segunda-feira, 20 de julho de 2009

Clima de Sintra

Tarde de verão tradicional: a Pena vista do Miradouro da Vigia


Afirmar que se adora Sintra acrescentando que em Sintra se adoraria viver não fosse pelo clima é uma declaração de amor disparatada – como adorar leite-creme não fosse o açúcar queimado, ou adorar ir ao cinema não fosse ter medo do escuro. Não é maneira de se adorar cinema, nem leite-creme, nem Sintra. No entanto, sintrenses que contactem habitualmente com não-sintrenses sabem da semi-ignorância a respeito deste clima em que até os nossos vizinhos próximos vagueiam.

Que sintrense não ouviu já, num dia de frio intenso de inverno, um lisboeta-central tiritante procurar consolá-lo do enregelamento radical em que imagina que nós passamos os nossos invernos? E que sintrense não conhece o olhar desconfiado com que lhe ripostam, quando garantimos que no tempo mais frio não há grandes diferenças entre os termómetros de lá e cá? E depois, o olhar incrédulo-invejoso de quando afirmamos que tardes sufocantes de 36 graus no Chiado são geralmente (como hoje) tardes amenas de 27 ao cruzar o Ramalhão e descer de Chão de Meninos?

Sim, o nosso pacote de verão inclui ar atlântico em quase permanência e nuvens recorrentes sobre a Serra, aí humedecendo as tardes. Com o inverno suave e a chuva anual – essa sim, bem acima da caída em volta do estuário – permite-se que viva e prospere a nossa fabulosa vegetação. Junto a uma primavera que não gosta de se apressar e a um outono que não gosta de se atrasar, admitimos que não é clima para todos os gostos. Mas não há maneira de conceber uma Sintra que se possa amar separada do seu clima particular.

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