sábado, 23 de maio de 2009

Estacionamento na Serra: os planos da Parques de Sintra


Agora que os parques públicos de Sintra têm uma gestão com vontade, qualificação e meios para agir, estávamos à espera de que algo acontecesse à circulação automóvel e ao estacionamento que congestionam a Estrada e a Calçada da Pena (na mesma proporção em que aumenta a popularidade turística e as receitas que aqui são geradas). Estávamos à espera que o trânsito particular fosse restringido – não, estávamos à espera que fosse suprimido! – e que as subidas ao Palácio ou ao Castelo se fizessem a pé ou em transporte público decente – não na carreira irregular que transporta gente como gado apinhado, onde a Scotturb extorque descaradamente os visitantes. Pois bem, parece que vai acontecer precisamente o contrário.

Há cerca de um mês, falando de obras recentes que por aqui decorrem, referimos que junto à Calçada da Pena, na Tapada do Inhaca, foram feitas aberturas no muro, cortada toda a vegetação rasteira e coberto o solo com madeira triturada. Pedimos um esclarecimento à Parques de Sintra, que nos ofereceu uma resposta explícita e detalhada, subscrita pelo presidente do seu conselho de administração, Prof. António Lamas, aqui transcrita na íntegra:

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«1) Como devem saber, um dos mais graves problemas no acesso ao Parque da Pena na época alta, deve-se a não haver suficientes lugares de estacionamento para os automobilistas que, sem o saberem, entram na Calçada da Pena e, depois, não tendo lugar, param o carro ao longo das margens, impedindo a passagem de outros veículos, em especial os de transporte de passageiros. Estes bloqueios, que ocorrem com exagerada frequência, exigem a remoção dos veículos mal estacionados mediante a vinda de carros de reboque de São Pedro, em marcha-atrás, o que chega a demorar horas. No Verão passado, em articulação com a GNR, colocámos, em todas as curvas e estreitamentos da Calçada da Pena, pedras de grande dimensão e vedações em madeira para reduzir estes acidentes, mas isso diminuiu muito a capacidade de estacionamento a caminho dos Mouros e Pena.

2) Para resolver este problema sem estudos aprofundados sobre a acessibilidade a Sintra e à serra, que só de uma forma integrada e com a colaboração da autarquia serão possíveis, a solução encontrada consiste na colocação de detectores da passagem de veículos ao longo da Calçada da Pena, em secções apropriadas, e de painéis informativos que indiquem a existência, ou não, de lugares de estacionamento, e onde. Complementarmente, é necessário alargar o número de lugares de estacionamento e criar um parque alternativo para onde possam ser desviados os veículos que, à chegada à entrada da Calçada, não tenham, ao longo desta, estacionamento disponível. Este parque será colocado na Tapada do Mouco na fronteira com o Parque da Pena.

3) Para alargamento da capacidade de estacionamento na Calçada da Pena, a zona em frente à Casa da Lapa foi limpa e coberta com estilha das limpezas florestais em curso. Foram também realizadas duas aberturas no muro, que serão dotadas de portões: uma para entrada e outra, mais abaixo, para saída. É uma zona quase plana, que permitirá estacionar, entre as árvores a preservar (à parte de algumas infestantes, nenhuma árvore a preservar foi removida), cerca de 60 veículos.

4) O sistema de controlo do estacionamento na Calçada da Pena, descrito em 2, exige também que, se não houver lugares ao longo da Calçada (incluindo nos parques de estacionamento existentes e no novo) os automobilistas sejam avisados à entrada, sugerindo-se que usem um parque de estacionamento fora. Para isso seleccionámos uma zona da Tapada do Mouco perto do Parque da Pena, com entrada por portão sobre a EN247-3, a partir do qual será disponibilizado transporte até à entrada do Castelo dos Mouros ou do Parque da Pena. Este estacionamento, do mesmo tipo do descrito em 3., servirá também para apoio às visitas às obras do Chalet da Condessa (marcadas), que abrirão brevemente.»

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Percebemos a intenção da Parques de Sintra: é necessário garantir o acesso dos visitantes aos parques em condições aceitáveis e fazer alguma coisa face aos engarrafamentos e ao estacionamento caótico, e a solução foi a que se pode encontrar dentro das competências da empresa e não mais. Mas não podíamos estar mais em desacordo com ela. Achamos que vai encorajar a deslocação automóvel à Serra. Achamos que a Estrada e a Calçada vão-se tornar, ainda mais, vias para-urbanas de circulação intensa. Achamos que a congestão vai ser alargada à Estrada dos Capuchos e à Tapada do Mouco. Achamos, aliás, que vai ser alargada à Vila Velha e a São Pedro. Achamos que as deslocações a pé vão ser dificultadas. Achamos que as Tapadas não foram integradas no património público para serem desbastadas e receberem parques de estacionamento. Achamos que tudo isto contraria as opções estratégicas do Plano de Gestão da Paisagem Cultural de Sintra. Pior, achamos que contraria o carácter e a personalidade intrínsecos deste extremo oriental de Serra. Achamos que a expectativa de uma solução integrada de mobilidade em Sintra vai ser diminuída por esta má meia-solução. Achamos que a Parques de Sintra está em posição privilegiada para pressionar a letárgica Câmara Municipal a encontrar a solução integrada que admite ser necessária e achamos que devia fazê-lo – porque se esta é a melhor solução possível para a Parques de Sintra, é uma péssima solução para Sintra.

(Sobre este assunto, ver as notícias de ontem no Público e de hoje no Alagablogue)

4 comentários:

  1. É com apreensão que vou tomando conhecimento de algumas das medidas que a P.S.M.L. vem implementando nas áreas que tem sob a sua jurisdição.
    Primeiro, foi o polémico corte das árvores com vista à erradicação das infestantes, disseram; até ao final de 2010 vamos ter, dentro do Parque da Pena na zona da Abegoaria numa área de 3 hectares um novo jardim adjacente, com uma “concepção moderna”, como “uma excepcional forma de atrair visitantes” para o qual vai ser aberto um concurso de ideias (prof.António Lamas ao Jornal da Região de 10 de Fevº. passado); agora, os parques de estacionamento.
    Além da barafunda dos automóveis vamos ter, acrescido, painéis informativos pela Estrada da Pena, luminosos, com certeza, como os dos parques de estacionamento a indicar os lugares disponíveis e onde. Já temos a poluição visual na serra quando olhamos para o Castelo dos Mouros cercado de bandeiras e eu interrogo-me para quê, o que estão a anunciar? Uma feira? Um circo?
    É verdade que a PSML tem, neste momento, as suas dívidas saldadas e é auto-suficiente financeiramente, não depende de verbas do Estado, informou o Prof. António Lamas no encontro promovido pela Alagamares em 7 de Maio passado e, por essa razão, só temos que o louvar. Mas, que preço vamos nós ter que pagar por isso? Vender, a pouco e pouco, a nossa alma ao diabo, como se costuma dizer?

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  2. Efectivamente, pouco nos importa a autonomia finaceira de uma sociedade gestora — seja lá isso o que for — se os seus proventos forem obtidos à custa da mercantilização massiva de uma área que, quando foi classificada como Património da Humanidade, não tinha parqueamentos nas tapadas, nem painéis digitais com números de lugares vagos, nem os prometidos jardins de concepção moderna — de resto, uma ideia obscena, face à degradação patente no aparentemente antiquado ou pouco atractivo Parque da Pena. As bandeiras pindéricas no Castelo dos Mouros não são nada ao pé do que aí vem...

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  3. Diz a notícia do Público:
    (...) O facto de o presidente da câmara, Fernando Seara, ter assumido na última assembleia municipal que desconhece o projecto (...)Estranho, não? Não é suposto o presidente da Câmara Municipal de Sintra ter conhecimento de projectos de parques de estacionamento na serra?

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  4. De facto, também nos parece que haverá - já está a haver - um preço a pagar pelo enriquecimento da PSML. Se a administração não for corrupta nem inoperante, os milhões ver-se-ão, necessariamente. Mas todos nós devíamos poder compreender bem o preço, ter uma palavra a dizer naquele que aceitamos como no que recusamos e ter a certeza de apenas pagarmos, tanto quanto possível, um preço justo. Face à relevância deste assunto, o desconhecimento da CM de Sintra e a nossa descoberta destes factos consumados apenas quando tropeçamos neles são sinais claros de que nada disto se está a passar.

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