No Verão passado, a propósito de uma nossa mensagem sobre Neuschwanstein, o RS chamou-nos a atenção para certo vitral desse palácio, que recordava um outro na Pena. O vitral bávaro retrata o Cavaleiro Sintram, uma criação literária de Friedrich de La Mote-Fouqué. Com um nome destes, um tal cavaleiro merece a nossa atenção sintrense.
Friedrich de La Mote-Fouqué, um alemão descendente de refugiados huguenotes, escreveu a sua novela em 1814, a meio de uma carreira literária concentrada no primeiro quartel do século XIX. A Ondina , de 1811, foi o seu maior sucesso, mas toda a sua obra lhe trouxe grande e efémera popularidade. A crítica alemã considera-o um autor menor e não há muitas edições recentes da sua obra – a biblioteca do Goethe Institut de Lisboa, onde o cânone de língua alemã está bem representado, ignora mesmo a sua existência. Já no mundo virtual é fácil encontrar o Sintram e os seus Companheiros e outras obras em acesso livre, sobretudo em tradução inglesa – os anglo-saxónicos deliciaram-se durante muito tempo com Fouqué e quem quiser explorar o Sintram a fundo até tem uma Sinfonia Sintram do americano George Templeton Strong, de 1912.
O Sintram tem, para nós, um factor adicional de interesse: foi concebido a partir de uma fascinante gravura de Dürer, Cavaleiro, Morte e Diabo (Ritter, Tod und Teufel), de 1513. Infelizmente, a novela e o seu mundo fora de moda é menos interessante do que a gravura e talvez os críticos tenham razão. O mundo de um livro estar dentro ou fora de moda é irrelevante, claro, para a exaltação literária que nos pode provocar como leitores (somos fanáticos de Jane Austen!), mas é inevitável admitir que a magia da perfeição está ausente dos solavancos pálidos de Fouqué.
Ainda assim, há muitas centelhas para gozar neste livro, e os Românticos encontrarão muitos motivos para a sua leitura. Logo no primeiro parágrafo, um Sintram de doze anos irrompe numa reunião de cavaleiros em Drontheim, no castelo do seu pai, Biorn dos Olhos Ardentes, gritando: “Cavaleiro e Pai! Pai e Cavaleiro! A Morte e mais Outro, horríveis, perseguem-me outra vez!”, um início dramático que ecoa repetidamente novela fora, ao longo de maldições, paixões proibidas, heroísmo e expiação. A Morte e o Diabo perseguirão Sintram ao longo de muitos anos sombrios e gélidos, sempre envoltos nos Invernos do Norte, até um clímax final que replica com exactidão a gravura de Dürer: Sintram enquanto cavaleiro no meio da vida, cavalgando indiferente junto dos seus companheiros sobrenaturais.
Friedrich de La Mote-Fouqué, um alemão descendente de refugiados huguenotes, escreveu a sua novela em 1814, a meio de uma carreira literária concentrada no primeiro quartel do século XIX. A Ondina , de 1811, foi o seu maior sucesso, mas toda a sua obra lhe trouxe grande e efémera popularidade. A crítica alemã considera-o um autor menor e não há muitas edições recentes da sua obra – a biblioteca do Goethe Institut de Lisboa, onde o cânone de língua alemã está bem representado, ignora mesmo a sua existência. Já no mundo virtual é fácil encontrar o Sintram e os seus Companheiros e outras obras em acesso livre, sobretudo em tradução inglesa – os anglo-saxónicos deliciaram-se durante muito tempo com Fouqué e quem quiser explorar o Sintram a fundo até tem uma Sinfonia Sintram do americano George Templeton Strong, de 1912.
O Sintram tem, para nós, um factor adicional de interesse: foi concebido a partir de uma fascinante gravura de Dürer, Cavaleiro, Morte e Diabo (Ritter, Tod und Teufel), de 1513. Infelizmente, a novela e o seu mundo fora de moda é menos interessante do que a gravura e talvez os críticos tenham razão. O mundo de um livro estar dentro ou fora de moda é irrelevante, claro, para a exaltação literária que nos pode provocar como leitores (somos fanáticos de Jane Austen!), mas é inevitável admitir que a magia da perfeição está ausente dos solavancos pálidos de Fouqué.
Ainda assim, há muitas centelhas para gozar neste livro, e os Românticos encontrarão muitos motivos para a sua leitura. Logo no primeiro parágrafo, um Sintram de doze anos irrompe numa reunião de cavaleiros em Drontheim, no castelo do seu pai, Biorn dos Olhos Ardentes, gritando: “Cavaleiro e Pai! Pai e Cavaleiro! A Morte e mais Outro, horríveis, perseguem-me outra vez!”, um início dramático que ecoa repetidamente novela fora, ao longo de maldições, paixões proibidas, heroísmo e expiação. A Morte e o Diabo perseguirão Sintram ao longo de muitos anos sombrios e gélidos, sempre envoltos nos Invernos do Norte, até um clímax final que replica com exactidão a gravura de Dürer: Sintram enquanto cavaleiro no meio da vida, cavalgando indiferente junto dos seus companheiros sobrenaturais.
O que vocês descobrem!
ResponderEliminarNão está entre as minhas prioridades ler esse livro (se estivesse era sinal de que tinha as prioridades em dia, o que desafortunadamente nunca me acontece), mas que o vosso relato e a gravura são fascinantes, são. No romantismo, mesmo nas suas expressões de menor qualidade, há sempre qualquer coisa de «sombrio e gélido» (bem achados, os adjectivos) que me detém o olhar e o pensamento/sentimento, nem percebo bem porquê :)).
O desenho de Dürer é magnífico, mas a novela de Fouqué também não me parece imperdível. E a Sinfonia Sintram? Nunca a ouvi.
ResponderEliminarAntuérpia: é mesmo um pouco prioritário livro de baú, mas o mundo enevoado a que pertence também nos seduz.
ResponderEliminarPaulo: a sinfonia, como seria de esperar, soa a coisa romântica tardia, pelo menos ao ser ouvida nos excertos de 30 segundos que o mundo virtual proporciona. A edição é uma pechincha da Naxos, talvez nos aventuremos...