Na Tapada do Castelo dos Mouros, as faias deixam-se dormir até tarde. Nos últimos dias decidiram que estavam a perder a melhor parte da primavera e, em pouco mais de uma semana, as folhas cobriram-nas. Aqui está a nossa preferida, a primeira quando se sobe pelo caminho de Santa Maria: com cara de inverno há uma dúzia de dias, rendilhada de verde há cinco, pronta para o verão hoje de manhã.
terça-feira, 28 de abril de 2009
Faias do Castelo Despertam
Na Tapada do Castelo dos Mouros, as faias deixam-se dormir até tarde. Nos últimos dias decidiram que estavam a perder a melhor parte da primavera e, em pouco mais de uma semana, as folhas cobriram-nas. Aqui está a nossa preferida, a primeira quando se sobe pelo caminho de Santa Maria: com cara de inverno há uma dúzia de dias, rendilhada de verde há cinco, pronta para o verão hoje de manhã.
sábado, 25 de abril de 2009
O Bosque das Nuvens Mortas
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Glicínias arrancadas em Seteais
Congratulamo-nos com o restauro (ainda não completamente terminado) do Palácio de Seteais – propriedade da cadeia Tivoli Hotels & Resorts. O que não compreendemos é porque é que dessa recuperação resultou o arranque das glicínias que cresciam ao longo das paredes laterais da rampa de acesso ao miradouro central.
De facto, não estando estas em nenhuma das fachadas nobres (ou, sequer, menos nobres) do palácio mas crescendo, simplesmente, em dois muros de suporte não vislumbramos qualquer razão objectiva para esta abrupta eliminação. Em vez delas, apenas calçada e paredes imaculadamente pintadas. No entanto, do lado de lá de um dos muros, surgiu uma complexa (e bem visível) maquinaria metálica – que acreditamos necessária ao funcionamento do hotel. Mas necessárias eram também as glicínias que ali existiam.
Talvez o corte das glicínias do miradouro de Seteais pareça a muitos – a começar pela direcção do hotel, os autores do projecto de restauro ou a Câmara Municipal que licenciou a obra – um pormenor sem grande significado ou importância. A verdade, porém, é que Sintra é feita destes pormenores. Mesmo quando, como aqui em Seteais, ela parece ter uma dimensão monumental, a sua grandeza é o resultado de uma sábia mistura entre arquitectura e paisagem, natureza e artifício, intenção e surpresa. Basta olhar para as fotografias que apresentamos para perceber o óbvio: o miradouro de Seteais ficou mais pobre. Como mais pobre ficou, por isso, Sintra. Tal como nós, impossibilitados doravante de ver florir as glicínias em Seteais.
domingo, 19 de abril de 2009
Uma sinfonia sintrense
É subjectivo e discutível, claro, mas achamos que há algo “sintrense” na música de Mahler. No dia 21 teremos a rara oportunidade de ouvir a Terceira Sinfonia ao vivo em Lisboa, às 21h, no Coliseu.
O início da Terceira Sinfonia chamou-se, inicialmente, O que me dizem os rochedos e as montanhas. Bruno Walter conta que quando Mahler o viu a contemplar os Alpes, num verão em Steinbach am Attersee, lhe disse que tudo aquilo tinha já ele composto na sua sinfonia. No quarto andamento, uma voz feminina grave canta um poema de Nietzsche (aqui traduzido por Paulo Osório de Castro):
Que diz a profunda meia-noite?
«Eu dormia, dormia...
Do sonho profundo acordei:
O mundo é profundo,
E mais profundo do que o dia julga.
Profunda é a sua dor,
O gozo, mais profundo ainda que a aflição.
A dor diz: “Passa!”
Mas todo o prazer quer eternidade,
Quer profundíssima eternidade!»
sábado, 18 de abril de 2009
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Resposta da Parques de Sintra
A Parques de Sintra - Monte da Lua, através do presidente do seu conselho de administração, António Lamas, foi célere, extensiva e muito clara na sua resposta às questões que colocámos sobre a ligação a Santa Eufémia. Aqui transcrevemos na íntegra o texto recebido, a que juntamos três das dez fotos que o acompanhavam (legenda nossa):
O caminho antigo para Santa Eufémia
A nova estrada para Santa Eufémia
O início da nova estrada para Santa Eufémia
Agradecendo a oportunidade de esclarecer a obra de recuperação do caminho de ligação entre Santa Eufémia e a Tapada do Shore, informo o seguinte:
- Este antigo caminho, situado entre a Tapada do Forjaz e o Parque da Pena, que foi calcetado, ligava pelo exterior do muro Sul do Parque da Pena dois dos seus portões: o de Santa Eufémia e o da Tapada do Shore junto à Pousada Azevedo Gomes, há muito entrada de serviço no Parque para quem vem de São Pedro. Esta ligação foi com o tempo perdendo interesse, pois o caminho, íngreme, degradou-se muito com enxurradas, que foram arrastando o saibro e as pedras da calçada, e tornou-se intransitável.
- Para conforto e segurança dos visitantes criou-se um estacionamento calcetado junto ao portão da Tapada do Shore, que passou a ser o acesso de serviço ao Parque e Palácio da Pena. Esta decisão e a recente ocupação da Pousada Azevedo Gomes pela GNR, para além do acesso ao arquivo da ex-Direcção Geral de Florestas, implicaram um aumento de tráfego de dois sentidos na estreita ligação entre a rampa de Santa Eufémia e o largo da Pousada, o qual não permite o cruzamento de veículos.
- Com a recuperação do caminho de ligação entre Santa Eufémia e a Tapada do Shore, o acesso ao largo da Pousada (portão de serviço da PSML, GNR e arquivo) passou a poder ser feito, em condições de segurança, pelo Alto de Santa Eufémia, com saída para a rampa de Santa Eufémia, criando-se um anel de sentido único. Não foi criado nenhum novo acesso à ermida. A sinalização de tráfego foi acordada com a GNR.
- A directriz adoptada foi ajustada o mais possível ao traçado existente, excepto na zona de chegada ao portão e Pousada, onde houve necessidade de aumentar o largo, recuando o muro da Pena para permitir a entrada no portão. Os muros foram recuperados utilizando a técnica tradicional (pedra de granito irregular e argamassas de cal), à semelhança do que também tem sido prática em todas as propriedades geridas pela PSML, exceptuando-se a parte de muro recuado que tem função estrutural de suporte do caminho, executada em betão armado, a bujardar.
- Na recuperação dos principais caminhos nos Parques da Pena e de Monserrate que a PSML vem efectuando desde 2007 (até final de 2008 foram recuperados cerca de 5km), tem sido utilizada a calçada de cubos de granito, como na Calçada da Pena. Esta era também a solução pretendida para a recuperação do caminho em causa, descrita no painel explicativo da obra, mas tal não foi possível por questões de aderência dada a sua grande inclinação. A solução encontrada seguiu a preconizada na rampa de Santa Eufémia, com a utilização de betão estriado em detrimento de alternativas em asfalto, mais agressivas do ponto de vista ambiental e estético.
- O largo de Santa Eufémia foi também beneficiado com reparação do pavimento em saibro. A segurança deste espaço, que era reconhecidamente “mal frequentado”, ficou também melhorada com a passagem das viaturas de serviço da PSML e, em especial, da GNR.
Para melhor ilustração da recuperação em causa junto envio imagens do antes e depois.
Com os melhores cumprimentos,
António Lamas
Presidente do Conselho de Administração
Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A.
Parque de Monserrate, 2710-405 Sintra
Tel: + 351 21 923 73 00
Fax: + 351 21 923 73 50
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Glicínias
Entre o final do Inverno e o princípio da Primavera, as glicínias irrompem em Sintra cobrindo muros e paredes, colunas e árvores, em jardins privados e nos caminhos e espaços públicos. A sua beleza intensa e efémera tem qualquer coisa de perturbante, tal como o seu aroma doce e intenso de inebriante. E ao fim da tarde, com o aproximar do crepúsculo, nos dias quentes de Primavera, elas participam desse fenómeno que, anualmente, transtorna a atmosfera de Sintra: um envolvente cheiro a flores.
Sair de casa para ir ver florir as glicínias (a Seteais, antes das obras, por exemplo), eis um dos espectáculos mais recompensadores.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Nova estrada para Santa Eufémia e uma estranha placa
Existe desde há poucas semanas uma nova estrada para Santa Eufémia. São cerca de 100 metros ligando ao terreiro da ermida o núcleo de edifícios semi-abandonados, pouco mais que centenários, que em tempos recentes foram pousada de juventude e actualmente albergam a GNR. A estrada substitui um caminho pedonal – bastante selvagem, desde que nos recordamos dele – ainda assinalado por placas indicando a direcção de Santa Eufémia.
A nova via implicou o corte de alguns metros quadrados do perímetro da tapada da Pena, cujo muro foi derrubado e reconstruído um pouco recuado. Parte dele é agora muro de suporte em betão. Trata-se, como se pode ver nas fotografias, de um perfil estreito, com valetas em cubos de granito e pavimento em betão. Os automóveis circulam em sentido único, descendo esta nova estrada e continuando pela antiga até à estrada de Santa Eufémia.
O estranho aqui é a placa informativa que identifica a obra e o seu financiador, o Programa Ambiente da UE. A placa salienta, a vermelho, o traçado do antigo caminho (e não o da nova estrada), descrevendo a obra como sendo a “recuperação do caminho de ligação”, a pavimentar “em calçada de cubos de granito”, o que não corresponde obviamente à obra executada.
Não temos a certeza de ser preferível, ou mais justificável, ter a recuperação do antigo caminho em cubos ou a nova estrada em betão, mas vamos questionar a Parques de Sintra sobre este assunto e voltaremos à questão.
sábado, 11 de abril de 2009
Mais "podas"
quarta-feira, 8 de abril de 2009
A amputação anual de árvores
Qual a justificação científica, a ponderosa necessidade pública ou a superior razão estética? Não sabemos. Ano após ano, ficamos à espera que as entidades públicas responsáveis por estas campanhas se dignem a justificar a sua acção. Um dos argumentos mais populares – qual verdade cientificamente comprovada – é o das alergias que as nefandas árvores (não a poluição) provocam nos humanos. O problema é que, em rigor, a esmagadora maioria dos referidos humanos não faz a mais pequena ideia do porquê das suas alergias. Simplesmente, acha que… e, pelos vistos, câmaras municipais e juntas de freguesia também acham que… Curioso é que este é um problema de saúde pública intrinsecamente português. Noutras cidades europeias, por exemplo, tais rituais anuais são desconhecidos. O que nos conduz à hipótese dos portugueses, num alarmante défice de adaptação ao meio ambiente, nunca se terem habituado a conviver com árvores.
No caso de Sintra, mas não só, a proximidade da grande mancha florestal da serra e a existência de um fenómeno atmosférico chamado vento, torna ainda mais patética esta crença na resolução do pressuposto problema pelo corte das árvores que se encontram à porta de casa das vítimas. Totalmente compreensiva com a situação, partilhando mesmo da comum ignorância, os serviços da Câmara Municipal chegam ao ponto de o fazer sob pedido: basta observar como, numa mesma rua, certas árvores frente a certos edifícios são objecto destes cortes enquanto outras, mais à frente ou atrás, permanecem incólumes – por agora. Acima de tudo, estes massivos e dispendiosos processos de amputação – dos quais as principais vítimas são, por norma, os plátanos – enraízam na nossa frágil cultura cívica, científica e ambiental e, por isso mesmo, são um outro espelho de nós próprios. Saídos recentemente da ruralidade e ainda mal instalados na nossa recente urbanidade, não gostamos de árvores ou, pelo menos, apenas as toleramos desde que anualmente reduzidas a cotos ou, na melhor das hipóteses, a meia dúzia de ramos decepados.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Uma floresta de tabuletas
Em plena floresta de Sintra uma outra espécie de floresta cresceu de forma selvagem em pleno cruzamento da Estrada da Pena com a Estrada dos Capuchos: placas, sinais, anúncios e avisos, num nunca mais acabar de informações, advertências e proibições.
O número absurdo de tabuletas, de todas as cores e feitios, aqui colocadas denota mais do que uma boa intenção: no seu frenesim informativo, diferentes entidades públicas, pouco dadas a cooperação, planeamento e bom senso, violaram todas as regras básicas da comunicação visual, da correcta gestão do espaço público e do respeito pelos valores estéticos do contexto.
Se não fosse grave e lamentável seria pedagógico: um excelente exemplo daquilo que não deve ser feito quando, numa desenfreada atitude paternalista para com transeuntes e automobilistas, se acredita que, só por si, muita informação é igual a melhor informação e, em última instância, maior conhecimento. Na verdade, o resultado é mera confusão e bastante poluição visual e, neste caso, parece não haver classificação de paisagem protegida que valha ao belo – e outrora misterioso – cruzamento da Estrada da Pena com a Estrada dos Capuchos.
domingo, 5 de abril de 2009
A auto-estrada dos Capuchos
Em torno da estrada dos Capuchos, ao longo da tapada da Pena, o espectáculo não podia ser mais brutal. De caminho encerrado em vegetação madura e densa passou-se para algo como uma plataforma preparatória para a construção de uma auto-estrada. À faixa de dezenas de metros arrasados junta-se a espécie de estepe em que foi transformada a Tapada do Mouco, próxima do arco que a liga à Pena. Qual é o objectivo da destruição e qual vai ser o futuro destes terrenos devastados?
Uma coisa é controlar o crescimento de espécies que põem em risco a diversidade e a riqueza dos parques florestais, repovoando-os com os exemplares que têm soçobrado ao longo das últimas décadas de abandono. Um tal propósito traria algum consolo à destruição da paisagem a que se está a assistir. Mas não há plano de reflorestação conhecido e as entidades responsáveis por este processo mantém-se olimpicamente omissas nos seus meios de divulgação disponíveis. E, ainda que tudo se trate de uma mera falha de divulgação da acção da Parques de Sintra, sabemos que, a existir tal plano, a sua execução implicará um trabalho exigente e persistente. A recuperação do Palácio de Monserrate ou do Chalet da Condessa, apesar de tudo, implicam processos mais limitados no tempo e os seus resultados podem ser rapidamente visíveis. Mas, sem dedicação competente e continuada de muitos anos, os descampados que resultaram desta violência destrutiva não serão mais que matagal reminiscente das épocas áridas anteriores a D Fernando II.
As declarações nas notícias do Público não sossegam ninguém. O ICNB – Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, sócio maioritário da Parques de Sintra – declara que os objectivos são baixar o risco de incêndio e resolver problemas de segurança para quem passa na estrada, e que nas faixas destruídas serão plantadas espécies de porte arbustivo.
A declaração é alarmante! Bem sabemos que se não existir vegetação na serra, não haverá fogos. Mas não vamos por isso defender que se arrase e cimente a serra. Nem mesmo que se trate o coração da paisagem protegida, um conjunto histórico de parques únicos, como uma floresta de produção cruzada por aceiros. E quanto à segurança de quem passa na estrada, o argumento é simplesmente patético. A floresta é um corpo vivo, folhas e ramagens caem em estradas florestais, está na sua natureza. Ninguém espera realmente encontrar, a caminho do Convento dos Capuchos, as condições de circulação automóvel do IC19. Por fim, os “portes arbustivos” que o ICNB planeia para a serra fazem temer que a aspiração da entidade pública a quem se confia esta nossa paisagem protegida seja a “pudibunda nudez” da descrição amarga de Alexandre Herculano.
Uma nota final: sabemos que há um plano em conclusão para as tapadas e queremos crer que os seus objectivos não são ridículos nem criminosos. Mas nem os seus autores são deidades iluminadas, nem os cidadãos que se interessam por Sintra são ruminantes passivos e amorfos. Há que discutir publicamente as acções que a Parques de Sintra tem em preparação.