quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os Pinhões Cerimoniais e as outras Búnias de Sintra


Eis os afamados pinhões da búnia-búnia, que finalmente pudemos tocar, cheirar e cerimoniosamente comer. Sim, esses pinhões aparatosos da fotografia já não existem, circulam neste preciso momento nos nossos caminhos interiores. Primeiro foi necessário abri-los, pois o seu exterior é duro como o dos os verdadeiros pinhões do pinheiro. Depois, pensámos que à primeira dentada seriamos logo transportados aos confins da Austrália, mas a verdade é que ficámos a meio caminho, algo decepcionados com a consistência aglomerosa, a aspereza na língua e o sabor indiferente. Até decidirmos torrá-los levemente numa frigideira seca, o que logo nos fez aterrar confortados na floresta húmida de Queensland – é isso que decerto fazem ou faziam os devotos aborígenes: o pinhão tornou-se estaladiço e o sabor abriu.

Para a colheita dos pinhões tivemos de fazer alguma batota: as búnias-búnias que os ofereceram não foram as de Sintra, mas sim a do Jardim Botânico de Lisboa, que os tinha espalhados, caídos à sua volta. Antes, já tínhamos investigado as outras búnias que existem em Sintra: na do Parque da Liberdade, cuja existência nos foi devidamente recordada em comentário anterior, não encontrámos pinhas nem pinhões, provavelmente devorados pelas exóticas feras predadoras que por lá rondam.


Quanto à búnia-búnia do Parque da Pena (também sem pinhas que se vissem) tem a sedução de uma árvore rara e magnífica mas esquecida, deixada selvagem no jardim abandonado em frente da Abegoaria arruinada. É uma resistente do ciclone de 1941 e, à força de permanecer longe dos caminhos frequentados, tem um ar de formosura desleixada, como aquelas criaturas muito belas que se tornam duplamente encantadoras por darem muito pouca atenção a si próprias.




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