Em Janeiro deste ano, a polémica em torno do corte de árvores nas tapadas e ao longo das estradas da serra deu origem a um conjunto de notícias no Público. Assim, no dia 23 soube-se que «Corte de árvores na serra de Sintra suscita dúvidas técnicas – Associação de Defesa do Património de Sintra vai questionar o ministro do Ambiente sobre exagero da intervenção em área protegida». No dia 24, «Corte de árvores na serra de Sintra sem “desconformidades”, diz ICNB». No dia 25, «Associação de Defesa do Património de Sintra quer que o parque natural volte a ter gestão própria» e, por fim, no dia 28, um ponto final majestático: «Ministro do Ambiente elogiou corte de árvores “infestantes” na serra de Sintra».
Em torno da estrada dos Capuchos, ao longo da tapada da Pena, o espectáculo não podia ser mais brutal. De caminho encerrado em vegetação madura e densa passou-se para algo como uma plataforma preparatória para a construção de uma auto-estrada. À faixa de dezenas de metros arrasados junta-se a espécie de estepe em que foi transformada a Tapada do Mouco, próxima do arco que a liga à Pena. Qual é o objectivo da destruição e qual vai ser o futuro destes terrenos devastados?
Uma coisa é controlar o crescimento de espécies que põem em risco a diversidade e a riqueza dos parques florestais, repovoando-os com os exemplares que têm soçobrado ao longo das últimas décadas de abandono. Um tal propósito traria algum consolo à destruição da paisagem a que se está a assistir. Mas não há plano de reflorestação conhecido e as entidades responsáveis por este processo mantém-se olimpicamente omissas nos seus meios de divulgação disponíveis. E, ainda que tudo se trate de uma mera falha de divulgação da acção da Parques de Sintra, sabemos que, a existir tal plano, a sua execução implicará um trabalho exigente e persistente. A recuperação do Palácio de Monserrate ou do Chalet da Condessa, apesar de tudo, implicam processos mais limitados no tempo e os seus resultados podem ser rapidamente visíveis. Mas, sem dedicação competente e continuada de muitos anos, os descampados que resultaram desta violência destrutiva não serão mais que matagal reminiscente das épocas áridas anteriores a D Fernando II.
As declarações nas notícias do Público não sossegam ninguém. O ICNB – Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, sócio maioritário da Parques de Sintra – declara que os objectivos são baixar o risco de incêndio e resolver problemas de segurança para quem passa na estrada, e que nas faixas destruídas serão plantadas espécies de porte arbustivo.
A declaração é alarmante! Bem sabemos que se não existir vegetação na serra, não haverá fogos. Mas não vamos por isso defender que se arrase e cimente a serra. Nem mesmo que se trate o coração da paisagem protegida, um conjunto histórico de parques únicos, como uma floresta de produção cruzada por aceiros. E quanto à segurança de quem passa na estrada, o argumento é simplesmente patético. A floresta é um corpo vivo, folhas e ramagens caem em estradas florestais, está na sua natureza. Ninguém espera realmente encontrar, a caminho do Convento dos Capuchos, as condições de circulação automóvel do IC19. Por fim, os “portes arbustivos” que o ICNB planeia para a serra fazem temer que a aspiração da entidade pública a quem se confia esta nossa paisagem protegida seja a “pudibunda nudez” da descrição amarga de Alexandre Herculano.
Uma nota final: sabemos que há um plano em conclusão para as tapadas e queremos crer que os seus objectivos não são ridículos nem criminosos. Mas nem os seus autores são deidades iluminadas, nem os cidadãos que se interessam por Sintra são ruminantes passivos e amorfos. Há que discutir publicamente as acções que a Parques de Sintra tem em preparação.
Em torno da estrada dos Capuchos, ao longo da tapada da Pena, o espectáculo não podia ser mais brutal. De caminho encerrado em vegetação madura e densa passou-se para algo como uma plataforma preparatória para a construção de uma auto-estrada. À faixa de dezenas de metros arrasados junta-se a espécie de estepe em que foi transformada a Tapada do Mouco, próxima do arco que a liga à Pena. Qual é o objectivo da destruição e qual vai ser o futuro destes terrenos devastados?
Uma coisa é controlar o crescimento de espécies que põem em risco a diversidade e a riqueza dos parques florestais, repovoando-os com os exemplares que têm soçobrado ao longo das últimas décadas de abandono. Um tal propósito traria algum consolo à destruição da paisagem a que se está a assistir. Mas não há plano de reflorestação conhecido e as entidades responsáveis por este processo mantém-se olimpicamente omissas nos seus meios de divulgação disponíveis. E, ainda que tudo se trate de uma mera falha de divulgação da acção da Parques de Sintra, sabemos que, a existir tal plano, a sua execução implicará um trabalho exigente e persistente. A recuperação do Palácio de Monserrate ou do Chalet da Condessa, apesar de tudo, implicam processos mais limitados no tempo e os seus resultados podem ser rapidamente visíveis. Mas, sem dedicação competente e continuada de muitos anos, os descampados que resultaram desta violência destrutiva não serão mais que matagal reminiscente das épocas áridas anteriores a D Fernando II.
As declarações nas notícias do Público não sossegam ninguém. O ICNB – Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, sócio maioritário da Parques de Sintra – declara que os objectivos são baixar o risco de incêndio e resolver problemas de segurança para quem passa na estrada, e que nas faixas destruídas serão plantadas espécies de porte arbustivo.
A declaração é alarmante! Bem sabemos que se não existir vegetação na serra, não haverá fogos. Mas não vamos por isso defender que se arrase e cimente a serra. Nem mesmo que se trate o coração da paisagem protegida, um conjunto histórico de parques únicos, como uma floresta de produção cruzada por aceiros. E quanto à segurança de quem passa na estrada, o argumento é simplesmente patético. A floresta é um corpo vivo, folhas e ramagens caem em estradas florestais, está na sua natureza. Ninguém espera realmente encontrar, a caminho do Convento dos Capuchos, as condições de circulação automóvel do IC19. Por fim, os “portes arbustivos” que o ICNB planeia para a serra fazem temer que a aspiração da entidade pública a quem se confia esta nossa paisagem protegida seja a “pudibunda nudez” da descrição amarga de Alexandre Herculano.
Uma nota final: sabemos que há um plano em conclusão para as tapadas e queremos crer que os seus objectivos não são ridículos nem criminosos. Mas nem os seus autores são deidades iluminadas, nem os cidadãos que se interessam por Sintra são ruminantes passivos e amorfos. Há que discutir publicamente as acções que a Parques de Sintra tem em preparação.
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