terça-feira, 29 de junho de 2010

A Pena no Verão (II)


Sintra e Pena envoltas em nevoeiro são um tema tão fascinante que podíamos passar o resto da vida deste blogue à volta das suas imagens. Desde as manhãs mágicas de há um ano que esperávamos o momento em que pudéssemos assistir na Cruz Alta a uma manhã de serra isolada no meio das nuvens. Os últimos dias – e o de hoje até esta hora incluído – têm sido de nevoeiro persistente. Ontem enchemo-nos de tal maneira de fotografias de subidas, picos e descidas pela névoa, que algumas delas terão de acabar aqui.

Temos também o testemunho destes muito toscos 41 segundos panorâmicos sobre o mar branco, desde o Guincho para norte, pelo Palácio da Pena diluído, até Mafra:

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Pena no Verão (I)





Hoje, enquanto Lisboa aquecia debaixo de um dia de Verão radioso, Sintra permaneceu quase todo o dia em névoa. Ao meio-dia, durante alguns minutos, o Palácio da Pena abriu-se ao sol. Mas rapidamente uma massa húmida de noroeste voltou a escondê-lo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Magia da Noite de São João


Não, este título não anuncia um texto romântico-místico. É mesmo de magia-bruxaria que se trata. E se esperámos que passassem vinte e quatro horas sobre a noite de São João foi para que a receita que aqui vamos deixar não fosse precipitadamente utilizada por algum jovem inconsciente. Assim se poderá ponderar durante as próximas trezentas e sessenta e quatro noites e decidir com responsabilidade o que fazer na próxima noite de São João.

O facto de um de nós ter cultivado fantasias ocultistas durante a pré-adolescência justifica o caso. Entusiasmado com a oferta de um pequeno “Dicionário de Magia” de capa dourada (um livro há muito tempo perdido), fixou-se na magia que era descrita numa das suas entradas – teria sido talvez na letra S, em “São João”, ou talvez na letra F, em “Fetos”. A receita era esta: aquele que se cobrir de fetos na noite de São João ganhará o dom da invisibilidade.

Muito simples, mas um tanto vago, não? Cobrir-se durante quanto tempo? E como, exactamente, e durante quanto tempo, se adquiria a invisibilidade? Havia algum antídoto para regressar ao estado visível, ou a coisa aconteceria naturalmente por si? Um familiar céptico e brutal garantiu, na altura, que não havia magia nenhuma no caso: quem quer que se cobrisse, de fetos ou do que quer que fosse, na noite de São João ou em qualquer outra noite, ficaria obviamente invisível (enquanto se mantivesse coberto).

Fosse como fosse, a possibilidade da invisibilidade parecia demasiado fascinante aos doze anos e, nos anos que se seguiram, todos os ajuntamentos de fetos passaram a ser olhados com cobiça e a sua localização registada, para que na noite de São João seguinte o feitiço se fizesse. Infelizmente, fosse pela distância aos fetais, fosse por esquecimento ou fosse, por fim, por desinteresse, nunca foi possível comprovar a extraordinária receita.

E eis que no ano de 2010, no Parque da Pena, naquela encosta sem qualquer graça junto ao mais alto lago dos “Lagos”, reparámos na grande floresta de fetos que aí cresceu, pronta a servir a magia de São João. Este ano, mais uma vez, escapou-nos a noite. Mas quem sabe se dentro de um ano menos um dia não andaremos por aí sem que ninguém nos veja. Pena que a pré-adolescência tenha passado (parece-nos) e que a ideia não seja agora tão fascinante assim.


quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Propósito de Infestantes (I)


Vendo erguerem-se as legiões de acácias nascidas nas encostas recém-cortadas da Tapada dos Bichos somos confrontados com os sentimentos ambivalentes que esta espécie – e também os pitósporos – nos podem provocar. Ambas ameaçam conquistar a Serra de Sintra e extinguir todas as outras espécies em seu redor. A avaliar pela evolução da Pena desde a Monografia, até mesmo esse parque fabuloso tenderá a transformar-se, se não for contrariado, num grande pitósporo-acacial.

E ainda assim, os cortes extensivos que a Parques de Sintra-Monte da Lua tem promovido – acreditemos que são o modo correcto de contradizer esta expansão – deram lugar a estepes desoladoras, no lugar da antiga exuberância selvagem, e tornaram-nos infelizes. Mesmo que seja plantada uma nova floresta e que a empresa gestora tenha a capacidade e a persistência de a fazer triunfar sobre acácias e pitósporos, serão necessárias décadas até esse triunfo ser desfrutável.

A nossa infelicidade é pessimista e egocêntrica: talvez confiemos pouco no sucesso da nova plantação, dada a tenacidade intensa e prolongada que vai exigir. E, ainda que esse sucesso aconteça, sabemos que daqui a cinquenta anos, mesmo que sobrevivos, será já demasiado tarde para gozar os seus folhosos resultados.

Assim, estamos hoje numa disposição amorosa no que respeita à temível Acacia melanoxylon, numa disposição de regresso aos tempos de D. Fernando, quando as acácias eram apenas belas e vigorosas árvores exóticas adequadas às encostas de Sintra. Quem não aprecia, por exemplo, este belo bosque de infestantes que acompanha os caminhantes entre o estacionamento dos Lagos e a cerca do Castelo, na parte oriental da Tapada dos Bichos?




terça-feira, 15 de junho de 2010

Hora do Disparate


Esta placa de trânsito tipicamente sintrense pode ser visitada no início do Caminho da Alba Longa. É reminiscente das lendas antigas que nos dizem como identificar os nativos (de origem ou por afinidade electiva): têm coberto de musgo o lado abrigado virado a norte!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Em Busca das Aveleiras Perdidas (III)


Talvez as aveleiras nos tenham escapado – ainda não desistimos da nossa busca – ou talvez se tenham mesmo extinto neste meio século de abandono. Descíamos a Calçada um tanto desconsolados, de Poente para Nascente, já quase nos Lagos, quando reparámos num volume folhoso abundante saltando o muro. Consultámos os nossos manuais – ainda somos demasiado ignorantes para reconhecer logo uma avellana que se atravesse à nossa frente. Não nos enganámos, pois não? Aqui está uma sobrevivente desses avelanedos de outros tempos. À beira da estrada, com a aparência mais vulgar e desleixada deste mundo, baixa e alcançável à mão, visível para quem quer que a queira ver.


quinta-feira, 10 de junho de 2010

Em Busca das Aveleiras Perdidas (II)


A consulta da Carta Cadastral (seleccionar a secção V) mostrou-nos claramente que o muro Tapada dos Bichos seguia colado à Capela de Santo António e que não se entrava nessa quinta sem querer. Assim, numa segunda jornada, repetimos o mergulho no coração das trevas e passámos ao largo Capela e da porta meio arruinada, também ela descrita na Monografia, que convida a atravessar a propriedade vizinha e a chegar num pulo à Estrada da Pena.

A subida ao longo do limite poente da Tapada é bastante mais árdua e desolada: faz-se sobre silvas, resvalando nos detritos traiçoeiros deixados pelo desbaste. Os cortes foram aqui radicais e a mancha desarborizada é muito extensa. Compensando a aridez deste esforço, têm-se magníficos panoramas sobre o Castelo e a Pena. Olhando para o chão, no entanto, vêm-se exércitos bebés de Acacia melanoxylon anunciando um futuro sombrio.


terça-feira, 8 de junho de 2010

Em Busca das Aveleiras Perdidas (I)




Soubemos, através de antigos documentos obscuros (aliás, através da página 313 da Monografia do Parque da Pena), que a meio do século passado tinham sido localizadas na Tapada dos Bichos vigorosas tribos da aveleiras – avelanedos – perdidas entre as velhas canalizações que davam de beber ao Paço da Vila e os ribeiros que atravessam os Pisões, que alimentam a Ribeira de Colares e que enchem o mar na Praia das Maçãs.

Lançámo-nos assim nessa perigosa expedição em busca de sobreviventes da civilização perdida da Corylus avellana, beneficiando dos cortes recentes feitos pela Parques de Sintra nestas encostas abruptas que caem para norte do Portão dos Lagos e da Calçada: uma impressionantemente longa jornada de nada menos que 200 metros, desde o estacionamento dos Lagos até à cota mais baixa da Tapada.

Não avistámos uma única aveleira, apenas ocasionais castanheiros e carvalhos perdidos na multidão de Acer pseudoplatanus e pitósporos, com assomos ameaçadores de acácias. Nos confins das brenha, em vez de uma voz moribunda exclamando “The horror! The horror!”, tivemos a visão da Capela de Santo António, em plena Quinta de Santo António da Serra. Convencidos de que nos tínhamos tornado invasores de propriedade privada, retirámos encosta acima para repensar a nossa estratégia de busca.

Mesmo sem aveleiras, esta encosta vale bem uma visita. Deve dar-se preferência à hora do sol baixo da manhã, coado pelas copas de Junho. Entre os Junhos, escolha-se um que tenha sucedido a um Inverno chuvoso, um que tenha engrossado bem o som da ribeira.

domingo, 6 de junho de 2010

Um Chá na Casa dos Penedos


Há quase 90 anos que o casarão rosado desenhado por Raul Lino marca posição nas vistas da Vila Velha, mas para a maior parte das pessoas era apenas um edifício imponente pendurado na encosta ou mais uma casa fechada na rua Marechal Saldanha. Agora, há uma porta aberta todos os dias e um anjo de pedra que recebe os visitantes e os dirige para a esquerda, até uma exposição de fotografia sintrense, ou para a direita, até às mesas onde se servem lanches e refeições ligeiras, espalhadas por uma sala de grandes janelões e por um terraço claro. E em vez de apenas casarão saliente na vista da encosta, a Casa dos Penedos tornou-se também um novo miradouro deslumbrante sobre Sintra.



terça-feira, 1 de junho de 2010

Com Poderes Públicos Assim…

Portela de Sintra

É pressuposto que as entidades públicas tenham preocupações públicas (i.e., relativas a todos e expressas na boa administração do que a todos pertence e/ou serve) ao passo que as privadas, particularmente as empresas, conduzem a sua acção em função de interesses particulares. Mas para que estes sejam absolutamente legítimos, é necessário que as primeiras regulem a actividade das últimas, garantam a prévia protecção dos bens colectivos e, acima de tudo, assegurem os mais universais interesses da comunidade. Porém, o que constantemente observamos é que, enquanto as entidades privadas nunca perdem de vista os seus objectivos, as entidades públicas parecem cada vez mais incapazes de perceber com clareza a sua natureza e, desse modo, cumprir as funções que lhes reservamos. Seja porque passam a perseguir objectivos privados ou, o que é mais frequente, a comportarem-se de forma indiferente em relação a estes ou, pior ainda, a mascarar (ou legitimar) fins privados com aparentes necessidades públicas. Quando uma tal crise existencial acontece, a polis fica reduzida a um conjunto assustador de interesses pessoais – dos declarados e legítimos aos mascarados, ilegais, ou simplesmente ilegítimos. Algo particularmente patente nos pequenos pormenores da gestão do espaço público.

É o caso dos corrimãos – ou protecções metálicas – que estão a ser colocados nas esquinas das ruas de Sintra. Aparentemente servem uma função pública: protegerem os transeuntes da circulação automóvel e vice-versa. Mas com alguma atenção (não é preciso muita) constata-se que servem de suporte a placas publicitárias comercializadas por uma empresa privada. Se acrescentarmos a discutível necessidade destas protecções todo este processo torna-se particularmente preocupante. Não nos admiraríamos por isso que a própria ideia tenha sido da respectiva empresa, a qual naturalmente viu nisto uma inteligente prossecução dos seus objectivos privados. E a Câmara?

Já sabíamos que a actual administração municipal não resiste a catálogos de mobiliário urbano e afins. Por isso, esta autorizada apropriação privada do espaço colectivo é também mais um exemplo das consequências poluentes de uma tal fraqueza pública. No seu travo a “lado errado dos anos oitenta” (quando estes objectos estavam na moda), estes corrimãos-estendais-de-publicidade expõem o pesadelo resultante da aliança entre os pragmáticos interesses privados, a moderna fraqueza das instituições públicas e o magno desígnio camarário de alindar Sintra. Mais assustador é pensar que, caso a referida empresa tenha também pago o fabrico dos ditos objectos, haverá certamente na Câmara Municipal de Sintra quem considere que, neste negócio, fomos nós que ficámos a ganhar…