quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Venerando a Búnia-Búnia


À Araucaria bidwillii chamam Araucária da Austrália ou Araucária da Queenslândia (nomes que se atropelam na boca), ou Pinheiro Búnia (um pouco melhor, mas ainda um tanto pálido). O baptismo iluminado, sonoro e expressivo é Búnia-Búnia, sem dúvida: face à pompa e à sugestão tal nome, todos os outros se deveriam humildemente extinguir.

A centena e meia de quilómetros para o interior de Brisbane repousa a Serra das Búnias que, como a de Sintra, não é muito comprida, nem muito larga, nem muito alta. Nos seus picos que pouco ultrapassam os mil metros, entre o Monte Kiangarow e o Monte Mowbullan, também se reúnem e encorpam as nuvens. Hoje acolhe os despojos protegidos de uma velha floresta húmida onde ainda reina a Búnia-Búnia, no recolhimento de um parque natural (o Bunya Mountains Natural Park).

Ao longo de séculos, pelo Verão, os habitantes originais da Austrália rumavam de lugares longínquos à Serra das Búnias, onde se celebravam – e talvez ainda se celebrem – os festejos da Búnia-Búnia, cerimónias tribais em torno destas árvores sagradas. Sendo árdua e cara a viagem aos antípodas, os aborígenes lusitanos deverão em alternativa reunir-se em Monserrate para venerar a sua grande Búnia-Búnia.



Não encontrámos, na nossa romagem, as gigantescas pinhas de dez quilos caídas no chão, que têm perturbado os lusitanos mais a norte. Por isso não tem sido possível repetir deste lado do globo a ritual partilha inter-tribal dos grandes pinhões comestíveis. Em vez disso, aspire-se a sua beleza única, contemplem-se as gotículas de resina cintilante que deslizam no seu tronco e recolha-se a relíquia das massas cerosas e aromáticas que essas resinas alimentam, espalhadas na sombra.


4 comentários:

  1. Sem querer desprestigiar a "grande Búnia-Búnia" que fotografaram nem o Lugar muito especial onde se encontra, o Parque de Monserrate, gostaria de acrescentar que, mais perto, em Sintra, no Parque da Liberdade junto do Pavilhão do Japão,se encontra uma outra "Búnia-Búnia", também de porte imponente, que costuma desprender as suas pinhas, semelhantes, no tamanho, a grandes ananázes.
    Só não sabia que os seus pinhões eram comestíveis.
    ereis

    ResponderEliminar
  2. Bonita árvore, sem dúvida, rivalizando com aquelas que os lusitanos mais a norte têm por vizinhas.

    No Porto voltaram a pôr fitas coloridas em volta das A. bidwillii do Carregal e da Cordoaria para dissuadir a nossa aproximação. Mas a primeira, que me forneceu aquela «refeição» há uns anos, parece desta vez não ter dado pinhas nenhumas. A outra sim, tem umas coisas grandes e redondas a negrejar lá bem no topo. Espero não estar por baixo quando ela começar a largar esses projécteis.

    ResponderEliminar
  3. ereis: obrigado pela referência a essa Búnia, vamos já lá em busca das pinhas ananases. Há outra no Parque da Pena, no talhão do jardim decrépito em frente à Abegoaria, aquele que a Parques de Sintra pretende integrar no novo “Jardim Moderno”. Também o queríamos revisitar em breve.

    Paulo Araújo: nesta árvore também há uma placa que nos avisa da queda de projécteis, e estas fotografias demonstram que somos muito corajosos (ou muito inconscientes) e que arriscámos as nossas vidas. Verdadeiras “Belas e Perigosas”, algumas araucárias! Agora só nos falta provar os afamados pinhões...

    ResponderEliminar
  4. Aqui no meu trabalho (São Paulo - SP - Brasil) há uma bunia-bunia. Eu já como desses pinhões e são bastante saborosos. Marco.

    ResponderEliminar