domingo, 11 de julho de 2010

A Propósito de Infestantes (II)


Começámos por confessar o prazer culpado que nos dão algumas acácias de Sintra. Em intensidade de culpa, logo após as acácias vêm os pitósporos, denominação desagradável que se presta bem a árvores virulentas e usurpadoras. Se quisermos ser menos severos podemos recorrer ao mais suave nome Pittosporum undulatum, ou melhor ainda, ao insinuante “árvore-do-incenso”. O abandono das matas ao longo da Estada da Pena foi fazendo com que, em muitos troços, estas folhas onduladas e lustrosas suplantassem todas as outras. Sem árvores-do-incenso pouco restaria das sombras desta estrada, que se tornaria assim noutro caminho através da estepe, como os que agora há mais acima, onde a luta contra as infestantes é mais aguerrida.

Um dos nossos momentos preferidos da Estrada da Pena, por exemplo, aquele da curva apertada e do muro alto que suporta a encosta, logo acima da entrada para a Azinhaga do Vale dos Anjos, não seria nada sem a infestação dos pitósporos ondulados do incenso:


Mas há outra loa a cantar às árvores-do-incenso: Nos primeiros dias mornos de Abril, quando o sol se põe, desce da Serra um cheiro forte que anuncia a primeira primavera a todos os que desembarcam em Sintra. Durante anos, achámos que era apenas o cheiro das boas noites sintrenses nessa época eufórica. Mas é mais que isso, é o cheiro açucarado irresistível destas infestantes que ameaçam devorar o nosso éden.


2 comentários:

  1. Enfim, ninguém é só qualidades. E que fazem uma linda curva apertada, fazem :))

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  2. Apertada, fresca e bem cheirosa. Pena que amem demais a Serra de Sintra!

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