A Câmara Municipal de Sintra parece ter alguma dificuldade em perceber o essencial: a Volta do Duche é uma das mais admiráveis alamedas/belvedere que conhecemos. É o resultado da sua beleza própria, como caminho sinuoso e arborizado, e da beleza que daí se avista: a Serra, a Vila, o Vale do Rio do Porto, o mar, o Parque da Liberdade, o Palácio Valenças, o Castelo dos Mouros, o Palácio Nacional de Sintra, mencionando apenas o óbvio. Isto significa que não precisa de ser alindada, transformada em mostruário de mobiliário urbano e afins ou, pior ainda, atafulhada de tralha diversa.
Nos últimos tempos tem sido uma sucessão de acréscimos: mais uma fila de trinta candeeiros (diferentes dos já existentes), treze mastros com telas publicitando as actividades camarárias, muitos cinzeiros, que se vêm juntar às já existentes papeleiras e aos novos pilaretes para impedir o estacionamento – ah!, e dezasseis esculturas em mármore, com as respectivas bases de suporte em aço. Vamos por partes: se os pilaretes, as papeleiras e até os cinzeiros respondem a uma necessidade óbvia, para quê os candeeiros, as telas e as esculturas?
Sobre os novos candeeiros colocados do lado do vale: desconhecemos qualquer flagrante insegurança gerada pelos que há décadas existiam exclusivamente do lado “interno” da Volta (porque seria apenas aqui?). Os novos, além de estilosos, criam poluição visual, tanto diurna como nocturna (são estilisticamente diferentes dos restantes e produzem uma luz diferente), e impedem que à noite se desfrute da vista. Se a questão era aumentar a segurança dos transeuntes os serviços da Câmara não poderiam ter escolhido no catálogo da(s) empresa(s) fornecedora(s) pontos de luz discretos e próximos do chão?
Sobre as telas: para a Câmara a Volta do Duche é a entrada nobre em Sintra Património Mundial ou o mero (mas estratégico) suporte publicitário à sua gestão do espaço público? Em vez de espalhar mastros metálicos e grandes faixas, não teria sido melhor retirar a provisória puxada eléctrica que faz com que, há décadas, um cabo aéreo atravesse a rua desde um velho e degradado poste em betão até à Fonte Mourisca?
Sobre as esculturas: independentemente da qualidade intrínseca das obras (muito variável e, quase sempre, discutível), expostas em regime de rotação anual, o essencial é que a Volta do Duche não é uma galeria nem tão pouco uma rua a necessitar de embelezamento. Qualquer obra que aqui se coloque é inferior ao próprio local. Por isso, não o melhora mas, pelo contrário, retira-lhe qualidade, introduz poluição visual. Face à grandeza do enquadramento e da vista tais obras funcionam sempre como bibelôs. Quem é que vai à Volta do Duche para ver as esculturas?
À medida que, nas últimas décadas, o país foi enriquecendo e as câmaras – como a de Sintra – ficaram mais endinheiradas e, em termos de gestão, labirínticas, departamentos e responsáveis diferentes passaram a competir entre si para mostrar, de forma fácil e imediata, trabalho: o resultado é o que se tem passado recentemente na Volta do Duche. Muita tralha e pouco gosto e, menos ainda, senso ou consciência do essencial. Exceptuando o alargamento da via e o admirável crescimento das árvores e restante vegetação, é isso que se torna imediatamente óbvio ao compararmos a actual situação com fotografias de meados do século XX.
Nos últimos tempos tem sido uma sucessão de acréscimos: mais uma fila de trinta candeeiros (diferentes dos já existentes), treze mastros com telas publicitando as actividades camarárias, muitos cinzeiros, que se vêm juntar às já existentes papeleiras e aos novos pilaretes para impedir o estacionamento – ah!, e dezasseis esculturas em mármore, com as respectivas bases de suporte em aço. Vamos por partes: se os pilaretes, as papeleiras e até os cinzeiros respondem a uma necessidade óbvia, para quê os candeeiros, as telas e as esculturas?
Sobre os novos candeeiros colocados do lado do vale: desconhecemos qualquer flagrante insegurança gerada pelos que há décadas existiam exclusivamente do lado “interno” da Volta (porque seria apenas aqui?). Os novos, além de estilosos, criam poluição visual, tanto diurna como nocturna (são estilisticamente diferentes dos restantes e produzem uma luz diferente), e impedem que à noite se desfrute da vista. Se a questão era aumentar a segurança dos transeuntes os serviços da Câmara não poderiam ter escolhido no catálogo da(s) empresa(s) fornecedora(s) pontos de luz discretos e próximos do chão?
Sobre as telas: para a Câmara a Volta do Duche é a entrada nobre em Sintra Património Mundial ou o mero (mas estratégico) suporte publicitário à sua gestão do espaço público? Em vez de espalhar mastros metálicos e grandes faixas, não teria sido melhor retirar a provisória puxada eléctrica que faz com que, há décadas, um cabo aéreo atravesse a rua desde um velho e degradado poste em betão até à Fonte Mourisca?
Sobre as esculturas: independentemente da qualidade intrínseca das obras (muito variável e, quase sempre, discutível), expostas em regime de rotação anual, o essencial é que a Volta do Duche não é uma galeria nem tão pouco uma rua a necessitar de embelezamento. Qualquer obra que aqui se coloque é inferior ao próprio local. Por isso, não o melhora mas, pelo contrário, retira-lhe qualidade, introduz poluição visual. Face à grandeza do enquadramento e da vista tais obras funcionam sempre como bibelôs. Quem é que vai à Volta do Duche para ver as esculturas?
António Passaporte (1901-1983). Estrada do Duche e Palácio da Vila, c.1952. Negativo de gelatina e prata em vidro, 10 x 15cm. Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa.
À medida que, nas últimas décadas, o país foi enriquecendo e as câmaras – como a de Sintra – ficaram mais endinheiradas e, em termos de gestão, labirínticas, departamentos e responsáveis diferentes passaram a competir entre si para mostrar, de forma fácil e imediata, trabalho: o resultado é o que se tem passado recentemente na Volta do Duche. Muita tralha e pouco gosto e, menos ainda, senso ou consciência do essencial. Exceptuando o alargamento da via e o admirável crescimento das árvores e restante vegetação, é isso que se torna imediatamente óbvio ao compararmos a actual situação com fotografias de meados do século XX.
Alberto Carlos Lima (?-1949). Panorâmica de Sintra. Negativo de gelatina e prata em vidro, 13 x 18 cm. Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa.
Estoy de acuerdo con el post. No solo es un mal de Sintra, ocurre en muchas ciudades patrimonio de la humanidad de España. Si algo es antiguo por qué poner mobiliario urbano moderno y de grandes dimensione. Hay que hacerlo que se mimetice con el paisaje y que no nos demos visualmente cuenta que es nuevo. A cerca de la Volta do Duque, hay tanta vegetación que no se admiran las vistas. Hadta otro día.
ResponderEliminarÉ exactamente essa a questão: há móveis em excesso nesta sala. E a tudo isto deve acrescentar-se o trânsito infernal! Até breve.
ResponderEliminarNeste caso, menos será mais!
ResponderEliminarNa minha opinião, quer as esculturas quer os candeeiros novos (além do gosto discutível) não ficam nada bem!
Caro David: estamos inteiramente de acordo. Infelizmente essa não parece ser a opinião dos responsáveis pela gestão do nosso espaço público.
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