sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Pena do outro lado do espelho

Imagem em culture.gouv.fr

Em 1897, com 44 anos, o conde Henri de Lestrange visitou Portugal e fotografou a Pena. Com a mesma idade mas 112 anos mais tarde, encontrámos nós a sua fotografia pesquisando “Sintra” na Europeana. Durante algum tempo olhámo-la desorientados, procurando na memória um local onde pudesse ter sido captada. Após alguns círculos mentais em torno do Palácio, tornou-se evidente que era uma imagem impossível e, com uma simples inversão, conseguimos a magia de a trazer para o lado de cá do espelho, tornando-a reconhecível e quase familiar [curiosidade de Crécy-la-Chapelle: a inversão das imagens deste fotógrafo parece ser recorrente].

Vista da Estrada da Pena em 1897

Vista da Estrada da Pena em 2009, no inverno

Vista da Estrada da Pena em 2009, no verão

Quase familiar, porque o mesmo ponto de vista em 2009 revela uma transformação profunda. O Palácio é o mesmo – afirmamos nós, mas essa conclusão não pode retirar-se da mera comparação das fotografias, já que a arborização local se alterou radicalmente e deixou de permitir ver o alto da Serra. Em 1897 a Pena sobrevoava um primeiro plano de pinhal denso e jovem. Hoje são raros e dispersos os descendentes desses pinheiros. Em seu lugar, cerram a vista plátanos legítimos e bastardos, carvalhos, castanheiros e mais carvalhos.

1897 fica bem em fotografia e tem o encanto melancólico das paisagens desaparecidas, mas preferimos a penumbra verde de 2009. Cruzamos os dedos para que ninguém se lembre de abrir mais uma vista monumental e despida, à custa deste troço de bosque encantado. E não era bom que a estepe que agora ladeia a Estrada dos Capuchos fosse reflorestada e, daqui a 112 anos, também se apresentasse assim aos nossos trisnetos de 44, frondosa e sintrense de novo?

2 comentários:

  1. Estive a agora a ver que as outras fotos sobre Sintra deste autor disponíveis na Europeana foram obtidas pelo mesmo processo.

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  2. Tem toda a razão, não tinhamos olhado com atenção para as fotografias da Vila, mas estão todas invertidas. Parece ser um defeito de origem da disponibilização deste espólio, talvez da responsabilidade do organismo francês.

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