Na guerra complexa entre amor e ódio às árvores que por estas terras se trava, e estando nós bem alinhados do lado dos enamorados, gostamos por vezes de nos comparar com as culturas mais arbófilas em busca de encorajamento. Até há pouco tempo era necessário viajar para lá dos Pirenéus para nos apercebermos da muito maior importância da arborização urbana noutros locais deste continente, mas hoje podemos, sem sair de casa, sobrevoar cidades inteiras com olhos de satélite e ver até que ponto somos diferentes.
Resolvemos trazer para um pequeno apontamento comparativo a mais arborizada das capitais europeias, Berlim (em modo bird's eye do maps.live.com). Escolhemos um fragmento de um bairro médio da nossa metrópole – um bairro que está longe de se contar entre os nossos mais áridos, como, por exemplo, a Portela de Sintra, de bom desenho urbano com origem nos anos 40 do século passado. Depois procurámos, ao acaso, um fragmento indiferenciado da periferia de Berlim, de aparência próxima em desenho, densidade, tipologias, volumes e, até, como a Portela, com um campo de futebol.
Em Reinickendorf as árvores estão por todo o lado, em espaços públicos e privados, cobrindo a maior parte do espaço livre com as suas copas. Na Portela de Sintra, à excepção da mancha do jardim no topo, aliás desastrosamente podada este ano, a pobreza arbórea é confrangedora - veja-se como os dois campos de futebol são envolvidos, um de alcatrão, outro verde luxuriante! Mas tentemos resgatar-nos escolhendo um outro exemplo que nos possa ser mais favorável, olhando antes para Olivais Sul, um dos nossos bairros mais arborizados. Façamo-lo então acompanhar por um equivalente berlinense e desanimemos de novo: face à opulência das árvores da Siemensstadt, no meio das quais flutuam os edifícios, que rala e desgraçada parece a verdura dos Olivais.
O que se passa com esses berlinenses, que não se passa connosco? Viverão numa cidade tão mais soalheira do que a nossa que não se podem dar ao luxo de dispensar a sombra das árvores? Serão um povo tão destemido que não teme nem mesmo o tamanho natural de uma árvore adulta? Terão desenvolvido uma secreta tecnologia de canalizações, alicerces e pavimentos que os imuniza contra ataque maléfico das raízes? Disporão de sarjetas e algerozes mágicos que resistem ao entupimento? Terão os seus sofisticados automóveis e as estóicas cabeças dos seus cidadãos uma protecção única contra o gotejar das “resinas” e a queda traiçoeira dos ramos? Terão os seus malfeitores abdicado de se albergar na sombra profunda das copas para espalhar a insegurança? Terão os seus genes miraculosos ganho um invencível poder anti-alérgico? Ou talvez, apenas, gostem os berlinenses de viver junto de árvores, e nós nem por isso.
Em Reinickendorf as árvores estão por todo o lado, em espaços públicos e privados, cobrindo a maior parte do espaço livre com as suas copas. Na Portela de Sintra, à excepção da mancha do jardim no topo, aliás desastrosamente podada este ano, a pobreza arbórea é confrangedora - veja-se como os dois campos de futebol são envolvidos, um de alcatrão, outro verde luxuriante! Mas tentemos resgatar-nos escolhendo um outro exemplo que nos possa ser mais favorável, olhando antes para Olivais Sul, um dos nossos bairros mais arborizados. Façamo-lo então acompanhar por um equivalente berlinense e desanimemos de novo: face à opulência das árvores da Siemensstadt, no meio das quais flutuam os edifícios, que rala e desgraçada parece a verdura dos Olivais.
O que se passa com esses berlinenses, que não se passa connosco? Viverão numa cidade tão mais soalheira do que a nossa que não se podem dar ao luxo de dispensar a sombra das árvores? Serão um povo tão destemido que não teme nem mesmo o tamanho natural de uma árvore adulta? Terão desenvolvido uma secreta tecnologia de canalizações, alicerces e pavimentos que os imuniza contra ataque maléfico das raízes? Disporão de sarjetas e algerozes mágicos que resistem ao entupimento? Terão os seus sofisticados automóveis e as estóicas cabeças dos seus cidadãos uma protecção única contra o gotejar das “resinas” e a queda traiçoeira dos ramos? Terão os seus malfeitores abdicado de se albergar na sombra profunda das copas para espalhar a insegurança? Terão os seus genes miraculosos ganho um invencível poder anti-alérgico? Ou talvez, apenas, gostem os berlinenses de viver junto de árvores, e nós nem por isso.
Excelente artigo. Muito claro e bem escrito. Parabéns. Sou habitante de Sintra e de facto em comparação com o seio da serra em si, tudo à volta começando pela Portela, Algueirão, Mercês, Rio de Mouro, Cacém, e por aí em diante estão cada vez menos verdes...que tristeza.
ResponderEliminarObrigado pelo elogio, Miguel. A falta de verde é real, tal como o desleixo com que o pouco verde existente é tratado.
ResponderEliminarOs planos originais em Lisboa tinham bastantes árvores, assim como as principais avenidas de Lisboa também as tiveram (av. Fontes Pereira de Melo, av. da República, etc). Foi tudo cortado, arrancado.
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