domingo, 16 de agosto de 2009

A Invenção de Sintra (II)


A invenção de Sintra que testemunhamos em Cinco Artistas em Sintra não foi nem repentina nem, para João Cristino da Silva, trabalho de uma só obra. Ao longo das suas últimas duas décadas de vida, o artista pintou a Serra e a Pena inúmeras vezes, tornando Sintra o seu motivo favorito e, desse modo, pela primeira vez, um tema privilegiado da pintura.

João Cristino da Silva (1829-1877). Paisagem, c.1876. Óleo sobre tela, 46 x 34 cm. Sintra, Palácio Nacional da Pena.

A maioria dessas obras encontra-se em colecções privadas. Algumas em colecções públicas. É o caso da Paisagem que representa o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros e os rochedos e penhascos da Serra e que terá sido a sua última pintura antes do mergulho definitivo na loucura que, em 1877, o conduzirá à morte. Adquirida por D. Fernando, encontra-se ainda hoje na posse do Palácio Nacional da Pena.

João Cristino da Silva (1829-1877). Serra de Sintra, c.1855-57.
Óleo sobre tela, 32,5 x 45 cm. Sintra, ex-Museu Regional de Sintra.


João Cristino da Silva (1829-1877). Estrada da Pena, c.1855-57.
Óleo sobre tela, 36 x 49 cm. Sintra, ex-Museu Regional de Sintra.

Públicas são também duas outras pequenas obras datáveis do período de Cinco Artistas em Sintra e que pertencem à Câmara Municipal de Sintra, tendo integrado o espólio do Museu Regional de Sintra. Acontece que este museu foi recentemente extinto e a sua colecção que, tanto quanto nos lembramos, integra ainda obras de Alfredo Keil (1850-1907), António Carneiro (1872-1930) e Mily Possoz (1888-1967), para dar apenas três exemplos, está guardada – não sabemos onde nem em que condições – longe do olhar do público. À invisibilidade ideológica das obras do Museu do Chiado junta-se, assim, a invisibilidade incompreensível das do ex-museu sintrense. A invenção pictórica de Sintra é hoje, sobretudo, um acontecimento para desfrute privado ou simplesmente virtual.

4 comentários:

  1. Não tinha reparado que tinham continuado. É o que dá limitarmo-nos a seguir links de outros (queridos) blogs :-). Aprende-se sempre aqui. Keep on the good work!

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  2. Cara Antuérpia: após um curto intervalo voltaremos à(s) pintura(s) e a Cristino da Silva. Obrigado pelas palavras de encorajamento.

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  3. Penso que faria sentido juntar estas obras aos "Cinco Artistas..." e fazer do Museu do Chiado um museu. Como escreveu a Io em baixo, ele anda armado "ao pingarelho" quase desde a abertura, pretendendo ser não se sabe bem o quê, mais uma galeria de exposições que um museu, e quem deseja ver a colecção do antigo MNAC desespera.

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  4. Paulo, é absolutamente verdade: devíamos ter um grande museu do século XIX e não temos. A colecção do Museu do Chiado / MNAC é a maior e a melhor. Podia até ser ampliada. O próprio museu, ao contrário de outros, tem instalações renovadas e uma excelente localização. Ainda assim, a arte de um século permanece na clandestinidade.

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