quinta-feira, 24 de junho de 2010

Magia da Noite de São João


Não, este título não anuncia um texto romântico-místico. É mesmo de magia-bruxaria que se trata. E se esperámos que passassem vinte e quatro horas sobre a noite de São João foi para que a receita que aqui vamos deixar não fosse precipitadamente utilizada por algum jovem inconsciente. Assim se poderá ponderar durante as próximas trezentas e sessenta e quatro noites e decidir com responsabilidade o que fazer na próxima noite de São João.

O facto de um de nós ter cultivado fantasias ocultistas durante a pré-adolescência justifica o caso. Entusiasmado com a oferta de um pequeno “Dicionário de Magia” de capa dourada (um livro há muito tempo perdido), fixou-se na magia que era descrita numa das suas entradas – teria sido talvez na letra S, em “São João”, ou talvez na letra F, em “Fetos”. A receita era esta: aquele que se cobrir de fetos na noite de São João ganhará o dom da invisibilidade.

Muito simples, mas um tanto vago, não? Cobrir-se durante quanto tempo? E como, exactamente, e durante quanto tempo, se adquiria a invisibilidade? Havia algum antídoto para regressar ao estado visível, ou a coisa aconteceria naturalmente por si? Um familiar céptico e brutal garantiu, na altura, que não havia magia nenhuma no caso: quem quer que se cobrisse, de fetos ou do que quer que fosse, na noite de São João ou em qualquer outra noite, ficaria obviamente invisível (enquanto se mantivesse coberto).

Fosse como fosse, a possibilidade da invisibilidade parecia demasiado fascinante aos doze anos e, nos anos que se seguiram, todos os ajuntamentos de fetos passaram a ser olhados com cobiça e a sua localização registada, para que na noite de São João seguinte o feitiço se fizesse. Infelizmente, fosse pela distância aos fetais, fosse por esquecimento ou fosse, por fim, por desinteresse, nunca foi possível comprovar a extraordinária receita.

E eis que no ano de 2010, no Parque da Pena, naquela encosta sem qualquer graça junto ao mais alto lago dos “Lagos”, reparámos na grande floresta de fetos que aí cresceu, pronta a servir a magia de São João. Este ano, mais uma vez, escapou-nos a noite. Mas quem sabe se dentro de um ano menos um dia não andaremos por aí sem que ninguém nos veja. Pena que a pré-adolescência tenha passado (parece-nos) e que a ideia não seja agora tão fascinante assim.


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