terça-feira, 8 de junho de 2010

Em Busca das Aveleiras Perdidas (I)




Soubemos, através de antigos documentos obscuros (aliás, através da página 313 da Monografia do Parque da Pena), que a meio do século passado tinham sido localizadas na Tapada dos Bichos vigorosas tribos da aveleiras – avelanedos – perdidas entre as velhas canalizações que davam de beber ao Paço da Vila e os ribeiros que atravessam os Pisões, que alimentam a Ribeira de Colares e que enchem o mar na Praia das Maçãs.

Lançámo-nos assim nessa perigosa expedição em busca de sobreviventes da civilização perdida da Corylus avellana, beneficiando dos cortes recentes feitos pela Parques de Sintra nestas encostas abruptas que caem para norte do Portão dos Lagos e da Calçada: uma impressionantemente longa jornada de nada menos que 200 metros, desde o estacionamento dos Lagos até à cota mais baixa da Tapada.

Não avistámos uma única aveleira, apenas ocasionais castanheiros e carvalhos perdidos na multidão de Acer pseudoplatanus e pitósporos, com assomos ameaçadores de acácias. Nos confins das brenha, em vez de uma voz moribunda exclamando “The horror! The horror!”, tivemos a visão da Capela de Santo António, em plena Quinta de Santo António da Serra. Convencidos de que nos tínhamos tornado invasores de propriedade privada, retirámos encosta acima para repensar a nossa estratégia de busca.

Mesmo sem aveleiras, esta encosta vale bem uma visita. Deve dar-se preferência à hora do sol baixo da manhã, coado pelas copas de Junho. Entre os Junhos, escolha-se um que tenha sucedido a um Inverno chuvoso, um que tenha engrossado bem o som da ribeira.

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