Uma das candidatas favoritas ao prémio “Oportunidade Perdida de Sintra” é a casa do Alto do Sereno. A localização é das mais cenográficas, senão a mais cenográfica entre as que albergam edifícios particulares; mas a arquitectura deve ser a mais indigente das que por aqui se podem encontrar em construções comparáveis. Vê-se ao longe de muitos locais e, nessas circunstâncias, o enquadramento quase lhe permite fazer boa figura. No entanto, até há pouco tempo, era muito difícil ter uma boa visão de perto, coisa que não era de lamentar.
Há cinquenta anos, a Monografia de Mário de Azevedo Gomes tinha outra opinião: «...cabe fazer referência a esta construção acastelada, de data relativamente recente, mas que vai adquirindo rapidamente com a acção da intempérie aspecto vetusto, nada destoante. Claro que para isso concorre o estilo da própria construção, que (rara felicidade) se enquadra com bastante propriedade no tipo das mais antigas construções... Falecido o construtor, a propriedade inacabada está hoje em mãos de outrem...».
Será que a sua conclusão lhe piorou a aparência? Para nós, em qualquer caso, deverá dizer-se o que Verdi terá dito da sua ópera Alzira (outro caso de deslize numa constelação de obras primas): «Quella è proprio bruta».
Envolve esta casa o Pinhal do Sereno, uma das tapadas públicas de Sintra, logo à saída de São Pedro, encostada à Calçada da Pena. Há alguns meses a vegetação densa que aqui existia foi aparatosamente cortada e revelou uma encosta pouco atraente: um pinhal mais ou menos esquálido, retorcido pelos ventos de noroeste, entremeado por uns poucos carvalhos diminutos. Mas a grande surpresa foi a aparição lúgubre e desolada da casa do Alto do Sereno a poucos metros da Calçada, no lugar onde antes tão bem estava escondida. Olhando para cima lembramo-nos do Bates Motel e esperamos que atrás daquela sinistra janela do primeiro andar se balance na sua cadeira o cadáver embalsamado da mãe de Anthony Perkins, ou que ele próprio desça a ravina a voar direito a nós, de peruca grisalha e faca na mão.
Será que a sua conclusão lhe piorou a aparência? Para nós, em qualquer caso, deverá dizer-se o que Verdi terá dito da sua ópera Alzira (outro caso de deslize numa constelação de obras primas): «Quella è proprio bruta».
Envolve esta casa o Pinhal do Sereno, uma das tapadas públicas de Sintra, logo à saída de São Pedro, encostada à Calçada da Pena. Há alguns meses a vegetação densa que aqui existia foi aparatosamente cortada e revelou uma encosta pouco atraente: um pinhal mais ou menos esquálido, retorcido pelos ventos de noroeste, entremeado por uns poucos carvalhos diminutos. Mas a grande surpresa foi a aparição lúgubre e desolada da casa do Alto do Sereno a poucos metros da Calçada, no lugar onde antes tão bem estava escondida. Olhando para cima lembramo-nos do Bates Motel e esperamos que atrás daquela sinistra janela do primeiro andar se balance na sua cadeira o cadáver embalsamado da mãe de Anthony Perkins, ou que ele próprio desça a ravina a voar direito a nós, de peruca grisalha e faca na mão.
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