terça-feira, 2 de março de 2010

Conto de Inverno (III): A Batalha do Castanhal


Era uma vez, mais uma vez, o Castanhal da Rainha. Desta vez, trata-se da guerra sem quartel que se trava pela supremacia no bosque. Somam vitórias os castanheiros, claro, e enquanto assim for este reino será chamado Castanhal. As batalhas deixam no seu rasto os restos das árvores mortas em combate, enquanto ao lado crescem as novas colonizações de Castanea sativa.

Há tempos, houve aqui uma vítima especial – por favor, não nos acusem de voyeurismo mórbido, mas deixámo-nos deslumbrar pelo cadáver de um pinheiro. Fotografámos sem parar os restos do seu corpo contra a névoa de uma manhã fúnebre deste novo ano. Ficou suspenso na queda, nem exactamente morto de pé, como as árvores, nem exactamente jazente, como esperamos nós próprios um dia vir a estar.




Pode imaginar-se que, em vez de acabar de cair, este pinheiro poderoso está a meio caminho de se levantar, como num desses filmes de horror muito repetitivos. Que enterrará mais uma vez raízes novas na terra, que se armará de vida e que regressará para uma nova batalha contra os castanheiros triunfantes, sorridentes e cheios de si. Castanheiros indiferentes a mais outro pinheiro morto no meio do Castanhal.

2 comentários:

  1. Quem te manda a ti, pinheiro, nascer no meio de um sufocante (ainda que certamente delicioso) carvalhal? Até para se ser pinheiro é preciso ter sorte, enfim :)).
    Muito inspiradoras fotos, PV: de facto, pode ser tudo isso e o que mais se queira.

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  2. Obrigado, antuérpia. O pinheiro não teve sorte, mas a sua falta de sorte é uma sorte para os passeantes, nesta estação ou em qualquer das outras três.

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