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domingo, 20 de setembro de 2009

A Volta do Duche em versão bric-à-brac



A Câmara Municipal de Sintra parece ter alguma dificuldade em perceber o essencial: a Volta do Duche é uma das mais admiráveis alamedas/belvedere que conhecemos. É o resultado da sua beleza própria, como caminho sinuoso e arborizado, e da beleza que daí se avista: a Serra, a Vila, o Vale do Rio do Porto, o mar, o Parque da Liberdade, o Palácio Valenças, o Castelo dos Mouros, o Palácio Nacional de Sintra, mencionando apenas o óbvio. Isto significa que não precisa de ser alindada, transformada em mostruário de mobiliário urbano e afins ou, pior ainda, atafulhada de tralha diversa.

Nos últimos tempos tem sido uma sucessão de acréscimos: mais uma fila de trinta candeeiros (diferentes dos já existentes), treze mastros com telas publicitando as actividades camarárias, muitos cinzeiros, que se vêm juntar às já existentes papeleiras e aos novos pilaretes para impedir o estacionamento – ah!, e dezasseis esculturas em mármore, com as respectivas bases de suporte em aço. Vamos por partes: se os pilaretes, as papeleiras e até os cinzeiros respondem a uma necessidade óbvia, para quê os candeeiros, as telas e as esculturas?

Sobre os novos candeeiros colocados do lado do vale: desconhecemos qualquer flagrante insegurança gerada pelos que há décadas existiam exclusivamente do lado “interno” da Volta (porque seria apenas aqui?). Os novos, além de estilosos, criam poluição visual, tanto diurna como nocturna (são estilisticamente diferentes dos restantes e produzem uma luz diferente), e impedem que à noite se desfrute da vista. Se a questão era aumentar a segurança dos transeuntes os serviços da Câmara não poderiam ter escolhido no catálogo da(s) empresa(s) fornecedora(s) pontos de luz discretos e próximos do chão?

Sobre as telas: para a Câmara a Volta do Duche é a entrada nobre em Sintra Património Mundial ou o mero (mas estratégico) suporte publicitário à sua gestão do espaço público? Em vez de espalhar mastros metálicos e grandes faixas, não teria sido melhor retirar a provisória puxada eléctrica que faz com que, há décadas, um cabo aéreo atravesse a rua desde um velho e degradado poste em betão até à Fonte Mourisca?

Sobre as esculturas: independentemente da qualidade intrínseca das obras (muito variável e, quase sempre, discutível), expostas em regime de rotação anual, o essencial é que a Volta do Duche não é uma galeria nem tão pouco uma rua a necessitar de embelezamento. Qualquer obra que aqui se coloque é inferior ao próprio local. Por isso, não o melhora mas, pelo contrário, retira-lhe qualidade, introduz poluição visual. Face à grandeza do enquadramento e da vista tais obras funcionam sempre como bibelôs. Quem é que vai à Volta do Duche para ver as esculturas?

António Passaporte (1901-1983). Estrada do Duche e Palácio da Vila, c.1952. Negativo de gelatina e prata em vidro, 10 x 15cm. Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa.


À medida que, nas últimas décadas, o país foi enriquecendo e as câmaras – como a de Sintra – ficaram mais endinheiradas e, em termos de gestão, labirínticas, departamentos e responsáveis diferentes passaram a competir entre si para mostrar, de forma fácil e imediata, trabalho: o resultado é o que se tem passado recentemente na Volta do Duche. Muita tralha e pouco gosto e, menos ainda, senso ou consciência do essencial. Exceptuando o alargamento da via e o admirável crescimento das árvores e restante vegetação, é isso que se torna imediatamente óbvio ao compararmos a actual situação com fotografias de meados do século XX.

Alberto Carlos Lima (?-1949). Panorâmica de Sintra. Negativo de gelatina e prata em vidro, 13 x 18 cm. Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa.

sábado, 22 de agosto de 2009

Nocturno

António Passaporte (1901-1983). Palácio Nacional de Sintra. Negativo de gelatina e prata em vidro, 10 x 15 cm. Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa.

No âmbito da iniciativa Quintas à Noite nos Museus, na próxima quinta-feira, dia 27, o Palácio Nacional de Sintra – vulgarmente conhecido por Palácio da Vila – estará aberto até à meia-noite. Apesar das pessoas de bom senso saberem que se deve manter a maior distância dos monumentos sintrenses durante o mês de Agosto, esta é, no entanto, uma excelente oportunidade para ter uma rara experiência crepuscular nas salas, pátios ou jardins do antigo paço real. E, qual Cinderela, abandoná-lo rapidamente às doze badaladas – não sem antes dar uma última olhadela aos cisnes que dão nome à famosa sala.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Beijo em despedida


Nascemos com apenas um mês de diferença: hoje despedimo-nos do Beijo da Terra, reproduzindo a sua última imagem e o poema que sempre o acompanhou. Que renasça depressa.


EM SINTRA

As águas maravilham-se entre os lábios
e a fala, rápidos
em Sintra espelhos surgem como pássaros,
a luz de que se erguem acontece às águas,
à flor da fala
divide os lábios e a ternura. Da linguagem
rebentam folhas duma cor incómoda, as de que
maravilhado de água surges entre
livros, algum crime, um
menino a dissolver-se ou dele os lábios e ergues
equívoca a luz depois. Rápidos
espelhos então cercam-te explodindo os pássaros.

Luís Miguel Nava, Películas,1979