em última instância, maior conhecimento. Na verdade, o resultado é mera confusão e bastante poluição visual e, neste caso, parece não haver classificação de paisagem protegida que valha ao belo – e outrora misterioso – cruzamento da Estrada da Pena com a Estrada dos Capuchos.