Quem reparar nas etiquetas da mensagem anterior perceberá que as fotografias demagógicas que recolhemos, que podiam ser de Sintra, são antes do Buçaco. Numa visita recente voltámos a confirmar, como em Setembro, o mesmo sangue que parece correr em ambos os lugares. E mais abundantes ainda do que em Setembro, voltámos a encontrar, agora com toda a força persuasiva do Outono avançado, alguns dos encantos particulares que distinguem o Buçaco.
Como é costume, fontes de satisfação e fontes de tristeza caminham aos pares, como a flor e os espinhos na rosa. Assim, os males do abandono e da pobreza propiciam caminhos remotos e selvagens, floresta espessa vagamente interrompida por jardinagem deixada em descuido, placas caídas, cancelas ferrugentas e ermidas que se arruínam. O mais velho de todos os ciprestes-do-Buçaco no Buçaco – e em Portugal – é celebrado com um poema numa inscrição fanada:
Nada aqui se aproxima daqueles caminhos diariamente aspirados e polidos sem ervas nem ramos fora do sítio, que se querem tornar moda na Pena e no Castelo dos Mouros e que tanto nos aborrecem. Mas também não estão à vista quaisquer gestos de recuperação da devota rede de passos e ermidas do Deserto e do Sacromonte, que deve ter tido o seu mais recente apogeu no primeiro par de décadas após a instalação das esculturas cerâmicas representando a Paixão, há 70 anos. Este conjunto decadente que lentamente se desfaz ilumina ainda a floresta fabulosa, aguardando socorro.
É também evidente que a mata nunca sofreu o abandono radical e prolongado a que Sintra esteve sujeita e, por isso, talvez não corra o risco de necessitar, nos tempos mais próximos, de um ataque tão radical e sangrento como o que em Sintra conhecemos. Nem a sua localização é propícia à invasão turística sintrense, com os seus milhões anuais da venda de entradas. Assim, as vistas que o Buçaco nos concede num passeio de Novembro recordam algo do que pode ter sido uma Sintra anterior ao furor dos dias de hoje e anterior às décadas abandonadas, quando livremente se entrava e saía da sua selva apenas discretamente cuidada.
Como é costume, fontes de satisfação e fontes de tristeza caminham aos pares, como a flor e os espinhos na rosa. Assim, os males do abandono e da pobreza propiciam caminhos remotos e selvagens, floresta espessa vagamente interrompida por jardinagem deixada em descuido, placas caídas, cancelas ferrugentas e ermidas que se arruínam. O mais velho de todos os ciprestes-do-Buçaco no Buçaco – e em Portugal – é celebrado com um poema numa inscrição fanada:
Cedro de S. José
Plantado em 1644 (?)
é considerado o cedro
Plantado em 1644 (?)
é considerado o cedro
Nada aqui se aproxima daqueles caminhos diariamente aspirados e polidos sem ervas nem ramos fora do sítio, que se querem tornar moda na Pena e no Castelo dos Mouros e que tanto nos aborrecem. Mas também não estão à vista quaisquer gestos de recuperação da devota rede de passos e ermidas do Deserto e do Sacromonte, que deve ter tido o seu mais recente apogeu no primeiro par de décadas após a instalação das esculturas cerâmicas representando a Paixão, há 70 anos. Este conjunto decadente que lentamente se desfaz ilumina ainda a floresta fabulosa, aguardando socorro.
É também evidente que a mata nunca sofreu o abandono radical e prolongado a que Sintra esteve sujeita e, por isso, talvez não corra o risco de necessitar, nos tempos mais próximos, de um ataque tão radical e sangrento como o que em Sintra conhecemos. Nem a sua localização é propícia à invasão turística sintrense, com os seus milhões anuais da venda de entradas. Assim, as vistas que o Buçaco nos concede num passeio de Novembro recordam algo do que pode ter sido uma Sintra anterior ao furor dos dias de hoje e anterior às décadas abandonadas, quando livremente se entrava e saía da sua selva apenas discretamente cuidada.
Essa bonita placa está no Buçaco, e nas mesmas condições, há muitos anos. É bem possível que no próximo fim-de-semana nos desloquemos ao local para a contemplar. Pena aquele cedro enorme logo atrás, retira-lhe algum protagonismo, mas que fazer? O descuido é desporto nacional.
ResponderEliminar;o)
jb
E há que realçar que a placa é a cores, enquanto o resto da mata, incluindo o dito «cedro», é a preto e branco. (Mas, é justo ressalvá-lo, um preto e branco bonito e brumoso, muito cinematográfico.)
ResponderEliminarÉ tal a importância turística e patrimonial da Placa do Cedro de S. José que se faz necessário pôr ao lado dela uma placa explicativa; ofereço-me desde já para organizar a recolha de fundos. Eis os dizeres que poderiam figurar na nova placa:
PLACA DO CEDRO DE S. JOSÉ
Colocada em 19??
é considerada a placa
...
JB: espero que retirem toda a satisfação e todo o proveito que a visita ao Buçaco e a contemplação da linda e vetusta placa permitem. Ignorem esse pedaço de madeira caduco que está atrás (e todos os outros que, infelizmente, ainda andam espalhados pela serra). Boa viagem!
ResponderEliminarPaulo Araújo: é muito justa a observação que faz, até cromaticamente a placa é incomparável. A sugestão da nova placa explicativa só pode ser louvada. Como é possível que tal ideia ainda não tenha sido posta em prática! Podem mesmo antever-se os seus frutos felizes: talvez, daqui a um século, uma terceira placa, com a data 21??, e, quem sabe, mais tarde, uma quarta e uma quinta, sempre com o pedaço de madeira caduco por trás.