terça-feira, 12 de maio de 2009

Recinto di cipressi


Um bosque mágico na capa de um disco é pretexto para trazer aqui a edição recente de mais uma brilhante mas obscura ópera de Handel. Faramondo faz parte do grupo das últimas tentativas do compositor de manter o volúvel público londrino interessado na ópera italiana, o que lhe dá um certo tom crepuscular de canto do cisne. A música, pelo contrário, é do mais leve, irresistível e feliz. O absurdo extremo do libreto só lhe acrescenta encanto barroco. Quem foi que disse que nada há no mundo mais parecido com uma ópera de Handel do que outra ópera de Handel? É um dito de louvor: mais de 60 grandes obras dramáticas e nunca somos decepcionados. Handel é o elixir universal contra toda a ansiedade, música de fortuna e bem estar mesmo nos seus momentos de drama sombrio.

Há vários bosques mágicos em Handel. O de Faramondo é discreto e está implícito no espaço histórico da acção, os remotos reinos atlânticos do mito arturiano. Mas a referência directa surge logo na primeira cena onde, após uma abertura para desfalecer, o pano sobe sobre um «recinto di cipressi, dedicato alla vendetta, con ara nel mezzo, ed apparato di sacrifizio».

Pois bem, o nevoento domingo passado colocou na sua melhor luz os cipressi da Pena, na encosta do Palácio, à volta do Gigante ou no caminho da Cruz Alta: ciprestes-do-Buçaco, trazidos do México no século XVII e no Buçaco tornados Cupressus lusitanica, prontos para se tornarem cenário dos sons geniais de 1737, deslumbrando olhos e ouvidos três séculos passados.





2 comentários:

  1. Perante isto, tenho de ir conhecer o "Faramondo".

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  2. O Faramondo é muitíssimo bom. Ando há semanas à tiracolo com ele. Cada ária é UMA ÁRIA. Mas, de facto, só PV para tornar uma obra bela, em qualquer coisa de absolutamente encantador ...

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