Recebemos de Berlim uma pequena história da Bauhaus, em banda desenhada, que a Berlim queremos agradecer. É também um bom pretexto para voltar a vaguear pela deslumbrante arborização pública dessa cidade. Há ligações fortes entre a Bauhaus e o urbanismo alemão da República de Weimar, que produziu admiráveis fragmentos de cidade. Entre estes, gostaríamos de olhar um pouco para um dos bairros berlinenses mais notáveis: Onkel Toms Hütte.
No documentário “As Operações SAAL”, dedicado a este programa público de habitação influente mas de curta duração, lançado no verão extraordinário de 1974, é-nos contado um episódio divertido. Para justificar, aos seus futuros habitantes um tanto desconfiados, a cor forte combinada com branco escolhida para pintar as fachadas do Bairro da Bouça, no Porto, o arquitecto Siza Vieira declarou que se tratava de uma homenagem a Bruno Taut, um arquitecto alemão celebrizado na República de Weimar mas praticamente desconhecido em Portugal. Tempos mais tarde, numa visita de funcionários municipais hostis ao programa SAAL, houve comentários demolidores e expressões de desprezo e sobranceria face à cor e à sua utilização nos edifícios. Então, um habitante, provável antigo morador de uma barraca, terá explicado com superioridade erudita aos medíocres funcionários: «É uma homenagem ao arquitecto Bruno Taut!»
Bruno Taut, com Hugo Häring e Otto Rudolf Salvisberg, é autor do Waldsiedlung Onkel Toms Hütte – literalmente, um “bairro florestal”, construído no lugar de uma floresta, no sudoeste de Berlim, entre 1926 e 1932. Já então não era bem-vindo o avanço da cidade sobre a floresta, e estes urbanistas procuraram manter a máxima cobertura arbórea existente – pinheiros, em grande parte – complementando-a generosamente ao ponto de hoje, vistas do ar, as bandas de três pisos mostrarem as próprias coberturas meio submersas nas copas: a floresta parece triunfar sobre a edificação. No centro do bairro a estação de metro (canto inferior esquerdo na fotografia aérea), tornando-o, como aliás toda a cidade, bastante imune à automóvel-dependência.
O Waldsiedlung distingue-se pela qualidade do desenho urbano e arquitectónico, mas é a arborização que, para nós, é extraordinária: ao contrário do desenho superlativo, este tipo de abundância verde não tem paralelo no nosso país. As próprias políticas urbanas de Berlim a tal conduzem – por exemplo, operações urbanísticas que impliquem corte de árvores têm por obrigação garantir novas plantações, em local adequado, do triplo dos exemplares derrubados. Assim, estas imagens que para nós são tão exóticas não passam de retratos comuns de tantos outros folhosos bairros berlinenses que já aqui invejámos, como invejamos essa cultura urbana tão incondicionalmente amante das suas árvores.
No documentário “As Operações SAAL”, dedicado a este programa público de habitação influente mas de curta duração, lançado no verão extraordinário de 1974, é-nos contado um episódio divertido. Para justificar, aos seus futuros habitantes um tanto desconfiados, a cor forte combinada com branco escolhida para pintar as fachadas do Bairro da Bouça, no Porto, o arquitecto Siza Vieira declarou que se tratava de uma homenagem a Bruno Taut, um arquitecto alemão celebrizado na República de Weimar mas praticamente desconhecido em Portugal. Tempos mais tarde, numa visita de funcionários municipais hostis ao programa SAAL, houve comentários demolidores e expressões de desprezo e sobranceria face à cor e à sua utilização nos edifícios. Então, um habitante, provável antigo morador de uma barraca, terá explicado com superioridade erudita aos medíocres funcionários: «É uma homenagem ao arquitecto Bruno Taut!»
Bruno Taut, com Hugo Häring e Otto Rudolf Salvisberg, é autor do Waldsiedlung Onkel Toms Hütte – literalmente, um “bairro florestal”, construído no lugar de uma floresta, no sudoeste de Berlim, entre 1926 e 1932. Já então não era bem-vindo o avanço da cidade sobre a floresta, e estes urbanistas procuraram manter a máxima cobertura arbórea existente – pinheiros, em grande parte – complementando-a generosamente ao ponto de hoje, vistas do ar, as bandas de três pisos mostrarem as próprias coberturas meio submersas nas copas: a floresta parece triunfar sobre a edificação. No centro do bairro a estação de metro (canto inferior esquerdo na fotografia aérea), tornando-o, como aliás toda a cidade, bastante imune à automóvel-dependência.
O Waldsiedlung distingue-se pela qualidade do desenho urbano e arquitectónico, mas é a arborização que, para nós, é extraordinária: ao contrário do desenho superlativo, este tipo de abundância verde não tem paralelo no nosso país. As próprias políticas urbanas de Berlim a tal conduzem – por exemplo, operações urbanísticas que impliquem corte de árvores têm por obrigação garantir novas plantações, em local adequado, do triplo dos exemplares derrubados. Assim, estas imagens que para nós são tão exóticas não passam de retratos comuns de tantos outros folhosos bairros berlinenses que já aqui invejámos, como invejamos essa cultura urbana tão incondicionalmente amante das suas árvores.
:-)
ResponderEliminarPasso a vida a contar esta história: quando a cidade começou a crescer a um ritmo alucinante, ali pela mudança do século, cresceu assim: primeiro plantavam as árvores, depois construíam as casas. Eu moro numa dessas ruas, no quarto andar (ou seja: quinto) de uma casa com pés-direitos altíssimos. Quase um arranha-céus, portanto. Vejo aqui árvores por cima dos telhados das casas vizinhas.
Tem desvantagens: as casas têm pouca luz.
E vantagens: a gente olha pela janela, no centro da cidade, e só vê árvores; e no verão as ruas são muito agradáveis, porque se passeia sempre à sombra.
No ano passado, 4 ou 5 complexos de - à época da construção - habitação social em Berlim foram nomeados património mundial da UNESCO. Mais cinco razões para vir a Berlim. Esta Onkel Toms Hütte (será uma gracinha com "a cabana do pai Tomás"?) é uma delas.
E em Westend há um bairro que faria as delícias deste blogue: as ruas têm nomes de árvores, e as propriamente ditas! Alameda dos castanheiros, rua dos plátanos, rua das acácias, etc.
Um de nós alugou um quarto em Berlim durante um mês, há uns dez anos, na Günzelstraße, virado para um pátio interior inteiramente ocupado por uma árvore enorme. É verdade que há menos luz – no verão, porque no inverno a árvore estaria despida – mas que conforto de vista, para a folhagem em vez de para outras janelas! Claro que os mais coscuvilheiros terão uma opinião diferente.
ResponderEliminarO nome do bairro vem mesmo da “Cabana do Pai Tomás”. Parece que ali ao lado existiu um restaurante de um tal Thomas, que o baptizou assim
( há uma fotografia da época em
http://www.heimatsammlung.de/topo_unter/10/grunewald/images_01/onkel-tom-grunewald-156.jpg).
E esse bairro em Westend é promissor, temos de investigar...
Proposta de passeio:
ResponderEliminarhttp://maps.google.de/maps?sourceid=navclient&hl=de&rlz=1T4GGLD_deDE309DE309&q=ahornallee%20berlin&um=1&ie=UTF-8&sa=N&tab=wl