terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um Lugar Para Lamentar


Um cenário de chuva, vento e frio é o mais indicado para se falar do corte das tílias do Largo 1º de Dezembro, em São Pedro. Esta fotografia, captada num momento de alegria no trabalho, foi-nos enviada por um sintrense e já foi reproduzida numa mensagem do sempre atento Rio das Maçãs.


O largo forma uma ilha triangular, com dois lados maiores que rondam os 30 metros. Está mesmo a pedir cinco ou seis árvores, em cada um dos vértices e ao longo dos lados maiores, formando um tecto largo e espesso de folhagem. E, de facto, há muito tempo, gente iluminada plantou cinco tílias que, muito tempo depois, tornaram-se grandes tílias maduras de grandes sombras. O corte recente de dois destes velhos exemplares foi um golpe sério na massa de ramos e folhas que cobriam o largo, tendo-lhe retirado a força que ainda se pode ver numa consulta ao Google Maps:


Das cinco, passámos a ter apenas três tílias respeitáveis e uma criança esgalgada, entretanto plantada Há uns dias foi a vez do vértice que faltava, deitado a baixo com o argumento de que “estava doente”. E, para que as duas tílias antigas que ainda sobraram possam também ficar doentes rapidamente, dando alegria e trabalho a mais um cortador de árvores, foi feita uma dessas podas mortíferas tão populares entre nós.

No ciclo sintrense de conferências sobre árvores a que assistimos há uns meses, ouviu-se uma referência a estas árvores, descritas por um técnico municipal como “um perigo”. Se acções do nosso município como este corte de árvores, tão lesivo da sua paisagem urbana, apenas fossem levados a cabo com acompanhamento e participação dos seus cidadãos, tais cidadãos desconfiariam menos dos “perigos” e das “doenças” alegadas e poderiam ser menos desconfiados, críticos e amargos do que nós próprios estamos aqui a ser. E, se se quisesse construir uma relação de confiança entre os sintrenses e as suas autoridades públicas, seria bom saber desde logo qual o destino que se planeia para este largo. Saber se, por exemplo, a ideia é valorizar as bonitas placas de trânsito e o elegante estacionamento que enfeitam o local.

Enfim, para terminar o desabafo de um tempo chuvoso, ventoso e frio, aqui estão mais umas imagens fúnebres de um largo outrora carregado de espírito de Sintra, agora apenas mais um lugar para lamentar.




10 comentários:

  1. Mais propriamente Largo 1º Dezembro, em tempos, conhecido ou denominado (não sei) Largo do Fetal.

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  2. Tem toda a razão. Tratou-se de um lapso de Ano Novo, com a consequência de ao apelidá-lo Largo 1º de Janeiro estarmos a "atrasar" um mês a restauração da independência portuguesa ou, noutra perspectiva, a "adiantá-la" onze meses. Obrigado também pela informação sobre a antiga designação.

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  3. Estes "técnicos" devíam ser decapitados.

    Jorge Rodrigues / Nafarros

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  4. Mais valia chamar-lhe "Largo do Fatal"...
    Estas notícias que nos chegam de Sintra são muito tristes. Pior ainda: Sintra está longe de ser caso único.

    Este blogue faz um trabalho formidável de sensibilização. Continuem, não esmoreçam! Pode ser que daqui a umas décadas as pessoas não aceitem com tanta indiferença a poda e o abate das árvores.

    Aqui em Berlim (a cidade europeia com maior número de árvores nas ruas) as árvores estão todas numeradas. Já vi essas podas em parques e jardins, mas de um modo geral deixam as árvores em paz. E ai de quem lhes tocar numa folha que seja!

    No jardim da casa que comprámos em Weimar havia três pinheiros horríveis. Escanzelados, pareciam ter sido largados ali ao acaso. Para os cortar, foi um sarilho. Um funcionário da Câmara foi ao local, tivemos de pagar uma taxa, e foi-nos dado um prazo de seis meses para plantar três novas árvores em substituição.
    Este totalitarismo do Estado... ;-)

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  5. Fiocou realmente uma belissima merda, como é costume em Portugal...

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  6. Helena: obrigado pelo elogio e pelo nome alternativo, embora Largo do Fatal, com o seu aroma romântico, seja um nome demasiado bom para aquilo que o largo se tornou. Nós não somos nada do tipo “que grande desgraça é este país, os outros países que não este é que são bons”, mas seria preciso atingir um estado de negação nacionalista agudo demais para não perceber que, no que à relação entre os portugueses e as árvores diz respeito, estamos realmente necessitados de terapia radical. Tudo melhora para lá dos Pirinéus, e não é só uma questão de maior riqueza, é mesmo um problema profundo de cultura pouco amante de árvores, agravado pelo civismo deficiente. E Berlim é um paraíso para quem ame, ao mesmo tempo, vida urbana e arborização a sério.
    Essa limitação absoluta ao corte de árvores que descreves, mesmo as privadas, faz muita falta em Portugal, em especial em Sintra. É, aliás, uma disposição constante do plano de gestão de Sintra – Património Mundial, mas claro que é ostensivamente ignorada, duvidamos mesmo que os responsáveis pelas nossas árvores públicas a conheçam. Serão necessários muitos anos de terapia colectiva para que tal possa um dia acontecer aqui mas, pela nossa parte, vamos dar a ajuda que pudermos!

    Susana: como dizíamos, Largo do Fatal, com o seu aroma romântico, é um nome demasiado bom para aquilo que o largo se tornou. Largo da Belíssima M... tem, pelo menos, o aroma apropriado.

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  7. Largo do Fecal?
    ;-)

    Helena

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  8. Helena, olhai o nosso pudor. Que seja, vá lá, Largo do F.

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  9. É de mau gosto ... mas enfim ...

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  10. Desculpem!
    Já cá não está quem... bem, calateboca, quase me ia saindo mais uma criatividade linguística.

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