terça-feira, 18 de maio de 2010

Perdidos? Nunca Mais!


Tanto quanto nos podemos lembrar, nas nossas primeiras subidas ao Castelo a partir de Santa Maria, subíamos com a pequena excitação provocada pelo risco de nos perdermos. Se não estamos errados, havia apenas uma indicação importante, num lugar estratégico, junto da igreja românica arruinada, que até há pouco tempo indicava a quem vinha do lado da Pena os caminhos de Sintra e do Castelo.

Claro que o risco de perda não existe verdadeiramente, mas isso é algo que só se descobre mais tarde. É que nesta encosta da Serra não há muito que saber: para a Vila é sempre a descer, para o Castelo é sempre a subir, apenas com a possibilidade de umas variantes pelo meio, onde ninguém se consegue desviar muito.

Seja como for, esta possibilidade foi exaustivamente eliminada com a colocação de abundantes postes de madeira onde se assinalam todas as direcções e todas as distâncias, juntando-se a outras que já identificavam percursos pedonais, acompanhadas de riscos e cruzes amarelas e encarnadas e sobrepondo-se às escassas indicações mais antigas. São gestos desvelados que reduzem a angústia dos visitantes no momento das encruzilhadas e domesticam mais ainda esta encosta da Serra.

Há uns tempos, falava-se no Dias com Árvores, a propósito da Floresta de Epping, da ânsia pelos percursos sinalizados, em contraste com uma deliberada ausência de sinalização intrusiva que se prefere noutras paragens. Pessoalmente, votamos numa domesticação mais discreta, que finja melhor a inexistente fraga selvagem sintrense. Parece-nos que a oportunidade de nos perdermos um pouco, correndo o risco de andar uns quatro passos a mais até percebermos que continuamos no caminho certo, enriquece os passeios em Sintra, e noutros lugares também.

A todas as placas de madeira cheias de setas, de nomes de lugares e de centenas de metros, estimamos que escureçam, que emboloreçam depressa e que a paisagem as engula.

5 comentários:

  1. Não podia estar mais de acordo. A etiqueta "poluição visual e lixo" é muito apropriada para as referidas placas.
    Que descobertas deliciosas não ficámos nós a dever à ausência de sinalização, em tantas percursos pelo nevoeiro e pelo verde.
    Eu cá morro de ternura pelos velhos marcos de pedra, discretos e enigmáticos com as suas iniciais esotéricas.
    Na Rampa do Castelo, há um "D.F.II" estupendo à porta da Quinta da Abelheira (se ainda não o tiraram de lá...)
    Em Sintra, se virmos com o coração, o essencial pode ser visível para os olhos.

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  2. É verdade, António; Sintra descobre-se "com o coração"!

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  3. Acho que a informação nos percursos pedestres é fundamental e Sintra devia encorajar os visitantes a seguir esses indicações em vez de irem de carro para todo o lado. Mas um pouco de bom senso não lhe ficava mal. Isto, além de feio, é um exagero.

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  4. Ah, PV, percebo perfeitamente o vosso desencanto e eu teria sido muito menos politicamente correcta a escrever o que escreveram. Não há muita paciência para tanta «caixinha». Esta a do «vamos brincar aos percursos pedestres».
    Mas não receiem. O fôlego para este tipo de coisas costuma acabar, em Portugal, em menos de um fósforo.
    Por outras palavras, sem manutenção, vão apodrecer, sim - isto se nenhum daqueles terroristas de spray na mão não se lembrar de as escrevinhar, inutilizando-as, de facto, entretanto.

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  5. Uma opinião sensata, Paulo. Lidar com a intensidade de visitantes de Sintra obriga a encontrar formas alternativas de subir ao Castelo e à Pena que não impliquem automóvel, e a subida a pé, para quem a pode fazer, é a grande alternativa. Gostamos da Serra sem setas e placas, mas temos de concordar que são necessárias algumas indicações de direcção, controladas, nalguns sítios estratégicos.

    Antuérpia: de facto, uma destas setas da foto já caíu ou foi arrancada e algumas das placas informativas existentes neste percurso foram destruídas. Essas bonitas e originais inscrições em spray de que falas é que ainda não demos por elas!

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