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quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Pena no Verão (III)




Eis então a reportagem da subida à Cruz Alta pela estrada comum (que foi recentemente desalcatroada e calcetada com cubos de granito – desculpem-nos se deixamos das imagens da calçada em si para outro dia). Os momentos perfeitos estão a meio do caminho, entre a névoa cerrada e o céu aberto, nos locais em que o nevoeiro cede ao sol.



terça-feira, 2 de março de 2010

Conto de Inverno (III): A Batalha do Castanhal


Era uma vez, mais uma vez, o Castanhal da Rainha. Desta vez, trata-se da guerra sem quartel que se trava pela supremacia no bosque. Somam vitórias os castanheiros, claro, e enquanto assim for este reino será chamado Castanhal. As batalhas deixam no seu rasto os restos das árvores mortas em combate, enquanto ao lado crescem as novas colonizações de Castanea sativa.

Há tempos, houve aqui uma vítima especial – por favor, não nos acusem de voyeurismo mórbido, mas deixámo-nos deslumbrar pelo cadáver de um pinheiro. Fotografámos sem parar os restos do seu corpo contra a névoa de uma manhã fúnebre deste novo ano. Ficou suspenso na queda, nem exactamente morto de pé, como as árvores, nem exactamente jazente, como esperamos nós próprios um dia vir a estar.




Pode imaginar-se que, em vez de acabar de cair, este pinheiro poderoso está a meio caminho de se levantar, como num desses filmes de horror muito repetitivos. Que enterrará mais uma vez raízes novas na terra, que se armará de vida e que regressará para uma nova batalha contra os castanheiros triunfantes, sorridentes e cheios de si. Castanheiros indiferentes a mais outro pinheiro morto no meio do Castanhal.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Conto de Inverno (I): O Pórtico e a Guarda




Era uma vez um bosque muito antigo de castanheiros, e o nome desse castanhal recordava uma rainha morta há muito tempo. Estava esse castanhal tão encerrado atrás de muros de pedra e de rochedos que as suas árvores se tinham tornado uma comunidade isolada, absorvida pelos seus assuntos e indiferente às agitações humanas que corriam acima e abaixo pelas estradas à volta. Castanhas germinando e castanheiros bebés, adolescentes impertinentes e adultos perfeitos, árvores envelhecidas, moribundos e cadáveres, conviviam sem as barreiras que existem noutros lugares mais profanos. Era, em suma, um lugar onde o Inverno se celebrava como se diz que deve ser celebrado, em segredo e nas horas mais nevoentas do dia.

A verdadeira porta por onde tinha de passar quem neste bosque pretendesse ser realmente recebido não era nenhum dos portões dos muros da cerca, mas sim o pórtico solene que um certo castanheiro decrépito edificara, ano após ano, à medida da deformação e da queda dos seus ramos, dourado por fetos e trepadeiras. Guardava este pórtico uma criatura rara, de pelagem semelhante ao musgo, que em tempos se disse ter sido uma beleza enfeitiçada, ou uma criatura que poderia maldizer ou abençoar os caminhantes que lhe procurassem os olhos cegos, ou colocar-lhes perguntas que os poderiam perder ou salvar, ou que era – muito improvavelmente! – um tronco morto de castanheiro.

E no que diz respeito à acção propriamente dita: numa dessas manhãs de celebração invernosa, por entre o nevoeiro, bem perto desse pórtico, à vista da cabeça chifrada de guarda, aconteceu que...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sintra no Buçaco (III)


Correndo o risco de transformar este blog num Buçaco, acerca de, não resistimos a mais uma reportagem outonal de despedida com mais oito fotografias quadradas dessa mata cercada. Comecemos por nos lançar do parapeito da varanda da sala de jantar do Palace Hotel, o grande antecessor da Quinta da Regaleira, e voguemos para norte até ao solene Cupressus lusitanica a que chamam Cedro de São José e que, a caminho dos quatro séculos de vida, bate os mais velhos da Pena por duzentos anos:


Depois, planemos sobre uma encosta que parecerá familiar a quem conheça, por exemplo, a envolvente de Monserrate. Em tempos, toda Sintra deve ter sido muito parecida com esta assembleia etérea de Quercus vários, azevinhos, loureiros e medronheiros, que se reúne para conferenciar entre as portas das Lapas e de Coimbra:



Deslizemos depois ao longo de alguns caminhos amarelados até ao grupo majestoso dos grandes freixos – Fraxinus ornus – na base da Fonte Fria:




E encerremos, por fim, os mergulhos na floresta do Buçaco, aproximando-nos da orla nevoenta de mais uma abertura de luz demagógica, entre o arvoredo:

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sintra no Buçaco (II)





Quem reparar nas etiquetas da mensagem anterior perceberá que as fotografias demagógicas que recolhemos, que podiam ser de Sintra, são antes do Buçaco. Numa visita recente voltámos a confirmar, como em Setembro, o mesmo sangue que parece correr em ambos os lugares. E mais abundantes ainda do que em Setembro, voltámos a encontrar, agora com toda a força persuasiva do Outono avançado, alguns dos encantos particulares que distinguem o Buçaco.

Como é costume, fontes de satisfação e fontes de tristeza caminham aos pares, como a flor e os espinhos na rosa. Assim, os males do abandono e da pobreza propiciam caminhos remotos e selvagens, floresta espessa vagamente interrompida por jardinagem deixada em descuido, placas caídas, cancelas ferrugentas e ermidas que se arruínam. O mais velho de todos os ciprestes-do-Buçaco no Buçaco – e em Portugal – é celebrado com um poema numa inscrição fanada:

Cedro de S. José
Plantado em 1644 (?)
é considerado o cedro

Nada aqui se aproxima daqueles caminhos diariamente aspirados e polidos sem ervas nem ramos fora do sítio, que se querem tornar moda na Pena e no Castelo dos Mouros e que tanto nos aborrecem. Mas também não estão à vista quaisquer gestos de recuperação da devota rede de passos e ermidas do Deserto e do Sacromonte, que deve ter tido o seu mais recente apogeu no primeiro par de décadas após a instalação das esculturas cerâmicas representando a Paixão, há 70 anos. Este conjunto decadente que lentamente se desfaz ilumina ainda a floresta fabulosa, aguardando socorro.

É também evidente que a mata nunca sofreu o abandono radical e prolongado a que Sintra esteve sujeita e, por isso, talvez não corra o risco de necessitar, nos tempos mais próximos, de um ataque tão radical e sangrento como o que em Sintra conhecemos. Nem a sua localização é propícia à invasão turística sintrense, com os seus milhões anuais da venda de entradas. Assim, as vistas que o Buçaco nos concede num passeio de Novembro recordam algo do que pode ter sido uma Sintra anterior ao furor dos dias de hoje e anterior às décadas abandonadas, quando livremente se entrava e saía da sua selva apenas discretamente cuidada.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Demagogia Fotográfica, ou «Mostra-me o Caminho»





Numa expedição fotográfica de há dois dias em que voltámos a recolher imagens muito parecidas com algumas que aqui colocámos em Setembro, um de nós desabafou que tudo isto não passava de demagogia sob forma fotográfica – objectos escandalosamente fáceis e vulgares, resultado de um só clique displicente que, no entanto, enganavam os seus espectadores com o seu sempre eficaz e pasmante efeito – como o efeito, disse um de nós, de provas fotográficas da existência de Deus.

É um facto: em certos lugares bem escolhidos, em momentos bem delimitados e fugazes, verificada a proporção exacta de luz e de vapor e sendo-nos oferecido o ângulo de visão eleito, um clique irrefutável basta para lançar de joelhos os incréus. Ou, em qualquer caso, para obter ilustrações que se adequem à Mostra-me o Caminho e a outras publicações místicas.

domingo, 15 de novembro de 2009

Outono: last call




Quem quiser gozar por inteiro os prazeres do Outono sintrense vai ter de se apressar. Uns dias mais e a paisagem invernosa sobrepõe-se à outonal. Uma manhã molhada e escura como a de hoje já prenuncia o fim dos dias dourados. No entanto, ao longo da semana que vem, prevê-se tempo mais frio mas manhãs nevoentas seguidas por dias ensolarados, que ainda podem bem ser saboreados por inteiro, como despojos desta tão aguardada e demasiado curta estação do ano. Estas imagens, envelhecendo rapidamente, recolhemos há talvez sete dias na encosta do Castelo. Estamos a ver se não nos fogem entre os dedos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Poemas com “Outubro” (II)





A propósito deste amanhecer soalheiro de Outubro na encosta da Tapada do Castelo, o segundo dos quatro poemas de Cristina Campo com o nome “Outubro”:

*

Agora que voltada está a clepsidra
e o futuro, este sol ardente,
já me bate nas costas, com os pássaros
tornarei sem dor
a Bellosguardo: lá pousei a garganta
sobre verdes guilhotinas de cancelos
de um rosa eterno
vibravam as mãos, vazias de flores.

Oscilante entre o fogos dos olivais,
brilhava Outubro antigo, um amor novo.
Emudecida, afiava o coração
na navalha das águias impensáveis
(já próximas, já nossas, já distantes):
aéreos sepulcros, túmulos de neve
do meu amanhã pueril, do sol.


Cristina Campo
Trad. José Tolentino Mendonça




quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sintra no Buçaco (I)


Se decidíssemos iniciar um grupo de mensagens sobre lugares aparentados com Sintra – a Sintra da serra oriental e do Parque da Pena – teríamos de escolher o seu gémeo Buçaco antes de qualquer outro. Também é uma floresta mágica cercada por um muro, deliberadamente construída no alto de uma montanha, recebendo ares atlânticos que a enevoam. Ambas culminam numa Cruz Alta que por pouco não se levantam exactamente à mesma altura, e as áreas por que se estendem são comparáveis. O Buçaco nasceu dois séculos mais cedo, a partir da fixação dos Carmelitas Descalços, enquanto que a Pena, apesar dos Jerónimos que nela se instalaram – um século antes dos Carmelitas no Buçaco – deve-se realmente a D. Fernando II.

Em ambos os casos, os edifícios originais das ordens religiosas foram absorvidos por delirante arquitectura oitocentista que adoramos sem condições. Mas ao longo de todo o século XX – com ecos mesmo nos nossos dias – o violento preconceito moderno que despreza a arte do século XIX foi, na melhor das hipóteses, condescendente. Assim, no Guia de Portugal reeditado pela Gulbenkian, o Palácio da Pena «não se distingue pelos primores da arquitectura e a harmonia do conjunto», «os viajantes de gosto mais educado e exigente vêem nele um pretensioso mistifório de todos os estilos» e «apenas se salvam do desprezo algumas partes do antigo mosteiro e a sua situação maravilhosa». Quanto ao Buçaco, diverte-nos muito ler «interessante como fantasia cenográfica, o palácio, à luz dos severos princípios da arquitectura, rigorosamente considerado, carece de originalidade, de precisão e de gosto»!


Ambos têm um programa místico determinante, embora o de Sintra, individualista, fluido e adaptável, tal como a época que lhe deu origem, não esteja realmente expresso e necessite constante interpretação. Quem quer que conheça bem Sintra se apercebe facilmente do seu poder de atracção da espiritualidade pouco convencional. Já o programa do Buçaco está bem ancorado no catolicismo. Por um lado, a constelação centrada no convento formando o Deserto carmelita, em representação do Monte Carmelo da Palestina. Por outro, o Sacromonte, uma cidade de Jerusalém simbólica recriando o martírio de Cristo, reproduzindo nos meandros da mata as exactas medidas míticas dos Passos do Calvário.


Hoje, após a curta mas frenética acção da Parques de Sintra (provavelmente milionária, comparada com os recursos que imaginamos atribuídos ao Buçaco), há algo mais decadente e abandonado mas também mais selvagem e estranho na mata carmelita. Ao contrário de Sintra, as portas dos muros estão abertas, o acesso é livre a todas as horas e parece haver uma fruição popular, embora não avassaladora, de automóveis e piqueniques de fim-de-semana vindos das redondezas, ainda que tudo pareça mais modesto e recatado. Talvez seja também a maior distância dos centros geradores do grande turismo predador que contribui para lhe dar um carácter algo adormecido, comparado com uma Pena que sofre cada vez mais os malefícios da sua celebridade.



quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Monstro pré-histórico aguarda...


...no Castanhal da Rainha, pelo beijo de um vagueante que quebre o feitiço e que o transforme no Príncipe ou Princesa Encantada que realmente é, e por quem alguns de nós continuam a aguardar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O sol aparece no Castanhal da Rainha


Deixem-nos louvar mais uma vez o insignificante Castanhal da Rainha. A mais alta montanha europeia apenas atinge a insignificante metade da mais alta montanha do mundo. A mais alta montanha portuguesa, a insignificante metade da mais alta montanha da Europa. Os 528 metros da Serra de Sintra são ridículos mesmo num país como Portugal e os 10 quilómetros da sua maior extensão desprezáveis – em passo de passeio, são apenas três horas de Santa Eufémia ao Cabo da Roca. A Pena e as tapadas anexas são só um canto oriental encolhido nesta serra diminuta, a Tapada do Inhaca só uma fracção pequena de todas as tapadas e o Castanhal da Rainha apenas um metro débil nesta tapada, dividido entre os dois pobres palmos planos a poente e outro tanto na vertente nascente. Os seus castanheiros nem sequer são especialmente antigos – mas toda a Pena, com o seu século e meio, é bastante juvenil para o padrão de muitas das suas espécies.

Neste insignificante canto do mundo, durante uns curtos minutos de sorte, assiste-se à dissolução da névoa matinal pelo sol e à aparição de mais um dia de Verão.



domingo, 28 de junho de 2009

Açores em Sintra

Acordámos com uma manhã açoriana. O anticiclone parece estar com dificuldades de afirmação e, por isso, nada de calor confortável, céu azul e nortada à tarde. Há uma semana, secura africana. Hoje, é como se fossemos a décima ilha do arquipélago, que é coisa que achamos que não nos fica nada mal. Vinte graus, humidade elevada, cheiro a verão molhado e vapores que se soltam de todo o lado. Outubro costuma ter alguns dias assim, mas uma oportunidade destas à beira de Julho também sabe bem. E depois, há o sol a despontar na encosta do Castelo, num intervalo entre chuvadas.