


Era uma vez um bosque muito antigo de castanheiros, e o nome desse castanhal recordava uma rainha morta há muito tempo. Estava esse castanhal tão encerrado atrás de muros de pedra e de rochedos que as suas árvores se tinham tornado uma comunidade isolada, absorvida pelos seus assuntos e indiferente às agitações humanas que corriam acima e abaixo pelas estradas à volta. Castanhas germinando e castanheiros bebés, adolescentes impertinentes e adultos perfeitos, árvores envelhecidas, moribundos e cadáveres, conviviam sem as barreiras que existem noutros lugares mais profanos. Era, em suma, um lugar onde o Inverno se celebrava como se diz que deve ser celebrado, em segredo e nas horas mais nevoentas do dia.
A verdadeira porta por onde tinha de passar quem neste bosque pretendesse ser realmente recebido não era nenhum dos portões dos muros da cerca, mas sim o pórtico solene que um certo castanheiro decrépito edificara, ano após ano, à medida da deformação e da queda dos seus ramos, dourado por fetos e trepadeiras. Guardava este pórtico uma criatura rara, de pelagem semelhante ao musgo, que em tempos se disse ter sido uma beleza enfeitiçada, ou uma criatura que poderia maldizer ou abençoar os caminhantes que lhe procurassem os olhos cegos, ou colocar-lhes perguntas que os poderiam perder ou salvar, ou que era – muito improvavelmente! – um tronco morto de castanheiro.
E no que diz respeito à acção propriamente dita: numa dessas manhãs de celebração invernosa, por entre o nevoeiro, bem perto desse pórtico, à vista da cabeça chifrada de guarda, aconteceu que...
E no que diz respeito à acção propriamente dita: numa dessas manhãs de celebração invernosa, por entre o nevoeiro, bem perto desse pórtico, à vista da cabeça chifrada de guarda, aconteceu que...