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domingo, 12 de julho de 2009

Visitando a Condessa d’Edla


No fim do inverno passado, quando descíamos a devastada Estrada dos Capuchos, passando junto da entrada do Chalet da Condessa, deparámos com o novo portão luzidio aberto e decidimos entrar. Na parede do novo edifício aí construído estava, e continua a estar, um painel que identifica, em grandes manchas sobre uma planta, os limites das obras que já decorrem ou que se preparam (clique e amplie):


Fomos interpelados por um senhor que educadamente nos informou que aquela parte do parque estava fechada e que não podíamos estar ali. No entanto, porque do nosso lado havia óbvia curiosidade sobre o que se estava a passar e porque do outro lado havia um grande vontade de mostrar o que se passava, tivemos uma curta visita guiada ao novo edifício e à envolvente do Chalet, com uma descrição entusiasta do que já estava feito e do que faltava fazer, desde detalhes do processo de recuperação de materiais e técnicas construtivas até aos resultados da recuperação das redes de canalização que alimentam os lagos daquela parte do Parque. Tratava-se, fomos sabendo, do arquitecto responsável pela reconstrução do Chalet, que tinha acabado de conduzir a visita dos responsáveis pelas petrocoroas norueguesas que pagam, numa parte que não deve ser pequena, esta obra complexa. Disponível (estava-se bem dentro da hora de almoço) e desinteressado, oferecia-nos agora uma segunda visita.

A reconstrução de edifícios e infra-estruturas parece ser, talvez, a parte mais unanimemente bem sucedida da actuação da Parques de Sintra, ainda que o prazo avançado pelo arquitecto para a conclusão do Chalet (ainda este ano) não pareça fácil concretizar a quem hoje, em Julho, observe o estado da obra: a casca envolta em andaimes não parece muito diferente do que era há quatro meses. Em todo o caso, estamos à espera de resultados para aplaudir:


O abandonado jardim à volta não parece ter ainda sofrido alterações de vulto, para alem dos cortes que, em qualquer caso, não lhe melhoraram o aspecto. Ao longo de todo, ou grande parte, do perímetro identificado como “área de intervenção” no painel de cima, está a ser construída uma vedação que promete manter toda esta área isolada durante muito tempo. Entretanto, o recato deste local desapareceu com os cortes que arrasaram a Estrada dos Capuchos. O muro da Tapada e a desolação envolvente ficam logo em frente:


Uma palavra para o novo edifício frente à ruína do antigo, como uma grande roulotte high-tech sem rodas, a que com pompa foi chamado Centro Cultural do Chalet da Condessa e que, julgávamos nós, seria provisório, apenas para apoio das obras e da sua divulgação. Talvez tenha grande utilidade, talvez seja o mais discreto e menos intrusivo que poderia ser, mas o melhor que dele podemos dizer é que seriamos mais felizes se não existisse:


Enfim, no seu estado actual, a melhor imagem que se recolhe neste recanto ocidental da Tapada da Pena obtém-se do alto das “Pedras do Chalet” para nascente, olhando para bem longe do estaleiro:

domingo, 5 de abril de 2009

A auto-estrada dos Capuchos


Em Janeiro deste ano, a polémica em torno do corte de árvores nas tapadas e ao longo das estradas da serra deu origem a um conjunto de notícias no Público. Assim, no dia 23 soube-se que «Corte de árvores na serra de Sintra suscita dúvidas técnicas – Associação de Defesa do Património de Sintra vai questionar o ministro do Ambiente sobre exagero da intervenção em área protegida». No dia 24, «Corte de árvores na serra de Sintra sem “desconformidades”, diz ICNB». No dia 25, «Associação de Defesa do Património de Sintra quer que o parque natural volte a ter gestão própria» e, por fim, no dia 28, um ponto final majestático: «Ministro do Ambiente elogiou corte de árvores “infestantes” na serra de Sintra».

Em torno da estrada dos Capuchos, ao longo da tapada da Pena, o espectáculo não podia ser mais brutal. De caminho encerrado em vegetação madura e densa passou-se para algo como uma plataforma preparatória para a construção de uma auto-estrada. À faixa de dezenas de metros arrasados junta-se a espécie de estepe em que foi transformada a Tapada do Mouco, próxima do arco que a liga à Pena. Qual é o objectivo da destruição e qual vai ser o futuro destes terrenos devastados?

Uma coisa é controlar o crescimento de espécies que põem em risco a diversidade e a riqueza dos parques florestais, repovoando-os com os exemplares que têm soçobrado ao longo das últimas décadas de abandono. Um tal propósito traria algum consolo à destruição da paisagem a que se está a assistir. Mas não há plano de reflorestação conhecido e as entidades responsáveis por este processo mantém-se olimpicamente omissas nos seus meios de divulgação disponíveis. E, ainda que tudo se trate de uma mera falha de divulgação da acção da Parques de Sintra, sabemos que, a existir tal plano, a sua execução implicará um trabalho exigente e persistente. A recuperação do Palácio de Monserrate ou do Chalet da Condessa, apesar de tudo, implicam processos mais limitados no tempo e os seus resultados podem ser rapidamente visíveis. Mas, sem dedicação competente e continuada de muitos anos, os descampados que resultaram desta violência destrutiva não serão mais que matagal reminiscente das épocas áridas anteriores a D Fernando II.



As declarações nas notícias do Público não sossegam ninguém. O ICNB – Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, sócio maioritário da Parques de Sintra – declara que os objectivos são baixar o risco de incêndio e resolver problemas de segurança para quem passa na estrada, e que nas faixas destruídas serão plantadas espécies de porte arbustivo.

A declaração é alarmante! Bem sabemos que se não existir vegetação na serra, não haverá fogos. Mas não vamos por isso defender que se arrase e cimente a serra. Nem mesmo que se trate o coração da paisagem protegida, um conjunto histórico de parques únicos, como uma floresta de produção cruzada por aceiros. E quanto à segurança de quem passa na estrada, o argumento é simplesmente patético. A floresta é um corpo vivo, folhas e ramagens caem em estradas florestais, está na sua natureza. Ninguém espera realmente encontrar, a caminho do Convento dos Capuchos, as condições de circulação automóvel do IC19. Por fim, os “portes arbustivos” que o ICNB planeia para a serra fazem temer que a aspiração da entidade pública a quem se confia esta nossa paisagem protegida seja a “pudibunda nudez” da descrição amarga de Alexandre Herculano.


Uma nota final: sabemos que há um plano em conclusão para as tapadas e queremos crer que os seus objectivos não são ridículos nem criminosos. Mas nem os seus autores são deidades iluminadas, nem os cidadãos que se interessam por Sintra são ruminantes passivos e amorfos. Há que discutir publicamente as acções que a Parques de Sintra tem em preparação.