Há alguns meses, já após o pôr-do-sol, cruzámo-nos na Serra com um grupo gótico juvenil que ascendia guiado por um rapaz de olhos devidamente pintados, segurando dois castiçais. O encontro originou mais uma pequena cisão entre os autores deste blogue. Um, vagamente simpatizante desta tribo, enternecendo-se com a ideia de uma celebração nocturna debaixo da floresta alumiada por velas. Outro, incrédulo, protestando pelo patético adolescente da ideia e, pior ainda, pelo risco de incêndio.
Ao mesmo confronto se presta esta fotografia, tirada perto do Portão dos Lagos numa manhã afortunada de luz e névoa ligeira. Um início de dia digno de várias celebrações, mudas ou cantadas, de góticos, renascentistas ou barrocos, com velas ou sem elas. Mas também vários detalhes prosaicos sobre a ilusão das imagens: o ponto de vista, a partir de um terreiro sem graça destinado a estacionamento, com rede de plástico no chão e barraca-WC ao canto; a encosta à esquerda, um matagal de acácias periodicamente ceifado, que nos faz sempre perguntar se não poderia ela passar a ser normalmente arborizada, em vez de deprimente como é.
Há também detalhes que agradam tanto à espiritualidade inflamada como aos espíritos terrenos mais secos. As ramagens que envolvem a silhueta do Palácio da Pena, por exemplo, já as tínhamos visitado noutra estação: é o Quercus robur que poderá bem ser o maior em todo o perímetro dos parques e tapadas. A antiga casa de guarda cujo telhado reluz no canto inferior direito, em vias de parecer nova em folha após a recuperação. O próprio Palácio, claro. E o sol, iluminando sensibilidade e bom senso por igual.
Ao mesmo confronto se presta esta fotografia, tirada perto do Portão dos Lagos numa manhã afortunada de luz e névoa ligeira. Um início de dia digno de várias celebrações, mudas ou cantadas, de góticos, renascentistas ou barrocos, com velas ou sem elas. Mas também vários detalhes prosaicos sobre a ilusão das imagens: o ponto de vista, a partir de um terreiro sem graça destinado a estacionamento, com rede de plástico no chão e barraca-WC ao canto; a encosta à esquerda, um matagal de acácias periodicamente ceifado, que nos faz sempre perguntar se não poderia ela passar a ser normalmente arborizada, em vez de deprimente como é.
Há também detalhes que agradam tanto à espiritualidade inflamada como aos espíritos terrenos mais secos. As ramagens que envolvem a silhueta do Palácio da Pena, por exemplo, já as tínhamos visitado noutra estação: é o Quercus robur que poderá bem ser o maior em todo o perímetro dos parques e tapadas. A antiga casa de guarda cujo telhado reluz no canto inferior direito, em vias de parecer nova em folha após a recuperação. O próprio Palácio, claro. E o sol, iluminando sensibilidade e bom senso por igual.
(à margem: estamos fartinhos de nos rir com a cisão)
ResponderEliminarUm caso sério! Mas já nos reconciliámos e, se for necessário, trocamos as posições.
ResponderEliminarJá passei por esses grupos algumas vezes. São, no mínimo, muito estranhos!
ResponderEliminarEstranhos, sim. E Sintra parece atraír uma certa estranheza...
ResponderEliminarOs góticos seguem a mesma pulsão de quem, fotografando com enquadramento manhoso, cria uma ilusão com alguns pontos de contacto com a realidade. Todos nós seleccionamos, escondemos, desviamos a vista. Há gente a quem isso não chega, e por isso surgem os rituais mágicos e as invocações ao luar - que podem, como se sabe, degenerar em coisa perigosa. Ainda assim, têm à partida a minha simpatia. Afinal, eu até gosto de contos de fantasmas e de alguma literatura dita de terror.
ResponderEliminar(E a foto, apesar de ser truque, está muito boa.)
Obrigado pelo elogio do truque; a busca de imagens para este blogue está a tornar-nos uns trapaceiros. E o pior é que gostamos do resultado da trapaça. Enfim, talvez isto passe. Ou talvez não, talvez a fotografia seja trapaceira por natureza.
ResponderEliminarÉ bem real esse domínio do “seleccionar, esconder, desviar a vista” em que todos, mais ou menos, especializamos certos aspectos da nossa vida. Provavelmente aprende-se a fazê-lo à medida que se cresce, daí estes rituais mágicos parecerem sempre um pouco infantis.
Quanto à declaração de simpatia à partida: passamos a dois contra um!
Tudo na vida não passa de uma trapaça. Desta, o enredo cativou-me.
ResponderEliminarDesculpas por usar esse belo espaço com tão lindas paisagens para isso, mas gostaria de saber mais sobe a Quinta da Penalva, Sintra. Seus moradores são os brasileiros sr. e sra. Antonio Carlos de Almeida Braga?. Obrigada. veramattos9@gmail.com
ResponderEliminarPassamos frequentemente em frente da Quinta da Penalva e até já deixámos aqui uma mensagem a seu respeito (http://sintracerca.blogspot.com/2009/06/desmentido-oficial.html). Mas infelizmente não sabemos quem são os seus moradores...
ResponderEliminarMuito obrigada pela resposta sobre os moradores da Quinta da Penalva. Um forte abraço desta brasileira aqui. Vera Mattos, Rio de Janeiro, Brasil. www.dapravoce.org.br
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